Quando pensamos em transtornos depressivos, logo imaginamos que estamos falando apenas de depressão.
Porém, há muito mais sobre os transtornos depressivos do que apenas a depressão como conhecemos, um exemplo disso é o transtorno depressivo persistente.
Continue comigo nesta leitura!
Tipos de Transtorno Depressivo
Segundo o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5° edição), existem 8 tipos catalogados de transtornos depressivos.
Divididos em:
- Transtorno depressivo maior;
- Transtorno depressivo persistente;
- Transtorno disruptivo de desregulação de humor;
- Transtorno afetivo sazonal;
- Depressão pós-parto;
- Desordem disfórica pré-menstrual;
- Transtorno bipolar;
- Depressão psicótica.
Assim as mais de 300 milhões de pessoas diagnosticadas com depressão no mundo se alocam nas categorias acima, sendo o transtorno depressivo persistente que iremos tratar hoje.
O que é o transtorno depressivo persistente (Distimia)?
O transtorno depressivo persistente também é conhecido pelo nome de distimia, sendo muito parecido com uma forma de depressão leve, porém distinta por sua persistência e intensidade.
A pessoa frequentemente se encontra mal-humorada, tende a ver as coisas somente pelo lado negativo, aparenta estar sempre com sono ou com falta de sono em excesso, de modo que a duração de seus sintomas pode chegar facilmente a 2 anos.
Pacientes com esse transtorno dificilmente entendem sozinhos que estão em um estado de humor deprimido.
Por isso, é confundido muitas vezes com o tipo de personalidade e forma de comportamento da pessoa.
Segundo a ABRATA (Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de transtornos afetivos) de 5 a 11 milhões de brasileiros sofrem com esse tipo de transtorno mental.
Ou seja, estamos falando de uma doença séria!
Quais são os sintomas do transtorno depressivo persistente?
Segundo o DSM-5 para ser considerado transtorno depressivo persistente é preciso manifestar humor melancólico por pelo menos 2 anos.
E pode vir acompanhado de outros sintomas como: Desânimo, Angústia, Tristeza; Queda na concentração; Isolamento social; Sentimento de culpa excessivo e constante; Pessimismo sobre a vida, dificuldade de realizar tarefas do dia a dia.
No transtorno depressivo maior, ou a depressão que falamos no senso comum, possui um maior leque de sintomas e sua intensidade também é maior.
Na distimia, os sintomas são menos intensos e menos incapacitantes na vida da pessoa, permitindo que a pessoa consiga conciliar algumas áreas de sua vida por um tempo, ainda que os sintomas persistam por um maior tempo.
Assim como o transtorno depressivo maior, no transtorno depressivo persistente há possibilidade de surgirem comorbidades, assim aumentando os sintomas por estarem acontecendo duas ou mais doenças ao mesmo tempo.
Distimia e ciclotimia: Diferenças
Na ciclotimia ocorre a alternância entre estados de humor eufórico e humor deprimido, que acontecem de forma rápida e súbita.
Apesar de se assemelhar ao transtorno bipolar, sua intensidade nas oscilações de humor e as crises que são proporcionadas são em escala menor.
Já a distimia, ou o transtorno depressivo persistente, consiste num humor depressivo e melancólico que perdura por um tempo maior.
Apesar de ambos serem transtornos de humor, a ciclotimia se assemelha muito mais a um transtorno bipolar do que a uma distimia.
Tanto que há uma chance muito maior de uma pessoa portadora de ciclotimia ser diagnosticada com transtorno bipolar do que uma pessoa portadora de outro transtorno.
Na ciclotimia da mesma forma em que a pessoa se sente desanimada e sem vontade de realizar certas coisas como na distimia, o portador pode entrar numa fase de hipomania.
Essa fase é caracterizada por sentimentos de alegria, prazer e bem-estar, na mesma medida que pode trazer irritabilidade e sentimento de ser imbatível.
Como esse transtorno afeta a qualidade de vida?
O transtorno depressivo persistente afeta a vida da pessoa de diversas formas.
A qualidade de vida fica comprometida, apesar da intensidade mais leve dos sintomas, ainda assim a vida sofre os impactos da doença.
Imagine passar quase todo o tempo com um humor depressivo, com predomínio da angústia e melancolia.
A pessoa passa a se tornar alguém mal-humorado e que não consegue se satisfazer com as mínimas atividades diárias.
Inclusive coisas que a pessoa costuma gostar, podem se tornar desanimadoras rapidamente.
De modo que ainda que o indivíduo realiza suas atividades e desenvolve bem em algumas áreas, mas acabam demandando mais esforço do que deveria.
O isolamento social e o pessimismo sobre a vida são sintomas do transtorno e podem fazer com que a pessoa não aproveite bem os eventos sociais, prejudicando também os laços já formados e o planejamento para vida.
Simplesmente a pessoa terá o sentimento de estagnação, quando fazer o que já realizava antes se torna algo custoso e não tem energia nem ânimo para realizar coisas novas.
Lentamente, a pessoa se tornará mais irritável, isolada e com pensamentos ruins sobre a vida e os acontecimentos dela, fazendo-a considerar que sempre foi assim, como esse tipo de pensamento e comportamento.
Como é feito o diagnóstico de distimia?
Para ser caracterizado como distimia é preciso que se mantenha o estado de humor depressivo e melancólico pelo mínimo de 2 anos.
Atentando para os sintomas citados anteriormente, o médico no domínio clínico olhará também se há histórico familiar que envolva transtorno depressivo e realizará o diagnóstico diferencial com a depressão.
Não é necessariamente um diagnóstico fácil, já que a doença se assemelha muito a uma depressão leve.
Muitos pacientes com esse transtorno podem vir a episódios de outros problemas depressivos, principalmente depressão grave.
Além disso, o fato que a própria pessoa dificilmente se dá conta de que está com o problema dificulta a busca por ajuda, bem como a aceitação do problema também é dificultada.
O transtorno depressivo persistente tem cura?
O transtorno depressivo persistente, ou distimia, se tratado corretamente, pode alcançar a remissão total dos sintomas e a pessoa voltar a viver sem o peso que antes carregava, mediante ajuda de um médico psiquiatra e de um psicólogo.
Porém, o conceito de cura em relação aos transtornos mentais é diferente do que é para outras doenças, pois são doenças crônicas e podem vir a retornar no futuro caso a pessoa não tome os cuidados necessários.
Contudo quando bem tratado dificilmente retornará e se vier a acontecer é comum que retorne de maneira mais branda e enfraquecida.
Como tratar a distimia?
A principal forma de tratamento para distimia são as sessões de psicoterapia, que ajudam a entender as raízes do transtorno, bem como controlar as manifestações de seus sintomas.
Também ajuda no desenvolvimento da inteligência emocional e na reformulação dos pensamentos negativistas e pessimistas para pensamentos de cunho mais realístico.
Em casos específicos pode vir a ser necessário também o auxílio de medicamentos antidepressivos, que em hipótese alguma devem ser usados sem a devida prescrição médica.
Esses medicamentos ajudam a controlar melhor o humor e o deixar de forma regulada, bem como diminuir os sintomas do transtorno, para que a pessoa possa ter momentos sem preocupações e sintomas.
Atividades físicas e a mudança no estilo de vida também contribuem para um melhor tratamento, visto que podem funcionar de forma complementar ao tratamento convencional.
Conclusão
O transtorno depressivo persistente é um transtorno pouco conhecido da população brasileira como um todo, mas como vimos algo entre 5 e 11 milhões de nossa população é afetada por ele.
A questão está justamente em tornar ciente outras pessoas desse transtorno, que tem uma característica silenciosa.
A maioria não se dá conta que está com distimia, apenas pensa que é o seu tipo de personalidade e comportamento.
Além disso, a doença pode ser facilmente confundida com outros transtornos, mas seu mau humor constante pode reduzir significativamente a qualidade de vida de seu portador.
Sua característica mais perigosa é que lentamente vai colocando o seu portador em uma situação de vulnerabilidade que pode inclusive levá-lo a outras doenças e transtornos mais graves.
Assim lhe aconselho que se identifique esses sintomas em amigos, parentes ou até mesmo em você, que já esteja persistindo por um tempo considerável, procure ajuda especializada.
Fabrício Selbman é Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento, e também é:
- Formado em marketing e pós-graduado em gestão empresarial;
- Especialista em Dependência Química pela UNIFESP. Especialização na Europa sobre o modelo de tratamento Terapia Racional Emotiva (TRE);
- Psicanalista pela Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Professor de Especialização na Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento.