O vício em analgésico pode ter o seu começo quando um paciente é diagnosticado com alguma doença que cause dor. Quando esse paciente se encaminha para o médico, o mesmo lhe receita medicamentos que aliviam a dor. Mas, muitas vezes, a maioria desses pacientes não continua o acompanhamento médico e segue usando o medicamento, podendo fazer com que o remédio perca efeito. Quando esse analgésico vai enfraquecendo e o paciente não retorna ao profissional da saúde, a pessoa começa a aumentar a dose do remédio, podendo causar um vício. Já que o corpo condiciona-se a receber aquela substância química, que tem um efeito viciante.
O uso de medicamentos para dor a longo prazo pode levar à dependência. O corpo se adapta à presença da substância e se alguém parar de tomar a droga repentinamente, ocorrem sintomas de abstinência. Também o corpo desenvolve uma tolerância à droga. E para alcançar os mesmos efeitos, têm de ser tomadas doses maiores.
Os analgésicos muitas vezes servem para aliviar sintomas, mas, muitos acreditam que pode ser a cura para sua doença, acabando por usá-lo sem controle. Sendo assim, tomar esses remédios sem monitoramento pode levar ao vício.
O que é vício em analgésico?
Os analgésicos são medicamentos muito utilizados para a dor, o que muitos não sabem é que ele também é capaz de gerar a dependência química.
Sendo assim, o vício nesse tipo de substância se mostra através das compulsões e obsessões que é manifestada no paciente. Com isso, dois fenômenos principais acabam por se manifestar como a tolerância e a abstinência.
A tolerância é quando o corpo se acostuma com determinada substância e é preciso uma quantidade cada vez maior para gerar os mesmos efeitos que antes eram conseguidos com o uso de menos substâncias.
Já a abstinência, ou síndrome de abstinência, é manifestada quando a pessoa permanece certo período de tempo longe da substância. E, por não a estar consumindo, passa a desenvolver sinais e sintomas desagradáveis, que estão ligados com a sua falta de consumo.
Sendo assim, o vício em remédio para dor se caracteriza pela dependência que este tipo de medicamento causa, e tem relação com o alívio inicial da dor que é sentida pelo paciente.
O que leva ao vício em analgésico?
Geralmente, o vício em analgésicos acontece quando o médico receita para o paciente, uma certa dosagem desse tipo de substância. O que acontece é que esse paciente acaba por não voltar ao médico com o aumento de suas dores, e encontra como solução mais rápida, se acrescentar mais dosagens do remédio. Quanto mais se aumentam as doses, menos o paciente vai sentir os efeitos deste tipo de medicamento.
Quanto mais o tempo passa, mas o corpo continua pedindo mais doses. E um remédio receitado para mascarar a dor acaba virando uma substância que gera dependência, por falta do controle de dosagem do paciente.
Quais os sintomas do vício em analgésico?
O vício em analgésico pode apresentar sintomas que são facilmente notados. Eles podem se apresentar a curto prazo e a longo prazo até ser o resultado de uma overdose, e apresentar a abstinência.
A curto prazo
Os opiáceos são medicamentos com efeitos analgésicos e sedativos potentes, fazendo com que as pessoas fiquem sonolentas e quietas, também podendo provocar euforia.
Seus efeitos incluem:
- Constipação;
- Náusea e vômito;
- Rubor facial;
- Prurido;
- Confusão (especialmente em pessoas idosas).
Alguns produtos resultantes da decomposição do opiáceo meperidina podem provocar convulsões.
A longo prazo
Em longo prazo os analgésicos não costumam provocar complicações, além da dependência. Algumas pessoas podem apresentar constipação, sonolência, redução da libido e sudorese excessiva.
Overdose
Usar muito analgésico de uma única vez pode ser letal. A respiração fica lenta e superficial chegando a ser perigoso, onde os pulmões podem parar de funcionar. Os pulmões podem ficar cheios de líquido. A pressão arterial, a frequência cardíaca e a temperatura do corpo podem diminuir, e as pupilas podem se retrair.
A combinação de opiáceos com álcool ou outros sedativos é uma prática potencialmente letal, trazendo grande risco à saúde do paciente.
Abstinência
A abstinência dos opiáceos causa variados transtornos para o paciente.Os sintomas podem surgir dentro de quatro horas depois da interrupção do uso do medicamento, na sua maioria alcança seu auge ou ponto máximo depois de 72 horas.
Normalmente, esses sintomas desaparecem depois de cerca de uma semana, mas, isso pode variar consideravelmente, dependendo de qual medicamento é usado.
Os sintomas de abstinência são piores nas pessoas que usaram doses altas por um longo tempo. De primeiro efeito, a pessoa se sente ansiosa e anseia pela droga. A respiração se torna rápida. Normalmente acompanhada de bocejo, transpiração, olhos lacrimejantes, corrimento nasal, pupilas dilatadas e cólicas estomacais. Logo depois, o paciente pode ficar hiperativo e agitado e ter seu estado de alerta aumentado.
Como é feito o diagnóstico de vício em analgésico?
O diagnóstico é feito através de uma consulta do paciente com um médico, que irá avaliar o quanto aquele medicamento está afetando a vida do paciente, e o quão dependente ele se encontra.
Sendo assim, o paciente também irá passar por uma avaliação psicológica onde o intuito é descobrir a origem desse vício em analgésicos, monitorando seus sintomas, comportamentos, seu estado mental, entre outros. Com toda a análise feita, se tem o diagnóstico e pode-se passar para a etapa seguinte, que é o tratamento.
Qual tratamento pra quem tem vício em analgésico?
Existem muitas opções de tratamento, porém, a forma mais indicada para tratamento inicial para o vício em medicamentos é a desintoxicação hospitalar seguida pela reabilitação. Os centros de reabilitação de pacientes internados têm programas especializados para indivíduos que sofrem desse tipo de transtorno por uso de substâncias. Esses programas ajudam os pacientes a se conhecer e entender sua condição e para descobrir a causa raiz de seu uso de drogas. Saber o que os levou a usar substâncias químicas como álcool, drogas e remédios, o ajudará a prevenir futuros gatilhos durante a sua recuperação.
Terapia
Dentre os tratamentos terapeutas, temos:
- Grupo de apoio: Nesses grupos existe a troca de experiências entre pessoas com uma condição ou objetivo similar, como ansiedade ou esquizofrenia. Neste grupo o terapeuta trabalha com pacientes em grupo, em vez de sessões individuais. Pode ser uma boa alternativa para desabar sobre as dores de quem lida diariamente com a depressão, por exemplo.
- Terapia Cognitiva: Se dedica a substituir pensamentos negativos e distorcidos por pensamentos positivos e precisos.
- Psicoeducação: Se promove aprendizado sobre saúde mental que também serve para apoiar, valorizar e dar autonomia aos pacientes, de forma que possam conviver com a depressão.
- Terapia Familiar: Consiste em aconselhamento psicológico o qual permite que as famílias resolvam seus problemas e aprendam a lidar com a situação difícil pela qual o paciente depressivo, por exemplo, se encontra.
- Terapia Comportamental: focada na modificação de comportamentos prejudiciais associados a um distúrbio psiquiátrico, como a depressão.
Medicamento
Depois de passar pela desintoxicação, o paciente poderá começar a se utilizar de medicamentos em seu tratamento, para reparar os danos da substância anterior. Além dos medicamentos receitados pelos psiquiatras como por exemplo, antipsicóticos, e ansiolíticos em casos que apresentem essa necessidade.
Internação
A internação é um meio bastante eficaz pois é um tratamento com o objetivo de o paciente ser monitorado por uma grande equipe multidisciplinar. Com isso, ele terá acesso a grupos de apoio, terapias, interação com os outros pacientes, o que pode ajudar em sua melhora. A equipe irá trabalhar para que o paciente se conscientize dos danos ocasionados pelas substâncias, e possa construir um novo estilo de vida, longe do consumo excessivo desses tipos de medicamentos.
Voluntária
A internação voluntária, acontece quando o paciente reconhece que está em um estado de dependência e procura auxílio por conta própria. Gerando menos desgaste emocional para si e para todos aqueles que o amam. Ao se internar por vontade própria, ele já começa seu processo de recuperação.
Compulsória
A internação compulsória, se trata de uma internação decorrente de uma ordem judicial. Sendo assim, a Justiça determina esse tipo de internação, quando o paciente representa um risco para a sociedade.
Qual a importância de ajuda especializada?
Se faz necessário devido à complexidade da dependência química. Além disso, existem vários tipos de dependências, podendo variar de paciente para paciente. Com a ajuda especializada o paciente terá acesso a uma intervenção que corresponde à sua realidade, podendo ter mais sucesso em sua recuperação.
Alternativas para o uso de analgésicos e manejo da dor
Em muitas situações o uso de analgésicos é a primeira coisa que vem à mente de uma pessoa que está sofrendo com algum tipo de dor. Contudo, outras alternativas podem ser utilizadas para o manejo dessa sensação, por exemplo, as técnicas da terapia cognitivo-comportamental que ajudam a reduzir a dor e o sofrimento dos pacientes.
Além disso, existem propostas terapêuticas alternativas que trazem grandes contribuições para o manejo da dor, entre elas temos: as técnicas de relaxamento, massagens. acupuntura, uma dieta equilibrada e rica em nutrientes que pode ajudar a controlar alguns tipos de dor e a realização de atividade que liberam endorfina no corpo.
Relação entre vício em analgésicos e transtornos mentais coexistentes
Os transtornos mentais podem estar por trás do uso descontrolado de analgésicos, assim como podem ser desencadeados pela adicção nesse tipo de medicamento. Algumas pessoas podem fazer uso dessas substâncias numa tentativa de diminuir a dor psíquica que estão sofrendo.
Além disso, quadros como os transtornos ansiosos e a depressão podem provocar dor física que em alguns casos são confundidas com patologias orgânicas e os analgésicos passam a ser utilizados de modo mais intenso.
Vale ressaltar também que o uso de analgésicos pode provocar alterações de humor e outros sintomas característicos dos transtornos psiquiátricos, agravando quadros pré-existentes ou auxiliando no desenvolvimento de novos.
A importância do suporte contínuo pós-tratamento do vício em analgésicos
O processo de tratamento do vício em analgésicos é muito importante, contudo, as pessoas também devem estar atentas à importância de dar continuidade às estratégias terapêuticas mesmo após a superação do período mais crítico do processo.
Participar das reuniões promovidas pelos grupos de apoio, a continuidade da psicoterapia, o desenvolvimento de habilidades emocionais e estar presente em um ambiente saudável são aspectos importantes após a conclusão do tratamento para o controle da adicção.
Todas essas estratégias são importantes para evitar recaídas.
Conclusão
O vício em analgésico é muito mais recorrente em nossa sociedade do que imaginamos. O ato de se automedicar pode levar a esse fim, assim como a negligência e a desistência de procurar um profissional de saúde.
Tais medicamentos, se usados sem monitoramento, podem causar uma dependência química, a qual pode fazer com que o paciente entre em estado de sofrimento psíquico, podendo gerar riscos.
Para prevenir esse vício, é importante procurar ajuda quando o remédio que se usufrui não estiver mais gerando seus efeitos. É no tratamento que o paciente encontra uma oportunidade para mudar sua vida e construir um novo caminho. É no tratamento que o paciente pode encontrar grupos de apoio, e terapias que o ajudem a conseguir resolver suas angústias e também a se recuperar do vício em analgésicos.
Clinica Hospitalar Recanto – Clinica de Reabilitação
Fabrício Selbman é Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento, e também é:
- Formado em marketing e pós-graduado em gestão empresarial;
- Especialista em Dependência Química pela UNIFESP. Especialização na Europa sobre o modelo de tratamento Terapia Racional Emotiva (TRE);
- Psicanalista pela Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Professor de Especialização na Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento.