Quais os sintomas de overdose você conhece?
Identificá-los de maneira precoce pode fazer toda a diferença na hora de socorrer um dependente químico e de encaminhá-lo para o atendimento especializado.
Afinal, estamos falando de um quadro grave que pode, inclusive, levar à morte.
Acompanhe até o final.
Overdose tem sintomas?
A complexidade está em saber reconhecer essas manifestações, pois elas podem variar de indivíduo para indivíduo e de acordo com a droga consumida.
Isso porque cada substância age de maneira distinta no organismo humano.
O álcool, por exemplo, tem um efeito depressor, enquanto que a cocaína age como um estimulante do sistema nervoso central (SNC).
Essas formas de atuação no corpo é que desencadeiam os sintomas de overdose.
Pensando em ajudar a evitar complicações, escrevo este artigo, trazendo algumas das principais dúvidas que cercam o assunto.
O que é uma overdose?
Overdose é um quadro que se desenvolve quando um indivíduo consome uma ou mais substâncias em uma quantidade tão grande e em um intervalo tão curto de tempo que compromete o funcionamento fisiológico do organismo de imediato.
Usando uma linguagem menos técnica, a situação de overdose se caracteriza pela administração de substâncias psicoativas acima da capacidade que o corpo humano pode suportar.
Em um cenário normal, tudo o que ingerimos é decomposto até ser completamente metabolizado.
Claro que, no caso das drogas, os efeitos negativos vão aparecer, mas ainda em nível ainda suportável.
No entanto, quando algo é consumido em excesso, esse processamento é mais complexo, potencializando os danos provocados em regiões internas sensíveis.
Vale ressaltar que toda droga, independentemente do tipo e dos efeitos causados, atua no sistema nervoso central.
As complicações geradas pela overdose se dão a partir dessa interação.
Acontece que o SNC é o grande controlador do nosso organismo, enviando impulsos para outros órgãos e coordenando funções básicas.
Quando sobrecarregado, ele fica comprometido, gerando complicações graves – das quais falarei mais à frente.
É por isso que a overdose é tão perigosa.
O que pode causar uma overdose?
Ao contrário do que muita gente pode pensar, a overdose não é causada apenas pelo uso abusivo de drogas ilícitas.
Ela também pode se dar, por exemplo, na ingestão de medicamentos em doses superiores às prescritas pelo médico.
Não são raros os casos de dependência relacionados a benzodiazepínicos, como são conhecidos remédios como diazepam, midazolam e alprazolam.
A overdose coloca em descrédito aquela ideia de que o adicto é capaz de controlar o quanto consome e evitar efeitos negativos.
Como a dosagem a ser suportada pelo organismo é muito particular, não há como garantir esse suposto controle.
Ainda assim, aqui vale trazer uma informação técnica.
É um erro comum dizer que a overdose mata: por si só, ela não leva um indivíduo ao óbito, mas sim as complicações provocadas por ela.
Por isso, quando os veículos de comunicação informam que a causa da morte de uma pessoa foi a overdose de uma substância “X”, não está tecnicamente correto.
O que, é claro, não diminui em nada o risco envolvido, já que o resultado potencial segue sendo a morte.
Como acontece uma overdose?
Uma overdose ocorre quando uma pessoa consome uma quantidade excessiva de uma substância, seja um medicamento, droga ilícita ou álcool, que é prejudicial ao corpo e pode ter efeitos graves e potencialmente fatais. A overdose pode acontecer de várias maneiras, dependendo da substância envolvida e das circunstâncias específicas. Aqui estão alguns cenários comuns:
- Medicamentos prescritos: Uma overdose acidental de medicamentos prescritos pode ocorrer quando alguém toma uma dose maior do que a recomendada pelo médico ou quando ocorre uma interação medicamentosa perigosa. Isso pode acontecer devido a erros de dosagem, falta de compreensão das instruções do medicamento ou problemas de memória.
- Drogas ilícitas: Overdoses de drogas ilícitas, como opioides, estimulantes ou depressores do sistema nervoso central, podem ocorrer quando uma pessoa consome uma dose muito alta da substância ou quando a pureza e potência da droga são desconhecidas, levando a uma dose excessiva e perigosa. A mistura de drogas também pode aumentar o risco de overdose.
- Álcool: Uma overdose de álcool ocorre quando alguém consome uma quantidade excessiva de álcool em um curto período de tempo, resultando em intoxicação alcoólica grave. Isso pode acontecer em situações como binge drinking (consumo excessivo de álcool em um curto período), ingestão de álcool em combinação com medicamentos ou condições médicas que aumentam a sensibilidade ao álcool.
- Intencional: Algumas overdoses podem ser intencionais, como em casos de tentativa de suicídio. Nesses casos, uma pessoa pode ingerir uma quantidade letal de substâncias com o objetivo de causar danos graves ou morte.
A influência do estado psíquico na overdose
Em muitas ocasiões os casos de overdose estão atribuídos a histórico de sofrimento psíquico. Muitas vezes o sujeito, passa por uma fase da vida em que se encontra no fundo do poço, com autoestima baixa, depressão ou estado de compulsão pela droga, fazendo com que a consuma exageradamente diferentes substâncias psicoativas para que os efeitos aliviem ilusoriamente seu sofrimento psíquico.
A partir deste ponto, é importante ressaltar a essencialidade de sempre procurar promover a saúde mental, levando a compreensão da origem do sofrimento psíquico e entendendo que usar a droga não traz benefício algum.
Tipos de overdose
Como eu disse anteriormente, os sintomas de overdose podem variar segundo alguns aspectos.
Entre eles, está o tipo de substância ingerida e a eventual mistura de drogas.
Vamos entender melhor conforme o tipo.
Overdose de sedativos
Na categoria de sedativos, estão todas aquelas substâncias que causam um efeito depressor no SNC.
Álcool, remédios calmantes e hipnóticos são alguns dos exemplos mais comuns.
A overdose, nesse caso, pode apresentar sintomas como:
- Sonolência
- Dificuldade de respirar
- Sufocamento
- Parada respiratória
- Baixa frequência cardíaca
- Desorientação
- Extremidades e lábios de cor azulada
- Náusea
- Desmaio.
O quadro é especialmente grave porque o corpo do indivíduo praticamente “desliga”.
Na prática, o sistema respiratório pode parar de funcionar, levando ao óbito por parada respiratória, por exemplo.
Como mecanismo de defesa pela falta de oxigenação, o organismo busca a posição horizontal.
Ou seja, existe o risco de traumas severos e até fatais.
Por fim, há a chance de asfixia, que ocorre quando o estômago, irritado pelas drogas, tenta induzir o vômito.
Porém, devido ao elevado grau de debilidade, ele não consegue expelir as substâncias e acaba inundando os pulmões, gerando sufocamento.
Overdose de opioides
Os opioides mais conhecidos são a heroína e os medicamentos usados para tratar dores crônicas.
Entre os principais sintomas desse tipo de overdose, destaco:
- Miose (contração da pupila)
- Sonolência
- Maior tolerância para drogas
- Boca seca
- Dores fortes de estômago
- Desorientação
- Pulso fraco.
Por conta do seu elevado grau de dependência, leva os adictos a consumirem doses cada vez maiores das substâncias, favorecendo o quadro de overdose.
É comum que dependentes de opioides tenham mais de uma overdose antes de atingir um estágio irreversível.
Overdose de estimulantes
Cocaína, crack e anfetaminas são as drogas estimulantes mais conhecidas.
Elas apresentam os seguintes sintomas em caso de overdose:
- Agitação
- Aumento do estado de alerta
- Midríase (dilatação da pupila)
- Dores no peito
- Aumento da frequência cardíaca
- Convulsões
- Febre.
As drogas estimulantes têm efeito contrário às depressoras, por isso, as manifestações também são opostas, como no caso das convulsões, por exemplo.
Esse sintoma se caracteriza pela ocorrência anormal de descargas elétricas no cérebro, o que faz com que os músculos se comportem de maneira desordenada, ora contraindo, ora relaxando.
Esse quadro também pode levar à morte por sufocamento, seja pelo vômito, pela saliva ou pelo sangue.
Outras complicações trazidas são: ataque cardíaco, arritmia, AVC e derrame.
Overdose de drogas alucinógenas
Apesar de apresentarem índices menores de overdose, MD, LSD, êxtase, cogumelos e outras drogas alucinógenas são altamente nocivas ao organismo humano.
Elas afetam, principalmente, a nossa percepção de realidade, provocando sintomas como:
- Delírios
- Alucinações
- Crises paranoicas
- Visão borrada
- Intensificação e confusão dos sentidos.
As drogas alucinógenas também são grandes vetores suicidas.
Não porque gerem imediato quadro depressivo e façam com que o indivíduo queira, de fato, tirar a sua vida, mas sim por provocarem a privação da consciência.
Elas podem fazer, por exemplo, com que alguém acredite que saltar do último andar de um prédio não trará nenhuma consequência negativa.
Overdose misturada
Os efeitos da overdose podem ser ainda mais severos em situações em que há uma mistura das drogas administradas.
Isso ocorre, em especial, quando elas causam sensações opostas – como no caso das substâncias depressoras e estimulantes, por exemplo.
Álcool e cocaína consumidos em conjunto e de forma abusiva configuram um coquetel mortal.
Isso porque confundem o organismo, enviando mensagens conflitantes ao cérebro, que fica sem saber o que fazer.
Os sintomas em uma overdose misturada podem variar bastante, mas são, basicamente, um mix das manifestações presentes no consumo de cada uma das drogas envolvidas.
Como observar os sintomas de overdose e socorrer uma vítima?
A conduta em caso de overdose por parte de familiares, amigos e pessoas próximas à vítima deve ser no sentido de amenizar os sintomas e evitar complicações até a chegada do socorro especializado.
Em caso de convulsões, por exemplo, é preciso afastar do indivíduo objetos que possam machucá-lo durante a crise.
Se a vítima estiver com falta de ar ou sufocando, a orientação é colocá-la de lado, para que consiga ventilar melhor.
Também é importante manter a pessoa acordada e consciente.
Para isso, procure deixá-la calma e faça perguntas que estimulem a lucidez.
Se possível, tente se informar ao máximo sobre o que levou à overdose – qualquer informação será relevante para que o socorro seja mais eficiente.
A substância usada, a dosagem consumida e a última vez que foi administrada, por exemplo, são dados muito úteis, que vão ajudar no tratamento.
Qual é o tratamento para quem tem uma overdose?
A overdose é uma demonstração clara de que o uso de álcool e de drogas está fora de controle e precisa de tratamento.
Com a minha experiência, tenho a segurança em afirmar que a melhor alternativa é buscar a internação do dependente químico em uma clínica de reabilitação.
Eu sei o quanto essa decisão pode ser complicada para familiares e amigos do adicto, especialmente quando não há o consentimento do indivíduo.
Porém, essa situação precisa ser vista como uma oportunidade de resgate em um momento de crise, que é quando barreiras perigosas foram rompidas.
E digo isso não apenas para evitar novas overdoses, mas para oferecer todas as condições de que o paciente tenha uma oportunidade de recomeço.
A ideia é que, a partir de uma abordagem mais humana e individualizada, ele possa retomar o controle da sua vida e, assim, assumir novas responsabilidade e definir novos propósitos.
Aqui no Grupo Recanto, o tratamento se apoia em um tripé básico: aconselhamento biopsicossocial, Terapia Racional Emotiva (TRE) e Programa de 12 Passos.
Cada etapa tem um papel fundamental no processo de reabilitação do dependente químico.
O aconselhamento, por exemplo, aborda a doença por um viés biopsicossocial, levando em conta fatores biológicos, psicológicos e sociais do indivíduo.
Já a TRE busca desenvolver uma consciência mais realista no paciente sobre a doença.
Entender os seus sentimentos, aprender a lidar com eles, compartilhar frases motivacionais e identificar comportamentos nocivos, que precisam ser modificados, são aspectos que fazem parte dessa etapa.
O Programa de 12 Passos, mais do que uma fase do tratamento, é uma nova filosofia de vida.
Por meio dele, o adicto entende que a sobriedade é uma construção permanente, que se dá, primeiro, pelo reconhecimento do vício e da sua impotência perante ele, e depois por uma luta diária para vencê-lo.
É sobre compartilhar experiências com pessoas que já passaram e passam pelo mesmo problema e reprogramar o seu sistema de crenças e valores, assumindo a responsabilidade por suas ações.
Tudo isso com a supervisão de profissionais especializados, que conhecem como ninguém a realidade dos internos.
Overdose pode deixar sequelas?
As consequências oriundas da overdose são severas. Mesmo quem sobrevive ao quadro pode ter sequelas para a vida toda.
Isso porque, como citei antes, as principais manifestações se dão no sistema nervoso central, podendo lesionar o cérebro, por exemplo.
Entre as consequências permanentes que uma overdose pode deixar, estão as descritas abaixo:
- Alterações cognitivas: distúrbios de atenção e problemas de memória
- Disfunções motoras: paralisia ou fraqueza de um lado do corpo e falta de coordenação
- Epilepsia: caracterizada pelo comportamento anômalo de atividades do cérebro, gerando convulsões
- Quadros depressivos: podem levar a tentativas de suicídio.
Perguntas frequentes sobre sintomas de overdose
Como deu para perceber, o assunto “sintomas de overdose” é complexo e envolve uma série de variáveis.
Por isso, decidi reunir algumas perguntas frequentes que recebo aqui no Grupo Recanto, que também podem ser as suas dúvidas.
Acompanhe!
Quais são os sintomas de overdose de quem cheira pó?
A cocaína é um exemplo clássico de droga estimulante.
Nesse caso, os seus principais sintomas são aumento da temperatura corporal, frequência cardíaca elevada, agitação, dilatação das pupilas, dores no peito, convulsões, ansiedade e aumento do estado de alerta.
A overdose de cocaína pode ainda trazer complicações como AVC, infarto e arritmia.
Quais são os sintomas de overdose alcoólica?
Assim como os remédios calmantes e hipnóticos, as bebidas alcoólicas são substâncias sedativas e depressoras do SNC.
Desse modo, apresentam sintomas como coma alcoólico, sonolência, sensação de sufocamento, dificuldade para respirar, diminuição da frequência cardíaca, náusea, vômito, desmaio e desorientação.
Além disso, a overdose alcoólica pode causar parada respiratória, asfixia e edema pulmonar.
É possível ter overdose de maconha?
Apesar de ser pouco provável e de a literatura médica apresentar poucos casos, é uma possibilidade.
Sempre lembrando que a overdose não necessariamente traz complicações que levam à morte.
Como apontei, overdose significa consumir uma substância psicoativa em quantidade superior à que o organismo pode suportar.
Conclusão
Chegar ao extremo de um quadro de overdose é assunto sério, que merece toda a atenção.
A sua ocorrência dá indícios claros de que o uso abusivo de álcool ou de drogas está fora de controle e precisa de tratamento.
Embora a dependência química seja uma condição crônica e cercada de preconceitos, ela é perfeitamente tratável.
Ou seja, é possível retomar o controle, a sociabilidade e o bem-estar.
Eu e a minha equipe do Grupo Recanto estamos à disposição para oferecer todo o suporte necessário para você enfrentar esse problema tão difícil com o cuidado que ele merece.
Para mais informações, acesse o nosso site e preencha o formulário de contato.
Fabrício Selbman é Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento, e também é:
- Formado em marketing e pós-graduado em gestão empresarial;
- Especialista em Dependência Química pela UNIFESP. Especialização na Europa sobre o modelo de tratamento Terapia Racional Emotiva (TRE);
- Psicanalista pela Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Professor de Especialização na Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento.