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Saúde mental e espiritualidade: qual a influência no caminho da cura
Publicado em: 06 de setembro de 2023

Atualizado em: 25 de setembro de 2024

Saúde mental e espiritualidade: qual a influência no caminho da cura

O ser humano sempre apresentou uma tendência à espiritualidade. Não necessariamente uma religião, mas todos os povos em suas culturas e sua expressão sempre se importaram com aquilo que é metafísico, ou seja, aquilo que vai além do palpável, do visto a olho nu e a olhos microscópicos.

Diante disso, no início da história da medicina, a espiritualidade era algo a ser, pelo menos, percebido. Contudo, com o passar do tempo e a cientificação da medicina e das outras áreas da saúde, a espiritualidade acabou sendo deixada de lado nos consultórios, mas será que deixamos de ser pessoas espiritualizadas?

Apesar da liberdade e domínio conferidos pela ciência e pela tecnologia, os seres humanos encontram-se imersos em uma realidade marcada pelo desamparo e pela inquietude diante de sua existência. É como se faltasse dar atenção a algo, e que todas essas ferramentas construídas não conseguissem tocar nisso. Essa percepção faz com que cheguemos ao tema deste texto: sendo a espiritualidade uma parte inegável do ser humano, que deve ser levada em conta quando pensamos em nosso processo de cura. 

Saúde e Espiritualidade: Essa relação é possível?

saúde mental e espiritualidade

Todas as áreas da saúde atualmente buscam trabalhar com a visão do ser humano biopsicossocial, visão essa que para muitos consegue estruturar todas as necessidades do ser humano. O que seria isso? Entender que para uma pessoa estar bem e tomar cuidado de si precisa observar os aspectos biológico, psicológico e social. Contudo, nos últimos tempos, a psicologia tem se voltado ao estudo da espiritualidade e sua relação com a saúde mental, percebendo que para o bem estar total, seria necessário também cuidar do aspecto espiritual.

Em 1988, após vários estudos e comprovações de que a espiritualidade interfere na saúde, a Organização Mundial de Saúde (OMS) incluiu a dimensão espiritual no conceito multidimensional de saúde, ou seja, passou a enxergar o bem estar não só como uma ausência de doença, mas considerou além dos aspectos sociais, a espiritualidade.

Por isso, é necessário dar atenção para esse fator, entender melhor o que seria essa espiritualidade, o que de fato quer dizer. É necessário sair da visão rasa e preconceituosa, acreditando que aquilo que é metafísico não deve ser levado em consideração, para podermos dar respostas concretas a nossa saúde. Ou seja, não falaremos sobre a necessidade de uma religião, de uma doutrina, mas de entender que é necessário reconhecermos nossa integralidade, que contém a espiritualidade.

Contextualizando a saúde mental na história

Durante a história, por muitas vezes as doenças mentais eram vistas como vindas de uma causa sobrenatural, ou seja, aquilo que não conseguiam explicar era visto como algo aleatório e que podia chegar pela impureza da alma ou por “revolta dos Deuses”. Contudo, desde o antigo Egito, o berço da medicina, já existia a busca da sistematização dessas doenças, para bem saber tratá-las. Foi durante a Grécia antiga que os filósofos daquele tempo, tendo como principal representante Hipócrates, estruturaram um tratamento para situações que envolviam a saúde mental, resumindo seu tratamento a o apoio e o conforto dos doentes.

Contudo, foi apenas no século XVII que o conceito de saúde mental evoluiu do campo mitológico para o campo médico, tendo seu principal expoente no século XVIII, Philippe Pinel, o pai da psiquiatria. Este médico francês teve o mérito de estruturar o espaço que poderia acolher essas pessoas, e tratá-las, quando na época essas pessoas eram apenas estigmatizadas, sendo deixadas em órgãos que não tinham como tratar a situação, eram apenas deixados de lado. 

Os asilos, que não tinham estrutura para tratar de doentes mentais, foram substituídos por instituições especializadas no cuidado de pacientes com problemas mentais. O objetivo do tratamento psiquiátrico era promover a reeducação dos indivíduos afetados, enfatizando o respeito às normas e desencorajando comportamentos inadequados. Pinel defendia que os manicômios e seus profissionais deveriam exercer uma abordagem equilibrada, combinando firmeza e gentileza. Ele também acreditava que o tempo prolongado de interação entre médicos e pacientes poderia aprimorar o conhecimento dos sintomas e o entendimento da progressão das doenças mentais. Infelizmente, ao longo do tempo, houve uma modificação na concepção original de Pinel, resultando em tratamentos corretivos que utilizavam métodos de imposição de ordem e disciplina institucional sobre os indivíduos psiquiátricos.

E foi a partir de toda essa história que a espiritualidade foi se deixando de lado, tanto pelos traumas do passado, como pela cientificação da medicina. Houve uma busca constante de não mais tratar os doentes mentais com ferramentas espirituais, que não poderiam ser medidas e estruturadas, por medo de tudo aquilo que já tinha acontecido. Contudo, mesmo com toda essa história, deixamos de ser pessoas espiritualizadas? Será mesmo que o modelo biopsicossocial é suficiente para abarcar todas as nossas necessidades?

Leia também: Saúde mental: Saiba como se cuidar e a importância para o nosso bem-estar

A Espiritualidade e Ciência

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O questionamento que fazemos aqui é matéria de pesquisas de cientistas e acadêmicos. O crescimento avassalador das doenças mentais na pós-modernidade, mesmo com uma imensidão de tratamentos e abordagens disponíveis, fazem questionar: será que estamos dando conta?  

Atualmente, observa-se um crescente interesse acadêmico por pesquisar o fenômeno espiritualidade e sua relação com a saúde mental, devido a suas implicações para o bem-estar e a qualidade de vida das pessoas.

Diversos estudiosos sustentam que a participação em práticas espirituais desempenha um papel importante na redução da angústia existencial, fornecendo respostas que ajudam a lidar com conflitos emocionais, estabelecendo um sistema de orientação moral e ética e desencorajando comportamentos prejudiciais à saúde. Esses pesquisadores evidenciam uma correlação negativa entre o nível de envolvimento religioso e a ocorrência de depressão, pensamentos e ações suicidas, bem como o uso abusivo de substâncias como álcool e drogas.

Panzini e Bandeira (2005) mencionaram que estudos na área da saúde pública apontam que indivíduos envolvidos em práticas religiosas têm uma menor probabilidade de se envolver em comportamentos de risco, como violência, delinquência e uso abusivo de substâncias como álcool e drogas. Em outro estudo, Koenig (2001) observou que pacientes hospitalizados que se sentiam desvinculados de sua religiosidade e sem apoio de sua comunidade religiosa apresentaram maiores problemas psicológicos e taxas de mortalidade elevadas nos dois anos seguintes à sua alta hospitalar. 

Além disso, um estudo realizado com pacientes submetidos a cirurgias cardíacas eletivas revelou que a falta de suporte e consolo religioso estava relacionada a um maior risco de morte nos seis meses após a intervenção cirúrgica (Dal-Farra & Geremia, 2010). Atualmente, estudos financiados pelo National Institute of Health dos Estados Unidos estão em andamento para avaliar o impacto da meditação em condições como hipertensão arterial sistêmica, doença isquêmica do miocárdio, doença inflamatória intestinal, vírus da imunodeficiência humana e dependência química. 

Portanto, a espiritualidade desempenha um papel relevante nas questões de saúde coletiva. Estudos com pacientes terminais também demonstraram que o conforto espiritual não apenas aumenta a esperança de vida, mas também reduz os índices de depressão, pensamentos suicidas e desejo de morte iminente. 

Diante desses aspectos, é necessário refletir sobre a atuação dos profissionais de saúde diante das questões relacionadas à espiritualidade e saúde mental. É evidente a importância de preparar os profissionais que trabalham com pessoas em sofrimento e desenvolver novas estratégias de cuidado que abordem de forma clara as várias maneiras de lidar com a espiritualidade.

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Conclusão

Existem diversas evidências que destacam a importância da espiritualidade na saúde mental das pessoas. Quando a espiritualidade é integrada adequadamente na vida de um indivíduo, ela pode contribuir de forma positiva para sua saúde psíquica. 

Estudos recentes reconhecem e valorizam a relação entre religiosidade, espiritualidade e qualidade de vida, independentemente da prática religiosa específica. Essas pesquisas indicam que a espiritualidade desempenha um papel protetor em relação a comportamentos como suicídio, abuso de substâncias, depressão, comportamento delinquente e até mesmo alguns diagnósticos de psicoses funcionais. 

Diante desse cenário, é fundamental que os profissionais de saúde estejam preparados e adotem novas estratégias que permitam uma compreensão mais profunda dos aspectos religiosos que influenciam a saúde dos pacientes e que os pacientes estejam atentos a esse aspecto fundamental da nossa saúde.

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