Surto psicótico: Saiba o que é, como prevenir e tratamentos

Quando alguém tem uma reação inesperada a um estímulo, ou simplesmente toma uma atitude que foge do padrão comum, é comum ouvir alguém falar que essa pessoa está surtada ou tendo um surto psicótico.

Surto na linguagem clínica relacionada a outros transtornos mentais é um momento de desorganização mental e por vezes até mesmo química e biológica. Esses transtornos também podem ocorrer sem causa prévia e vir de maneira súbita.

Dessa forma, o que seria o surto psicótico e de que forma ele afeta as pessoas? Quais os sintomas? Como é possível prevenir e quais são os tratamentos mais eficientes? Continue a leitura para encontrar as respostas para essas perguntas e mais.

O que é surto psicótico?

O surto psicótico pode ser definido como um momento de desorganização psíquica, categorizada principalmente pela perda de noção da realidade, apresentando comportamento descompensado e psicótico.

Durante o surto psicótico a pessoa pode apresentar sinais e sintomas como: confusão mental, delírios, alucinações, catatonia (paralisada, inerte e sem reação), fala desorganizada ou incoerente, alteração de humor, perda da noção de tempo e outros.

O surto psicótico é causado por conta de transtornos mentais psicóticos como a esquizofrenia, como consequência e comorbidade de outros transtornos mentais e relações abusivas, como as drogas.

Quantos minutos dura um surto psicótico?

A duração de um surto psicótico pode variar significativamente de pessoa para pessoa e depende de vários fatores, incluindo a causa subjacente, a gravidade do surto e a resposta ao tratamento. Em termos gerais, um surto psicótico pode durar desde alguns minutos até várias semanas ou meses. 

• Transtornos Psicóticos Primários (como esquizofrenia): Semanas a meses.
• Transtornos de Humor (como transtorno bipolar): Dias a semanas.
• Causas Orgânicas (uso de substâncias, condições médicas): Minutos a dias.

Quem teve um surto psicótico volta ao normal?

Sim, muitas pessoas que experimentam um surto psicótico podem voltar ao normal, especialmente com o tratamento adequado e suporte contínuo. No entanto, a recuperação pode variar dependendo de vários fatores, incluindo a causa subjacente do surto, a rapidez com que o tratamento é iniciado e o suporte disponível.

Quais as principais causas da psicose?

O surto psicótico está principalmente associado a transtornos mentais, especialmente os transtornos de cunho psicótico:

• Transtorno esquizoafetivo;
• Transtorno psicótico breve;
• Esquizofrenia.

Também pode ser desencadeado por outros transtornos psiquiátricos, como:

• Depressão em sua forma mais aguda;
• Transtorno bipolar;
• Transtornos ansiosos;
• Possíveis danos neurológicos, provenientes de lesão ou trauma, também podem desencadear surtos psicóticos;
• Pesquisas indicam que alguns transtornos mentais, como bipolaridade e esquizofrenia, possuem relações genéticas e estão entre as possíveis causas de psicose;
• O abuso de substâncias químicas e a dependência química causam alterações no cérebro, que podem levar à psicose e, posteriormente, ao surto psicótico.

Leia mais: Psicose tem cura? Conheça os sintomas, causas e tratamento

Alterações nos níveis hormonais, seja por causas externas, como surto psicótico por estresse, ou proveniente de doenças, como disfunção hepática, AIDS e sífilis, podem também ser o início de um processo até a psicose.

Uma matéria da CNN Brasil no início de 2021 apresentou o estudo da universidade de São Paulo (USP) sobre os pacientes de COVID -19 tratados entre abril e agosto de 2020, onde 30% deles passaram a apresentar surto psicótico e/ou a crise de ansiedade.

Ainda há uma série de fatores particulares de cada pessoa, como experiências traumáticas, sobretudo na infância. Portanto, entende-se que o surto psicótico pode ter uma causa específica no momento, mas no geral é multicausal.

O que fazer quando uma pessoa tem um surto psicótico?

Agora que você está ciente da definição de surto psicótico, bem como de suas possíveis causas, é hora de ir mais a fundo e saber o que se pode fazer e o que não se deve fazer numa situação em que já está sobre efeitos do surto psicótico.

Siga as dicas a seguir com atenção e lembre-se que, seja você ou outra pessoa que esteja passando pela situação no momento, é importante que não se desespere e tente pensar com clareza nas opções.

Observe as atitudes e manifestações do paciente com atenção

Lembre-se que a principal característica do surto psicológico é a perda de noção da realidade, então, é importante observar e analisar como a pessoa está percebendo as coisas ao seu redor e identificar se ela está em delírio ou alucinação.

As alucinações podem se manifestar em qualquer um dos cinco sentidos ou em todos eles, mas observe se a pessoa consegue sentir, ver, cheirar ou ouvir algo. 

Os delírios são um pouco mais difíceis de identificar, pois são alterações ideológicas e de pensamentos, mas é comum que as falas e frases não aparentam ter muita lógica, inclusive a manifestação de atitudes que não condizem com a situação.

Fique atento se há alguma alteração de humor, se subitamente a pessoa tornou-se mais agressiva, se sua noção de tempo está alterada ou se entrou em catatonia.

Todo esse cuidado é para que os sinais sejam identificados antes que algum tipo de atitude impulsiva aconteça, já que, por vezes, essas atitudes podem colocar a vida da pessoa em risco.

Verifique se a medicação foi feita corretamente

Em alguns casos de transtornos mentais é preciso o uso de medicação para fazer o controle dos sintomas. Por isso, é imprescindível que seja feito o controle preciso dos medicamentos, como sua dosagem e periodicidade.

Um aumento ou diminuição, assim como o não respeito aos períodos corretos, pode provocar efeitos adversos não previstos ou ainda dificultar o processo de tratamento.

Em caso de agressividade ou violência procure ajuda

Se você tomou todas as medidas necessárias para prevenção dos riscos em um surto psicótico e ainda assim é manifestado um comportamento agressivo e violento, procure ajuda.

Números de emergência e urgência, como o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) – 192, podem ser utilizados nesses casos. Mesmo que haja alguém na ocasião para conter a pessoa, é recomendável a utilização do serviço, pois não se sabe a proporção que a situação pode tomar.

Há também a opção do encaminhamento para um Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS), pois esse estabelecimento público também lida com casos de urgência.

O que não fazer durante o surto psicótico?

Por vezes, mais importante do que saber o que fazer é saber o que não fazer. Isso porque, uma atitude errada pode levar a consequências devastadoras. Uma pessoa em surto precisa de apoio e não que você tente assumir o controle de todo o jeito.

Algumas intervenções podem ser necessárias, contudo, é preciso cuidado na forma com que são feitas. Veja a seguir o que não se pode fazer durante o surto psicótico.

Não confronte o paciente

Durante o período do surto psicótico o paciente perde a noção de realidade. Sendo assim, é necessário evitar atritos e confrontos com essa pessoa, mesmo que esteja apresentando comportamentos disfuncionais em virtude dos sintomas.

O ideal é tratar a pessoa com calma, empatia e compreensão. O surto psicótico já gera instabilidade emocional, você não precisa contribuir para isso também. 

Os delírios e alucinações do paciente são reais para ele, não vai adiantar você tentar convencê-lo do contrário, seja contradizendo o que a pessoa disse ou mostrando fatos. 

Não deixe objetos perigosos ao alcance do paciente

É importante que, durante o surto, a pessoa não tenha acesso a objetos pontiagudos e cortantes, como faca, garfo, tesoura, pregos, chaves. Isso porque, em um surto, a pessoa pode não reconhecer o perigo e se machucar, ou machucar outros por perto.

Pelos delírios e alucinações, a pessoa em surto psicótico pode tanto confundir os objetos com outra coisa, como entender que precisa deles por algum motivo delirante ou percepção alucinatória.

Há também os locais de tumulto ou que possam oferecer algum tipo de risco no sentido de trauma ou de despertar alguma reação aversiva. Nesses casos, é melhor convidar a pessoa a um lugar mais tranquilo.

Não tente resolver a situação sozinho

O fenômeno do surto psicótico, como já dito, é um momento de desorganização psíquica, logo configura uma situação de risco.

Em situações como essa, é importante reconhecer a hora de pedir ajuda, seja durante o surto ou após ele, pois sozinho você não conseguirá resolver essas situações.

O ideal é que pacientes em condições que possam promover o surto psicótico já estejam sob tratamento. No entanto, sabemos que isso nem sempre acontece e a busca pelo tratamento dá-se apenas após o acontecimento ou durante ele.

Quais são os principais sintomas do surto psicótico?

A característica principal do surto psicótico reside na perda da noção de realidade. A manifestação principal desse fato ocorre por meio de dois sintomas: delírios e alucinações.

Os delírios são alterações de pensamento que geram alterações comportamentais. As ideias delirantes vêm de convicções erradas tiradas de situações exteriores à pessoa, mas que para ela são tidas como verdade.

Por exemplo, um paciente em surto pode ver duas pessoas conversando e achar que elas estão a falar dele, ou que tudo isso faz parte de um plano de vigilância nacional, visto como parte de um fato real.

Já a alucinação não tem relação com a realidade, tanto o estímulo quanto o que é sentido pode ser completamente alucinatório, tendo desde estímulos visuais, táteis, auditivos, olfativos até todos eles em conjunto.

Assim, a pessoa pode ter a alucinação de estar ouvindo vozes dizendo que vão pegá-la ou persegui-la, sem qualquer estímulo externo.

Outros sintomas comuns podem ser:

• Pensamento desorganizado
• Fala desorganizada ou incoerente
• Comportamento agitado 
• Alteração ou oscilação de humor
• Alteração no ciclo do sono
• Perda de apetite
• Confusão mental
• Estado catatônico
• Irritabilidade e agressividade

Quais são os principais tipos de surto psicótico?

O tipo de surto psicótico vai depender da origem e causas que levaram ao surgimento do quadro. A psicose orgânica, por exemplo, tem sua origem a partir de lesões sofridas no cérebro. 

Quadros como o transtorno afetivo bipolar, o transtorno delirante e o uso de substâncias psicoativas, também podem levar à manifestação de surtos psicóticos. Além dos já citados, o transtorno de personalidade paranoide costuma se manifestar associado a quadros de surto psicótico. 

A esquizofrenia ainda é o transtorno mais característico associado à presença de surtos psicóticos. Muitas vezes as pessoas acreditam que a manifestação desse quadro vai estar associada apenas aos chamados sintomas positivos, mas na realidade, os sintomas negativos também vão servir como critérios diagnósticos. 

Como evitar um surto psicótico?

Como vimos, as causas de um surto psicótico podem ser múltiplas, desde genéticas a  psicológicas e sociais, porém algumas atitudes podem ser tomadas para diminuir o risco de desenvolvimento:

Evitar o uso de drogas

O uso de drogas pode acarretar diversos fatores e consequências ruins para o corpo e a mente, incluindo o desenvolvimento de transtornos psicóticos que podem levar a um surto psicótico.

Muitas drogas perturbam o funcionamento cerebral, podendo deixar sequelas, como alterações neuroquímicas que podem levar ao desenvolvimento de transtornos psicóticos e surtos psicóticos.

Drogas com efeitos alucinógenos são particularmente perigosas, pois induzem alucinações e delírios, desencadeando episódios de psicose que podem se agravar com o tempo.

Entenda mais sobre a dependência química neste:

Buscar ajuda profissional

A ajuda profissional antes de ocorrer um surto psicótico pode ter um caráter preventivo, além de tratar e reduzir sintomas.

É mais fácil identificar a possibilidade de um surto em pessoas com histórico de surto psicótico, transtorno mental psicótico ou não associado a esse fenômeno, do que em pessoas com transtorno mental com possibilidade de desenvolver surto psicótico.

Nesses casos, é importante procurar ajuda profissional com antecedência, pois a chance de um surto ocorrer é grande. Com o início do tratamento adequado, é possível evitá-lo.

Ter uma vida mais saudável e tranquila

Uma vida com alimentação balanceada, prática de exercícios regulares e momentos de lazer não só é mais prazerosa, como também regula melhor os níveis hormonais, resultando em menos oscilações de humor e menos estresse.

A desregulação nos níveis hormonais é uma das possíveis causas do surto psicótico. Mantendo hábitos saudáveis, você estará menos suscetível ao cortisol, conhecido como o hormônio do estresse.

Esses hábitos também ajudam a prevenir doenças nos órgãos internos que podem provocar desregulações hormonais, como disfunção hepática ou pancreática, e reduzem a probabilidade de contrair ISTs como sífilis e AIDS, que também afetam o sistema hormonal.

Quais são os fatores de risco em um surto psicótico?

Os fatores de risco que podem resultar num surto psicótico são variados e podem ser classificados em várias categorias, incluindo genéticos, biológicos, psicológicos e ambientais. 

Fatores Genéticos: 

• Histórico Familiar: ter familiares próximos com transtornos psicóticos, como esquizofrenia ou transtorno bipolar, aumenta o risco.

Fatores Psicológicos: 

• Transtornos Mentais: pessoas com transtornos mentais como esquizofrenia, transtorno bipolar, depressão severa e transtornos de ansiedade têm maior risco.
• Histórico de Trauma: experiências traumáticas, especialmente na infância, podem aumentar a vulnerabilidade a surtos psicóticos.
• Estresse Crônico: altos níveis de estresse contínuo podem precipitar um surto psicótico.

Fatores Ambientais: 

• Uso de Substâncias: o uso de drogas recreativas, especialmente aquelas com efeitos alucinógenos, como LSD, ecstasy e cannabis, pode desencadear surtos psicóticos.
• Abuso de Álcool: o consumo excessivo de álcool também está associado a um aumento no risco de psicose.
• Condições de Vida Estressantes: situações de vida altamente estressantes, como perda de emprego, divórcio ou morte de um ente querido, podem precipitar um surto.
• Isolamento Social: a falta de suporte social e o isolamento podem aumentar a vulnerabilidade a surtos psicóticos.

Qual o melhor tratamento para o surto psicótico?

Para o surto psicótico, o ideal é que seja um tratamento de múltiplas áreas, uma vez que esse fenômeno é bastante complexo e afeta vários aspectos da vida da pessoa portadora como um todo.

Veja, a seguir, uma lista dos melhores tratamentos para uma pessoa que está passando por um surto psicótico:

Medicamentos

Os medicamentos são muito usados para controlar os sinais e sintomas do surto psicótico, bem como dos transtornos mentais associados a ele.

Os medicamentos em sua maioria não são suficientes para tratar o transtorno sozinhos, porém aliviam bastante os sintomas e permitem que o paciente possa viver cotidianamente bem.

Psicoterapia

A psicoterapia é fundamental para entender as possíveis causas do surto psicótico, bem como do transtorno a ele associado, assim como entender em que isso está prejudicando a vida da pessoa.

Cada pessoa reage diferente a uma mesma situação, assim, é importante também entender como o surto psicótico tem afetado de maneira emocional e psicológica aquele paciente e entender quais passos precisam ser dados.

A psicoterapia é um grande passo em direção a uma recuperação saudável e consciente. Com o tempo é possível fazer a remissão de todos os sintomas.

Como a internação psiquiátrica pode ajudar no tratamento do surto psicótico?

O Grupo Recanto oferece intervenções focadas na dependência química e na saúde mental, contando com uma equipe multidisciplinar especializada e uma estrutura adequada para atender pacientes com diversos quadros psiquiátricos. 

Desenvolvemos uma abordagem humanizada e individualizada, que busca compreender cada paciente em suas especificidades, sem julgamentos ou preconceitos. 

Nosso trabalho inclui estabilização emocional, administração regular de medicação, inserção social, elevação do nível de consciência do paciente sobre seu próprio quadro e orientação sobre as ações necessárias para manter-se bem dentro de sua realidade.

Internação

Apesar do nome da internação psiquiátrica ainda gerar certo receio, não há com o que se preocupar. Hoje em dia, a internação não é mais agressiva como era antigamente, e sim um espaço de oportunidade e cuidados.

A internação em clínicas de recuperação especializadas em tratamentos de saúde mental permite o acesso do paciente a diferentes tipos de tratamentos, sendo eles humanizados e individualizados – o tratamento se adequa a necessidade de cada paciente.

O tratamento nas clínicas de recuperação costuma ser de maneira biopsicossocial, buscando restaurar as áreas afetadas pelo surto psicótico, assim como entender as causas que levaram para que ele se desenvolvesse.

Conclusão

O surto psicótico com certeza não é um evento comum, mas também não é o fim do mundo. Quanto mais esclarecemos questões de saúde mental, mais ajudamos no acolhimento dessas pessoas.

Como esse fenômeno possui sua causa associada a diversos fatores, é difícil adotar medidas de prevenção, mas fazer parte de uma família com histórico desse fenômeno ou possuir um transtorno capaz de provocá-lo são pontos de atenção.

Lembre-se que mais importante do que saber o que fazer é, por vezes, não fazer a coisa errada e não complicar a situação. Não tente resolver situação de surto psicótico sozinho e se for possível chame a ajuda especializada.

Nos casos em que não foi possível prevenir o surto, não se preocupe. Existem tratamentos adequados e confiáveis que podem realizar a remissão dos sintomas para que a pessoa consiga ter uma vida estável.

Conheça um pouco mais sobre o Grupo Recanto.