A dependência química é uma doença crônica que afeta diversas áreas da vida do indivíduo, o atingindo em uma dimensão biopsicossocial.
A aceitação e a motivação do paciente ao tratamento são de fundamental importância, porém, na dependência química esse processo apresenta grandes desafios.
De acordo com o modelo de Prochaska e Di Clemente, há uma matriz motivacional que busca compreender o estado de abertura e motivação para a mudança do Dependente Químico.
Portanto, vamos conhecer os estágios de motivação, conceitos e práticas desenvolvidas para evolução no tratamento em nossos Centros de Recuperação.
Estágio de Pré-Contemplação
Aqui o dependente químico possui uma resistência a mudança, pois não entende os seus comportamentos e atitudes como sendo um problema relevante.
O adicto recusa a ideia de que ele está com problemas e considera a preocupação das pessoas algo exagerado, pois para ele não existe nada com o que se preocupar.
Na pré-contemplação o indivíduo acredita que não existe uma motivação para a sua aceitação em mudar de comportamento e atitude.
Esta etapa é marcada pela negação ao problema enfrentado, sendo assim, nesse estágio são utilizados métodos para fazer o dependente se conscientizar sobre a sua doença e possíveis formas de tratamento.
Neste estágio o Dependente Químico não contempla a mudança de hábito e de vida.
É na verdade o início da recuperação, onde trabalhamos a desintoxicação, a remoção de barreiras e resistências e a crise de abstinência.
Através das anamneses médicas, conhecemos o paciente para assim desenvolvermos um trabalho de integração ao grupo e discussão dos conceitos de doença, perda de domínio, impotência, inabilidade, inadequação, egocentrismo e mecanismos de defesa.
Além disso, abordamos o uso de álcool e drogas relacionando-os com os prejuízos causados.
Tudo isso para começar a gerar a motivação do dependente químico em recomeçar.
Contemplação
O dependente começa a tomar consciência de que tem problemas com o consumo de drogas, entretanto, ele não se mobiliza na mudança de comportamento e atitude.
Ele está constantemente a procura de argumentos para defender seus atos, negando os obstáculos enfrentados.
Apesar de começar a acreditar em prováveis mudanças, ainda se encontra em dúvida e sente-se inseguro, podendo esses sentimentos o fazer desistir, pois existe certa indecisão a respeito da possibilidade de mudança.
Neste momento o indivíduo já começa uma relação com a instituição e o programa, considerando uma mudança e contribuição para a sua recuperação.
Aqui, o residente irá entender a conexão entre seus comportamentos e problemas e os custos e benefícios de parar de usar a tal substância.
Além disso, a equipe precisa tratar da ambivalência do residente, favorecendo o aumento de sua crítica e a conscientização de suas falências e prejuízos, para que ele entenda seus pensamentos destrutivos e se engaje na mudança para vencer esses sentimentos conflituosos.
Preparação
A pessoa começa a despertar e ver de modo mais claro seus problemas e prejuízos causados pelo uso de drogas e como a aceitação e mudança de comportamento podem fazer ele sair dessa situação.
O indivíduo pensa em como certas atitudes podem auxiliá-lo em sua recuperação, e começa sua preparação para dar início a mudança.
Se dá no momento em que o residente busca a ajuda da nossa equipe multidisciplinar e começa a ter uma reflexão sobre si mesmo, buscando a motivação e passando a ter uma relação saudável com a fé e o tratamento, começando a enxergar uma vida sem drogas e passando a ter a capacidade crítica, para perceber a relação entre comportamentos, atitudes e a abstinência da droga.
Ação
No estágio da ação a pessoa começa a pôr em prática de fato as mudanças em seus comportamentos e atitudes considerados problemas.
Nessa fase, o indivíduo terá que se dedicar e ter muita motivação, sendo as mudanças desse estágio mais visíveis.
Nesse período é necessário que haja muito compromisso, perseverança e disciplina para que as ações sejam realizadas de modo eficaz para se alcançar os objetivos esperados.
Deste modo, a pessoa dá início as modificações em sua vida e passa a enfrentar seus medos e lutar contra os comportamentos problema.
Chegou a hora de o Dependente Químico se munir de ferramentas para colocar em prática a sua recuperação e buscar para si a ação positiva que elevará sua motivação.
É preciso aprofundar o autoconhecimento, reconhecer e confessar suas falhas, intensificar seu autoconhecimento, tratar sua vida sexual, relacionamentos afetivos, sociais e sua relação direta com dinheiro e bens materiais.
Portanto, espera-se que o residente evite comportamentos de risco, buscando sua autoeficácia, autorrespeito e adquira uma visão realística da mudança, corrigindo expectativas em relação à sua recuperação.
Manutenção
Este estágio é o que possui maiores desafios para o dependente químico, pois a manutenção possibilita conferir se os comportamentos e ações da fase anterior de fato levaram o indivíduo ao processo de mudança.
É um estágio de muitos desafios, porque exige um esforço contínuo da pessoa para que não tenha recaída e assim, possa prosseguir em virtude dos resultados esperados.
A manutenção é uma fase difícil, mas, muito importante no tratamento da dependência química, pois requer do indivíduo muita disciplina para se evitar recaídas.
Neste ponto ocorre a ressocialização, onde o residente irá usar as ferramentas conhecidas durante o período de tratamento para aplicar na sua vida cotidiana e assim aumentar sua motivação.
O paciente precisa ter informações sobre atividades como: Prevenção de recaídas com aprendizagem de habilidades, fazer seu planejamento pós-internação na clínica de reabilitação, com metas a curto, médio e longo prazo.
Além disso, há uma preparação de planos de emergência para saber lidar com o desemprego, perdas, separação, e como agir frente à possibilidade de usar drogas.
Assim ele irá buscar manter sua tão sonhada e recentemente alcançada recuperação.
Conclusão
Na dependência química existem estágios de motivação no tratamento do indivíduo para a sua aceitação e mudança de comportamentos considerados problema.
Existem cinco estágios que ocorrem nesse processo que são a Pré-Contemplação, Contemplação, Preparação, Ação e a Manutenção.
Nos estágios de tratamento são encontrados muitos desafios pelo dependente químico, mas que, podem ser superados com os cuidados, acolhimento e atividades práticas feitas pelos residentes durante o seu tratamento, que são fundamentais nesse processo, para que haja resultados satisfatórios.
Em nossos centros de recuperação o indivíduo encontra o suporte necessário e ajuda especializada para passar por esses estágios e evoluir em seu tratamento.
Fabrício Selbman é Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento, e também é:
- Formado em marketing e pós-graduado em gestão empresarial;
- Especialista em Dependência Química pela UNIFESP. Especialização na Europa sobre o modelo de tratamento Terapia Racional Emotiva (TRE);
- Psicanalista pela Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Professor de Especialização na Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento.