Antes que possa conhecer e entender o transtorno de borderline, é preciso conhecer o que é um transtorno de personalidade e o que isso implica na vida de uma pessoa.
Os transtornos de personalidade podem ser originados por fatores genéticos e ambientais.
Acontecem quando os chamados traços de personalidade, que são os padrões de pensamentos, ações e formas de relacionamento de uma pessoa, se exacerbam de modo que se tornam pouco flexíveis ou inflexíveis causando sofrimento psíquico e atrapalhando a forma como se relaciona com o mundo e com outras pessoas.
Segundo o DSM-5 (manual de diagnóstico e estatístico de transtornos mentais) os transtornos de personalidades são divididos em três grupos, sendo o Borderline incluído no grupo B, que são os transtornos de personalidades de caráter emocional, dramático e errático.
O transtorno de personalidade borderline ou também conhecido como transtorno de personalidade limítrofe afeta em estimativa 6% da população brasileira, esse dado seria o equivalente a quase 13 milhões de pessoas que seriam afetadas pelo transtorno.
Além de tudo, de acordo com uma pesquisa da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) dos pacientes diagnosticados em nosso país, 10% deles acaba por cometer suicídio, o que remete a importância que a atenção a esse transtorno merece.
O que é transtorno borderline?
A palavra borderline significa aquele que está no limite, que está na fronteira ou limítrofe, àquele que é incerto, essa definição se encaixa muito no padrão da pessoa que é acometida por esse transtorno e por isso que assim foi nomeado.
O transtorno de personalidade borderline ou síndrome de borderline se caracteriza como um problema psicológico em que a personalidade da pessoa se encontra manifestando alterações de humor constantes, alterações de comportamento, manifestações de impulsividade, raiva, angústia, insegurança, apresentando relações problemáticas com outras pessoas e medo de ficar sozinho ou de se sentir negligenciado.
A pessoa com borderline tem medo de serem abandonados e por muitas vezes coisas simples como atrasos para uma festa ou uma reunião importante pode parecer para o borderline que há algo de errado com ele ou que ele não merece a atenção.
A forma como eles interage com alguém e até mesmo a imagem que tem dela pode mudar de modo rápido, de um instante para o outro, eles são frequentemente descritos como imprevisíveis, isso acontece por conta do pensamento maniqueísta, onde as coisas são sempre divididas em bem e mal, bom e ruim.
Pessoas com esses transtornos mais desenvolvidos podem alternar de um estado mais calmo e estável para um estado de surto psicótico, assim como momentos de descontrole emocional e comportamental.
Quais as causas do borderline?
O que se sabe até agora que não há uma causa única e comum a todos os casos de borderline.
O que existe são algumas possibilidades baseadas em análises clínicas de vários casos ao redor do mundo e de pesquisas feitas dentro deste tema.
Ambiente familiar e traumas na infância
Traumas durante a infância podem desencadear e ser a causa de doenças no futuro, sobretudo quando acontecem durante o período conhecido como primeira infância que vai dos meses de gestação até os 6 anos de idade.
Desse modo, o ambiente de convívio da criança interfere muito nesse processo. Esse é o período em que os pais e responsáveis estão mais perto e são a principal fonte de influência e aprendizado da criança.
Qualquer alteração muito grande nessa dinâmica ou experiências traumáticas nessa etapa da vida interferem diretamente nesse processo, como negligência parental, divórcio e separação, perda de um dos pais ou outros cuidadores, sofrer abuso físico, abuso sexual, abuso verbal e psicológico.
Alterações no cérebro
Algumas alterações cerebrais podem estar ligadas ao desenvolvimento dessa doença; problemas nas funções que regulam as emoções e comportamentos no cérebro, uma vez visto que essas partes são menores nos cérebros de quem possui o transtorno de borderline.
Não se sabe ao certo se são essas alterações cerebrais que iniciam o desenvolvimento da doença ou se acontecem justamente por conta de as pessoas desenvolverem o Borderline, o fato é que essas alterações existem nos portadores da doença e podem de fato ser uma das causas.
Influência da genética
Estudos têm demonstrado que pacientes com pais com o transtorno borderline possuem mais chances de desenvolverem o transtorno de personalidade, assim como outras pessoas podem ter uma predisposição genética ao desenvolvimento da doença sem causa aparente.
Ainda não foram encontrados nenhum gene ou genes que possuam relação com o desenvolvimento do Borderline.
Porém com estudos clínicos tem se visto que pessoas com parentes próximos que já tiveram a doença, possuem muitas mais chances de desenvolvê-la.
Como identificar o transtorno borderline?
As pessoas que sofrem de borderline costumam ser bastante instáveis e impulsivas, dessa forma essas alterações interferem nas relações e relacionamentos.
Isso acontece quando essas pessoas demonstram uma desorganização emocional, com grande impulsividade.
Tendem a fazer o que “dá na telha”, como costumam dizer.
Em seus relacionamentos costumam ser bastante energéticos e interessados, porém também podem perder o interesse após um tempo se achar que não é correspondido ou que não recebe a devida atenção, ter um relacionamento com essas pessoas pode ser difícil devido a imprevisibilidade e instabilidade de humor, que pode alternar com bastante frequência.
O que já o diferencia do transtorno bipolar com quem é muito confundido, porém no transtorno bipolar as alterações de humor não são tão frequentes e não é tão súbita a mudança.
Aqueles que possuem o transtorno de borderline costumam se empenhar e serem determinados em não serem abandonados, geralmente possuem uma autoimagem que muda conforme seu humor, com isso sua autoestima varia bastante.
Em momentos de estresse os portadores do transtorno de borderline apresentam pensamentos paranoicos, que podem gerar sintomas dissociativos e comprometer a consciência da pessoa temporariamente.
Por conta das diversas alternâncias de humor e dos outros sintomas citados acima, é possível que se manifestem também sinais de automutilação, auto sabotagem em sua vida pessoal, profissional e interpessoal; assim como tentativas de tirar a própria vida e se não for identificado e tratado pode chegar a cometer o suicídio.
Esses são alguns sinais que podem ajudar a reconhecer alguém com Borderline.
É importante que, em caso de suspeita, se leve a pessoa até um médico psiquiatra e um psicólogo, para que averigue a situação e informem como proceder.
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Quais os tipos de transtorno de borderline?
Ainda não existe uma classificação única sobre os tipos de transtorno de borderline.
Com não há uma classificação oficial e diversos autores tentaram classificar de acordo com suas teorias, aqui vamos falar das mais conhecidas.
Borderline convencional
Segundo a autora Randi Kreger que dividiu o transtorno em dois tipos, Borderline convencional e Borderline invisível, falaremos primeiro do que ele chamou de borderline convencional.
Também chamado pela autora de Borderline de funcionamento baixo, pessoas com esse tipo de transtorno possuem uma tendência autodestrutiva, possuindo uma maior incidência de comportamentos suicidas e de automutilação.
Frequentemente são internados ou hospitalizados por conta de seus comportamentos, pois procuram aliviar sua dor emocional descarregando em si mesmos.
Também costumam tomar decisões precipitadas, colocando em risco seu futuro pessoal e profissional por conta de suas escolhas.
Borderline invisível
Também chamado de Borderline de funcionamento alto, pois permite que a pessoa realize suas funções normalmente, como trabalhar e estudar, muitas vezes a pessoa nem sabe que o possui, justamente por não ter sintomas muito visíveis.
Pessoas com esse tipo de transtorno Borderline possuem um comportamento autodestrutivo menos característico, porém ao contrário do Borderline convencional ele não desconta suas frustrações e sua dor emocional em si mesmo e sim nos outros.
Frequentemente cometendo abusos e insultos verbais, comportamento de raiva extrema podendo incluir agressividade e violência física.
Esse tipo de comportamento costuma acontecer com amigos próximos e/ou familiares na grande maioria das vezes, esses tipos de casos demoram mais e são mais difíceis de serem diagnosticados.
Borderline impulsivo
A classificação de Theodor Millon também é uma das mais conhecidas. Dentre os tipos classificados por ele, falaremos de Borderline impulsivo, petulante e autodestrutivo.
Segundo o autor, o portador do transtorno de Borderline poderia manifestar comportamentos baseado em nenhuma ou várias dessas características.
Os do tipo impulsivo compartilham características em comum com os portadores do transtorno de personalidade histriônica e do transtorno de personalidade antissocial.
De forma que tendem a ser muitos sedutores, vaidosos, caprichosos, energéticos e impulsivos, podem apresentar indecisão nas horas em que precisam escolher e se focam em coisas superficiais, possuem também um grande potencial suicida e não suportam a perda e o abandono, tornando se mais sombrios e facilmente irritáveis.
Borderline petulante
Agora falaremos sobre o tipo Borderline petulante que, segundo a classificação de Millon, são conhecidos por serem mais pessimistas e negativistas, guardam rancor com mais facilidade que os outros tipos, costumam ter comportamento de se desafiar e desafiar aos outros, pois é bastante inquieto e impaciente.
Manifesta comportamento passivo-agressivo, que se caracteriza por uma oposição interna entre o que lhe é passado e o que sente e formas de negações indiretas, de modo que o levam a procrastinação, vitimização, esquecimentos frequentes, atrasos, justificação excessiva dentre vários outros.
Borderline autodestrutivo
Esse tipo de Borderline é principalmente caracterizada por sua raiva direcionada a si mesmo como forma de punição, costuma ser uma pessoa mais introvertida tendo características depressivas e masoquistas como pontos centrais.
Casos de automutilação são comuns dentro dessa classificação, assim sendo potencialmente suicidas, sua tensão interna está quase sempre elevada e reclama com certa frequência, porém se conforma rapidamente e não realiza nenhuma ação que contribua para mudança.
Borderline é mais comum em mulheres ou em homens?
Esse é um transtorno mais comum entre as mulheres, especialmente as mais jovens. No mundo estima-se que esteja numa proporção de 3 para 1, ou seja, dentre 4 portadores do transtorno 3 são mulheres e 1 é homem.
No Brasil não há dados ou índices que indiquem a prevalência da doença ou proporção pelo sexo, então ainda não sabemos inteiramente como é a realidade da doença em nosso país.
Acredita-se que o número mais alto de mulheres nos casos globais, deve-se ao fato de que as mulheres se consultam mais e por isso descobrem mais precocemente e em maior quantidade.
Como você pode ajudar uma pessoa com o transtorno de borderline?
Acredite, lidar com uma pessoa com transtorno de Borderline é uma tarefa complicada e que requer certa paciência e determinação, pois como disse anteriormente os portadores desse transtorno alternam muito de humor apegam e se desapegam muito facilmente.
Uma das principais características de quem é Borderline é o medo do abandono e da rejeição, então se você demonstrar que está presente e que se importar com a pessoa, isso pode ajudar com que ela não se sinta sozinha.
Sempre que a pessoa fizer algo passível de reconhecimento ou de elogio, é importante que se elogie para que ele se sinta compreendido e amado, tendo cuidado também nas palavras enquanto se comunica, já que a autoimagem deles é frequentemente distorcida.
Assim como tomar cuidado redobrado para não acusar ou irritar a pessoa desnecessariamente, pois isso pode desencadear um episódio de agressividade.
O essencial também é você se colocar no lugar dele, exercitando sua empatia, entendendo que se estivesse na situação dele talvez agisse da mesma forma.
Conclusão
O transtorno de Borderline ainda necessita de mais estudo e compreensão, pois vem crescendo bastante com o tempo e assim como suas causas ainda são incertas.
Porém o pouco de informação que se tem não é tão difundido assim, dessa maneira quanto mais se conhece mais informada e preparada as pessoas estariam para combater e para que os familiares e amigos possam saber como eles podem ajudar.
No Brasil acontecem cerca de 2 milhões de casos de transtorno de personalidade Borderline, o indicado em caso de suspeita é procurar um médico clínico ou um psiquiatra para que ele possa realizar o diagnóstico.
Após o diagnóstico é preciso prosseguir para tratamentos adequados, os mais indicados são as psicoterapias e o uso de medicamentos caso sejam necessários, em alguns casos são recomendados hospitalizações, no caso de sintomas graves, surtos e tentativas de suicídio.
O risco de automutilação e de tentativas de suicídio é real em casos de Borderline, os sintomas podem levar a depressão ou a ansiedade, assim como outros transtornos de personalidade, portanto é importantíssimo que o tema seja mais divulgado e as dúvidas sejam esclarecidas.
Agradeço sua companhia até aqui e até a próxima!
Fabrício Selbman é Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento, e também é:
- Formado em marketing e pós-graduado em gestão empresarial;
- Especialista em Dependência Química pela UNIFESP. Especialização na Europa sobre o modelo de tratamento Terapia Racional Emotiva (TRE);
- Psicanalista pela Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Professor de Especialização na Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento.