O transtorno de personalidade antissocial (TPAS) é uma condição psicológica que ainda suscita muitas dúvidas quanto ao seu funcionamento, sendo frequentemente mal compreendida. A representação desse transtorno em livros, séries de televisão e filmes contribuiu para a criação de um estigma, levando a sociedade a enxergar as pessoas que sofrem com TPAS como potenciais assassinos e indivíduos perigosos.
Embora as estatísticas possam variar conforme as pesquisas e estudos, estima-se que entre 1% e 2% da população mundial seja afetada por esse transtorno. No Brasil, de acordo com dados do Jornal da USP, esse número pode variar entre 2 milhões e 4 milhões de pessoas.
Apesar da notoriedade que o TPAS ganhou através de personagens psicopatas e sociopatas retratados na mídia, como Norman Bates, Hannibal Lecter, Patrick Bateman, Annie Wilkes e o Coringa, a compreensão do transtorno envolve a análise de fatores biológicos, psicológicos e sociais que contribuem para seu desenvolvimento e manifestação. aprofundar o entendimento sobre essa condição, que vai muito além das representações ficcionais se torna, então, fundamental.
Personalidade antissocial: O que é?
O transtorno de personalidade antissocial (TPAS) é uma condição psicológica caracterizada por um padrão persistente de desrespeito e violação dos direitos dos outros. Indivíduos com TPAS frequentemente exibem comportamentos impulsivos, manipuladores e irresponsáveis, além de uma notável falta de empatia e remorso.
Este transtorno é diagnosticado com base em critérios específicos, como a presença de comportamentos antissociais desde a infância ou adolescência, e a persistência desses comportamentos na vida adulta. As estimativas da prevalência ao longo da vida do TPAS variam de 2% a 5%, de acordo com diversos estudos epidemiológicos realizados nos Estados Unidos e no Reino Unido.
O transtorno é mais comum entre os homens do que entre as mulheres, com uma proporção de 3:1, e há um forte componente hereditário envolvido. A prevalência do TPAS tende a diminuir com a idade, sugerindo que os pacientes podem aprender ao longo do tempo a modificar seus comportamentos mal-adaptativos.
Principais causas da personalidade antissocial
O transtorno de personalidade antissocial (TPAS) possui uma forte componente hereditária, sendo mais prevalente entre homens do que mulheres. No entanto, a predisposição biológica por si só não é suficiente para o desenvolvimento do transtorno.
Atualmente, entende-se que o TPAS resulta de uma complexa interação entre fatores biológicos, sociais e psicológicos. Anomalias neurobiológicas, como malformações no córtex pré-frontal e na amígdala, bem como desequilíbrios hormonais, podem contribuir para dificuldades nos comportamentos sociais e facilitar o desenvolvimento do transtorno. Além disso, experiências traumáticas e de violência durante a infância desempenham um papel significativo na manifestação do TPAS.
Embora o transtorno de personalidade antissocial não tenha cura, ele pode ser gerido de maneira eficaz através de intervenções terapêuticas adequadas. O objetivo do tratamento é minimizar os sintomas e melhorar a qualidade de vida do paciente, promovendo uma melhor integração social e reduzindo o impacto negativo do transtorno.
Sinais e Sintomas do Transtorno de Personalidade Antissocial
Pacientes com o transtorno (TPAS) frequentemente demonstram um padrão persistente de desrespeito pelos direitos dos outros e pelas normas sociais. Entre os sinais mais comuns estão comportamentos impulsivos e irresponsáveis, como destruir propriedade, assediar ou roubar. Eles podem enganar, explorar e manipular pessoas para obter vantagens pessoais, como dinheiro, poder ou sexo, frequentemente utilizando pseudônimos.
A impulsividade é uma característica marcante, levando-os a agir sem considerar as consequências ou a segurança de si mesmos e dos outros. Isso pode resultar em mudanças súbitas de emprego, residência ou relacionamentos, além de comportamentos de risco, como dirigir embriagados e consumir substâncias ilícitas.
Social e financeiramente irresponsáveis, esses indivíduos podem trocar de emprego sem planejamento, evitar procurar trabalho e negligenciar o pagamento de contas e pensões alimentícias. A irritabilidade e a agressividade física são comuns, manifestando-se em brigas e abusos domésticos. Nas relações sexuais, tendem a ser irresponsáveis e exploradores, com dificuldade em manter a monogamia.
A falta de remorso é evidente, com pacientes frequentemente justificando suas ações culpando as vítimas ou as circunstâncias da vida. A ausência de empatia é notável, sendo desdenhosos ou indiferentes aos sentimentos e sofrimentos alheios. Além disso, podem ser teimosos, autoconfiantes e arrogantes, utilizando charme superficial para alcançar seus objetivos.
Como diagnosticar a personalidade antissocial
O diagnóstico do Transtorno de Personalidade Antissocial (TPAS) é realizado por um psiquiatra, que avalia o paciente com base em critérios específicos estabelecidos nos manuais de diagnóstico, como o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais).
Para que o diagnóstico seja confirmado, o paciente deve apresentar um padrão persistente de comportamento antissocial, desrespeito pelos direitos alheios e ausência de remorso, entre outros sintomas característicos.
Pacientes que exibem comportamentos e atitudes compatíveis com a descrição dos sintomas de TPAS têm uma alta probabilidade de receber esse diagnóstico. No entanto, a identificação do transtorno pode ser difícil, pois os indivíduos com TPAS frequentemente não apresentam sintomas comuns em outros transtornos mentais, como ansiedade, depressão e alucinações.
Essa ausência de sintomas mais evidentes pode dificultar o reconhecimento do transtorno por parte dos profissionais de saúde mental, resultando em subdiagnóstico e, consequentemente, na falta de encaminhamento adequado para tratamento.
Além disso, a natureza manipuladora e enganadora dos pacientes com TPAS pode complicar ainda mais o processo diagnóstico, uma vez que eles podem ocultar ou minimizar seus comportamentos antissociais durante a avaliação.
Diferenças entre TPAS e Psicopatia
O Transtorno de Personalidade Antissocial (TPA) se manifesta em diferentes graus de severidade. Consequentemente, o termo “psicopatia” não é mais utilizado para fins diagnósticos, sendo reservado apenas para o contexto forense, onde a condição pode indicar um alto nível de periculosidade.
O transtorno de personalidade antissocial corresponde a um padrão persistente de comportamento desviante que se manifesta e influencia na área da cognição, controle de impulsos, funcionamento interpessoal e afetividade.
Já a psicopatia é um dos termos antigos usados na psiquiatria para se referir a uma pessoa que de forma exclusivamente biológica, não sendo uma doença, manifesta as características de manipulação, de não possuir empatia por ninguém, não formar laços afetivos, inteligência elevada, não são impulsivos e tendência criminosa.
Importante ressaltar que para se fazer a distinção de um para o outro é preciso que profissionais da área atestem o diagnóstico correto.
Como é feito o tratamento?
O tratamento desse transtorno é realizado de diversas maneiras, como é um transtorno entendido de forma multicausal, é preciso que seus tratamentos também contemplem áreas diversas da saúde e vida da pessoa.
Os tratamentos mais comuns para esse tipo de caso é o uso de diferentes terapias e psicoterapias para controle emocional, investigação das causas e desenvolvimento de novas habilidades e o uso de medicamentos para controle de sintomas e humor para uma vida que esteja mais próxima do normal e convivência em sociedade.
Psicoterapia
A psicoterapia auxilia no autoconhecimento e mudança de traços comportamentais perigosos para si e para outros, como a impulsividade acentuada e agressividade, também ajuda a trabalhar a sensibilidade por outras pessoas.
Ela é essencial para um bom resultado a curto prazo e necessária para maiores mudanças e feitos a longo prazo, no entanto, não existem garantias ou evidências de que o tratamento resulte em grandes mudanças a longo prazo.
Terapia cognitiva comportamental
A Terapia Cognitiva Comportamental (TCC) é uma abordagem psicoterapêutica mais focada na dualidade do cognitivo e comportamento. Ela tem bons resultados principalmente no controle da agressividade e em esquematizar exercícios e atividades para uma evolução gradual do paciente, que, por geralmente possuírem tendências perfeccionista e organizadas, podem se adequar melhor a esse modelo.
Terapia baseada na mentalização
Também outro modo de abordagem da psicoterapia, porém focada em desenvolver a capacidade de mentalização da pessoa, consiste em imaginar e interpretar as ações próprias e de outras pessoas.
Nesse caso, ajudando ao entendimento do direito e respeito ao próximo, aprendendo a regular sua afetividade, ajudando no controle comportamental, capacidade de criar e cumprir objetivos.
Medicação
Os medicamentos são usados de maneira complementar ao tratamento para realizar o controle hormonal e de humor, como não existem medicamentos específicos para o transtorno, faz-se o uso de ansiolíticos e antidepressivos.
O uso de medicação pode ser importante para um tratamento mais saudável e controlado, principalmente em casos mais graves, onde já houve surtos e/ou crimes cometidos em função do transtorno.
Internação
A internação psiquiátrica pode sim ser necessária e eficaz, muitos ainda lembram do modelo antigo de internação como algo que lembrava mais uma prisão do que um instituto focado no tratamento.
Porém, na atualidade as clínicas de reabilitação são humanizadas e com tratamento exclusivo para cada paciente, no caso do TPAS é importante para que se desenvolva a socialização e sejam trabalhadas múltiplas áreas da pessoa.
Nossa clínica de reabilitação está comprometida em ajudar aqueles que lutam contra o alcoolismo a recuperarem suas vidas.
Oferecemos tratamentos especializados, com uma abordagem integrativa que combina terapias individuais e em grupo, apoio psicológico e médico, e programas educativos sobre prevenção de recaídas.Saiba mais com a equipe de especialistas do Grupo Recanto.
Conclusão
O transtorno de personalidade antissocial é frequentemente lembrado por fatores característicos representados em diversos meios de entretenimento, no entanto, pôde-se observar que essa condição é muito mais complexa e diferente do que se imaginava primeiramente.
É possível que indivíduos com transtorno de personalidade antissocial vivam uma vida tranquila e afastada dos problemas e da criminalidade com os quais são frequentemente associados, desde que recebam um tratamento adequado.
Embora o diagnóstico não seja fácil de ser realizado, é importante buscar ajuda profissional para si, algum amigo ou familiar que se encaixe nos sintomas citados ao longo do texto.
A diferença entre uma pessoa que coloca a si mesma e aos outros em risco e outra que vive sua vida amorosa e profissional de maneira saudável está na realização de um tratamento adequado no momento oportuno.
Fabrício Selbman é Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento, e também é:
- Formado em marketing e pós-graduado em gestão empresarial;
- Especialista em Dependência Química pela UNIFESP. Especialização na Europa sobre o modelo de tratamento Terapia Racional Emotiva (TRE);
- Psicanalista pela Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Professor de Especialização na Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento.