A síndrome de Munchausen é uma condição clínica caracterizada pelo padrão de comportamento onde os pacientes fingem possuir doenças e têm uma tendência a aumentar os sintomas sentidos com o intuito de chamar a atenção, mentir ou enganar pessoas que ocupam posições hierárquicas superiores, seja intelectual ou socialmente.
O nome da síndrome surgiu em referência a um barão alemão que costumava aumentar as suas histórias de guerra contando acontecimentos irreais que nunca aconteceram, ou seja, mentindo compulsivamente.
É recorrente pessoas que apresentam essa doença procurar hospitais incessantemente, em busca de tratamento para doenças que não existem. Quando examinadas, dizem ter febre alta, alegam ter cegueira e afirmam ter histórico de doenças, mesmo não possuindo nenhuma patologia prévia.
O que é síndrome de Munchausen?
A síndrome de Munchausen, também conhecida como transtorno factício, se manifesta quando a pessoa tem uma tendência a falsificar, exagerar e mentir sobre sintomas e distúrbios físicos, mentais e cognitivos.
Ela também pode ser conhecida como síndrome hospitalar, tendo em vista que, a maioria das pessoas que sofrem dessa síndrome cometem atos para que sejam internadas no hospital. Outra nomenclatura que também pode ser utilizada é a síndrome do paciente-profissional, em razão da maneira como o paciente sabe exatamente como ser um enfermo, realizando um jogo de manipulação com seus cuidadores.
O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), define a síndrome de Munchausen como aquele imposto a si próprio e ao outro, sendo assim, ele é chamado de “distúrbio factício imposto a outro”.
As pessoas que sofrem desse distúrbio sentem uma necessidade intensa de serem enxergadas como seres frágeis, doentes e enfermos. Apesar de não ter um objetivo concreto para que tomem essas atitudes, geralmente elas surgem como uma fonte de prazer.
Quem possui essa síndrome sente a necessidade de ter a atenção e o cuidado que as pessoas que estão realmente doentes recebem. Para que isso aconteça elas são capazes de manipular exames, abrir feridas, prender sua circulação, ou mentir sobre seus sintomas.
Quais são as principais causas dessa doença?
Os médicos não apontam uma causa específica para essa síndrome, mas pesquisadores e estudiosos acreditam que ela pode ter origem em aspectos psicológicos. Teorias da área de psicologia apontam que indivíduos com um histórico de abuso e negligências, possuem maior risco de desenvolver a doença, assim como pessoas que já sofreram com outras enfermidades duradouras e padecem da “falta” de cuidado depois de estarem curadas.
Dentro do campo psicológico uma criança que vive em relações negligentes pode desenvolver carência e necessidade de atenção, gerando um trauma e uma necessidade constante de ser cuidado. Isso pode ter repercussões no futuro, iniciando um movimento de imitação daquilo que no passado lhe fez falta.
A síndrome de Munchausen também pode se apresentar como um fenômeno decorrente de um transtorno de personalidade, por isso é importante avaliar as causas que podem estar por trás do desenvolvimento do quadro.
Quais são os sintomas da síndrome de Munchausen?
Na síndrome de munchausen, os sintomas estão ligados a mentiras e fingimentos para que o indivíduo obtenha a atenção que ele deseja. Deve-se ficar atento, pois, através da leitura desses sintomas o paciente poderá ser encaminhado para um profissional da psicologia. Dentre os principais sintomas, temos: a presença de arritmias cardíacas, vasto conhecimento de termos médicos e hospitalares, problemas de autoestima e melhora seguida de recaída, entre outros.
Síndrome de Munchausen: tipos
Um dos tipos da síndrome de Munchausen é o de procuração, que apresenta uma característica externa, ou seja, além da própria pessoa o ato factorio também vai se aplicar a outras pessoas.
Síndrome de Munchausen por procuração
Nesse tipo, a procuração corresponde ao ato do transtorno factício imposto ao outro, ou seja, acontece em situações onde a sujeito age como se a pessoa que ele cuida tivesse alguma doença física ou mental, podendo até alegar que a pessoa possui uma doença grave, mesmo ela estando em perfeito estado de saúde, sendo muitas vezes um modo de abuso, principalmente, de crianças e idosos.
Casos reais da síndrome de Munchausen
Existem casos reais de pessoas que sofrem da síndrome de Munchausen e que, ao mesmo tempo, acometem outras pessoas, se enquadrando no tipo procuração. Nessas situações, é possível ver o grande sofrimento e mobilização das pessoas que acompanham o caso e também das vítimas.
Há um exemplo nos EUA onde temos um dos casos mais famosos, o de Dee Dee e sua mãe, Gypsy. Gypsy fazia com que sua filha acreditasse ser uma pessoa muito doente, apresentando doenças graves com potencial de comprometer a vida da jovem, sendo assim, a mãe passa a subordinar sua filha aos seus cuidados.
Quando Gypsy descobre que tudo que ela viveu não passou de ideias fingimentos idealizados por sua mãe e que ela não possuía nenhuma doença, a garota toma a atitude de matar a própria mãe.
Exemplos de filmes e séries que retratam a síndrome de Munchausen
O distúrbio factício é famoso e está presente nas mídias, em séries e filmes, justamente por se tratar de algo curioso e por ser uma enfermidade psicológica pouco conhecida. Entre os filmes mais famosos que falam sobre o tema, temos:
O Sexto Sentido
O filme aborda um garoto que se comunica com pessoas mortas e um psicólogo infantil que está empenhado em ajudá-lo. O garoto tem problemas com relações sociais e dificuldades em restabelecer essas relações. No decorrer da obra, o personagem se comunica com o espírito de uma garota que morreu depois de passar muito tempo doente, caminho que sua irmã mais nova estava seguindo.
O garoto junto ao psicólogo, descobre que as crianças nunca estiveram realmente doentes e que os problemas que manifestavam eram decorrentes do uso de medicamentos que a mãe as faziam tomar, expondo ali, a síndrome de munchausen da mãe.
The Act
Esta série aborda o caso real de distúrbio factício de procuração onde a mãe Dee Dee mostra sua filha para a sociedade como se ela tivesse uma doença gravíssima, as duas ficam famosas, onde a mãe foi condecorada como uma pessoa que abdicou de tudo para cuidar da sua filha doente, gerando grande comoção no país.
Mais tarde, a filha descobre que não tinha doença nenhuma, que tudo que ela passou fazia parte de uma invenção da sua própria mãe que a submeteu a várias situações, fazendo ela mesma acreditar que estava doente, após descobrir toda a verdade, Gypsy resolve se vingar da mãe a matando.
Objetos Cortantes
Objetos Cortantes, é uma série e livro que aborda a volta da personagem para a sua cidade natal a trabalho, depois de ter passado por um período de tratamento em uma clínica psiquiátrica. Sua família, composta pela mãe, irmã e padrasto não tem muita aproximação com a mesma, além de possuir uma relação conturbada com a mãe que a causou vários traumas.
Ao nos depararmos com o comportamento do personagem da mãe, vemos que ela possui a síndrome, manipulando e subordinando sua filha e causando traumas na relação.
Fuja!
Neste filme somos apresentados a uma jovem que sofre de várias doenças, inclusive de paralisia, sua mãe é sua cuidadora e está sempre com ela. A jovem ainda aguarda uma carta da faculdade a aceitando para que comece seus estudos.
Ao notar o comportamento estranho da sua mãe, a garota começa a investigar o que estava acontecendo, até que ela descobre que sua mãe a faz tomar um remédio que causam consequências em seu corpo e geram enfermidades inclusive a paralisia.
The Politician
Por sua vez, The Politician aborda a história de uma jovem que sofre de uma doença misteriosa e que tem um passado também misterioso. Quem cuida dela é a sua avó, que está concorrendo à eleição da escola junto com seu companheiro de chapa ambicioso.
Assim passa-se a notar que sua avó usa a doença de sua neta para se promover e entrar em restaurantes de graça.
Como lidar com a síndrome de Munchausen?
Para lidar com o distúrbio é fundamental a intervenção terapêutica que, além de fornecer o tratamento adequado e esclarecer dúvidas sobre a origem do problema, também dará um suporte importante para que o sujeito tenha um bom convívio social. Muitas vezes é difícil para o paciente em síndrome aceitar suas condições, nesse contexto surge a importância da família para ajudar e apoiar.
É interessante pontuar que o papel da família não é somente apoiar, mas também observar os sintomas, tendo em vista que, muitas vezes esta síndrome tem seus primeiros sinais dentro do âmbito familiar. Notar mudanças de comportamento na pessoa, ficar atento às suas idas ao hospital, averiguar seu estado de saúde e como ela trata os outros familiares são exemplos de como lidar com a síndrome de munchausen em conjunto com a terapia.
A família também pode ajudar seu ente querido o informando sobre os benefícios que ele pode ter recebendo um tratamento adequado, explicando como funciona a terapia e ajudando a diminuir a rigidez do indivíduo para com os tratamentos oferecidos.
Qual o tratamento para síndrome de Munchausen?
Caso conheça alguém que sofra da síndrome de munchausen é importante procurar uma ajuda especializada como um psiquiatra ou um psicólogo, pois o tratamento é difícil e desafiador, pois os medicamentos muitas vezes não se enquadram nos casos da síndrome.
O tratamento, geralmente tem o objetivo de promover uma mudança de comportamento, que muitas vezes é caracterizado pelo uso de ferramentas médicas sem necessidade. Depois de conseguir evoluir nesta etapa, se abre espaço para que a terapia possa ajudar com angústias do passado e para que o paciente entenda o elemento gerador daquele distúrbio.
Sendo assim, o tratamento indicado para este tipo de problema é a terapia cognitivo-comportamental, onde através dela será possível trabalhar a mudança de pensamento junto com o comportamento. Outras terapias também podem ser eficazes como a intervenção familiar através da terapia familiar, onde se promove uma troca de informações sobre a síndrome junto com a escuta da família.
Além de terapias de grupo, o paciente pode passar pela terapia cognitiva comportamental, pois ela pode reduzir um sentimento de isolamento e depressão, além do sentimento de baixa autoestima.
A importância da terapia
A terapia possui uma proposta de mudança do comportamento, utilizando uma metodologia humanizada e preocupada em entender os processos que estão ocorrendo no sujeito que convive com uma síndrome ou distúrbio. Com a postura e os referenciais teóricos adequados, o terapeuta começa a fazer propostas e incitar pensamentos que melhorem a forma de pensar e os comportamentos do paciente.
Promovendo uma mudança de comportamento e de pensamento, o paciente consegue ter uma nova perspectiva da sua vida, trilhando novos caminhos baseados em novos objetivos, sendo retirado do ciclo vicioso que fazia mal ao seu organismo e psiquismo.
Além disso, a partir de ideias do passado o indivíduo pode ter uma mudança de humor drástica que pode levar ao sentimento de que suas atitudes erradas fizeram com que ele não fosse mais bem quisto, contudo, através da terapia de grupo o paciente tem a possibilidade de renovar sua autoestima se sentindo amado e fazendo parte de um grupo social.
Conclusão
Sendo assim, com as informações dadas, vemos que a síndrome de Munchausen pode trazer grandes riscos à saúde das pessoas. Tanto a pessoa que possui o distúrbio quanto os indivíduos que vivem ao redor da mesma, tendo em vista que esse transtorno é um grande instrumento de manipulação que faz o paciente pensar e elaborar várias formas de manter uma falsa doença.
É essencial que familiares e amigos fiquem atentos aos sinais dados pelos pacientes com o intuito de prevenir eventuais complicações de saúde e buscar os tratamentos mais adequados para o bom funcionamento do sujeito.
A terapia se mostra de grande importância pois é através dela que o possuidor do distúrbio vai mudar sua forma de agir e pensar, para que não se prejudique mais e nem aos outros. Na síndrome de Munchausen, assim como em outros transtornos, é de extrema importância as intervenções atentas às diferentes dimensões do sujeito para atingir os melhores resultados. .
Fabrício Selbman é Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento, e também é:
- Formado em marketing e pós-graduado em gestão empresarial;
- Especialista em Dependência Química pela UNIFESP. Especialização na Europa sobre o modelo de tratamento Terapia Racional Emotiva (TRE);
- Psicanalista pela Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Professor de Especialização na Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento.