Quando se aproximam competições esportivas de grande porte, como Olimpíadas, Copa do Mundo, Liga Mundial de vôlei, é comum que se fale muito em doping.
Seja pelo recorrente número de casos que vêm sendo relatados nos últimos tempos, ou pela apreensão dos atletas ao tema, o fato é que o doping é um dos principais assuntos no mundo dos esportes de alto nível.
Mas o doping também tem relação com atitudes que fazemos em nosso dia a dia.
O doping é muito mais do que a busca pela alta performance.
Abaixo discutiremos mais detalhadamente sobre isso e como esse fenômeno é presente em nossas vidas.
O que é doping?
A melhor definição de doping seria: uso de substâncias sintéticas no corpo visando maximizar ganhos de massa, desempenho, rendimento, agilidade, força, concentração e reduzindo perdas como o cansaço, fadiga e tempo de recuperação.
Esse ato de dopagem ou auto dopagem em alguns casos, pode ser realizado tanto em animais quanto humanos.
Essas substâncias modificam a resposta que a pessoa teria a um determinado estímulo, geralmente o beneficiando.
O efeito do doping, em geral, é de curta duração e costuma trazer malefícios com o passar do tempo, portanto seu uso costuma ser específico e pontual.
O que é doping nos esportes?
O ato de doping em competições oficiais é proibido e passível de punição, geralmente resultando na eliminação da competição.
O doping nos esportes, nada mais é que o uso de substâncias consideradas indevidas por proporcionarem vantagens físicas e mentais sobre os outros.
O doping se popularizou muito após a segunda guerra mundial, devido ao uso de anfetaminas pelos soldados durante as batalhas ou durante a prática de esportes para “animar a moral”.
Desde 1968, o Comitê Olímpico Internacional realiza testes de drogas durante as competições.
A partir de 1976, os esteroides foram proibidos e durante as décadas de 1970 e 1980 foram desenvolvidos testes mais confiáveis.
Mesmo assim, na década de 1990 diferentes substâncias ainda eram usadas por diversos atletas: ciclistas, velocistas, ginastas, tenistas, futebolistas etc.
Podemos notar a importância desse tema no caso recente da Olimpíada de Tóquio 2020 em que a Rússia não pode competir como nação, os atletas russos representaram o ROC (Comitê Olímpico Russo).
Essa medida foi tomada em resposta às recentes descobertas de doping envolvendo as Olimpíadas de inverno de Sochi em 2014 e na Rio 2016.
Dopings esses que vinham de um programa do estado russo que operou por pouco mais de 4 anos.
Quais são os tipos de substâncias usadas?
As substâncias que vêm sendo mais utilizadas e que são proibidas são divididas em cinco categorias: estimulantes, narcótico-analgésicos, agentes anabolizantes, diuréticos e hormônios.
Essas substâncias podem ser consideradas ilícitas com relação a sua quantidade: existe uma quantia tolerável para cada substância definida pelo COI e outros órgãos esportivos internacionais.
Estimulantes
Como o próprio nome já diz, as substâncias estimulantes, animam e ajudam o corpo a realizar as atividades físicas, pois aceleram o metabolismo e o ritmo cardíaco.
Essas drogas costumam ter efeitos de diminuição da dor e estimulam a adrenalina.
Após o uso pode gerar falta de apetite, insônia, euforia, exaustão, alucinações, aumento de temperatura corporal, tremores.
Narcótico-analgésicos
As substâncias narcótico-analgésicas têm o objetivo de relaxar a pessoa para reduzir os efeitos de dor ou sensibilidade, geralmente usados em esportes e atividades de resistência.
Essas substâncias podem levar à dependência física e psíquica, além de náusea e vômitos, prisão de ventre, insônia, perda de equilíbrio, depressão, diminuição da concentração e frequência cardíaca.
Agentes anabolizantes
Esses agentes são divididos em esteróides e beta-2 agonistas, que possuem efeitos diferentes no corpo.
Os esteróides são procurados principalmente para aumento de massa muscular, assim como ganho de força explosiva.
Seu uso pode acarretar pressão alta, infertilidade, doenças no fígado e aumento da chance de desenvolvimento de tumores.
Em homens pode levar também à impotência sexual, atrofia dos testículos, diminuição da testosterona, queda de cabelo e muito mais.
Nas mulheres pode alterar a morfologia corporal levando a se assemelhar a de um homem, alteração de voz e do ciclo menstrual.
As substâncias englobadas como beta-2 agonistas geram efeitos muito parecidos com os esteróides, porém não derivam do hormônio masculina testosterona.
Seu uso indevido pode levar a tremores, arritmia cardíaca, cãibras musculares e ansiedade.
Diuréticos
Normalmente essas substâncias são utilizadas para perda rápida de peso e para secar os músculos para dar uma melhor aparência e performance.
Isso ocorre, pois, a função dessas substâncias é secretar urina, fazendo com que diminua a água do corpo, limpando o corpo de impurezas.
O uso de excessivo de diuréticos pode levar a doenças cardíacas e renais sérias, além de desidratação, perda de sais minerais e diminuição do volume de sangue.
Hormônios
Os hormônios são substâncias que nosso corpo produz em determinadas situações para se adaptar e conseguir produzir determinadas ações.
O doping aqui é a inserção desses hormônios de forma sintética, acelerando o desenvolvimento do corpo.
Os mais comuns de serem usados são a efedrina, testosterona, nandrolona e eritropoetina.
Esses hormônios ajudam no estímulo do sistema nervoso e cardíaco, aumento de massa muscular, oxigenação das células e aumento na quantidade de glóbulos vermelhos.
Como é feito o exame antidoping?
O exame de antidoping é realizado através de uma técnica de investigação na urina, chamada de espectrometria de massa, que carrega os átomos positivamente e negativamente para que possam ser investigados.
São coletados 65 ml, aproximadamente, de urina dos atletas, analisando também o pH da solução, usando, além da espectrometria de massa, outras técnicas como a cromatografia gasosa que separa as substâncias uma da outra.
As amostras são separadas em prova e contraprova, para uma validação mais apurada, precisando que as duas confirmem positivo para ser considerado doping.
Quais os riscos de fazer doping?
Além de todos esses efeitos citados nos últimos tópicos, essas substâncias podem levar à dependência química se usadas continuamente.
A própria condição de dependente químico pode trazer ainda mais problemas para a pessoa, podendo fazer surgir outras comorbidades, como transtornos mentais.
No caso de atletas, um simples doping pode acabar com sua imagem e dependendo do caso com toda a carreira construída até ali.
Quais são as consequências do doping?
Como eu disse ao início do texto, pessoas comuns também praticam o ato de doping mesmo que sem perceber.
Normalmente, pessoas que se dopam porque praticam esportes ou musculação costumam usar anabolizantes e hormônios para aumentar o ganho de massa,beleza e definição do corpo.
Em outras situações o uso de drogas lícitas e ilícitas também pode ser usado como um doping.
Quando alguém usa algum tipo de droga indiscriminadamente, apenas para esquecer de seus problemas ou para ficar mais relaxado, também pode ser considerado um doping.
Afinal, o álcool e outras drogas têm uma relação parecida.
Muitos procuram drogas estimulantes como a cocaína para tentar melhorar sua eficiência no trabalho, por exemplo, ou o álcool para lidar com suas emoções , ou então maconha para “curtir” mais o momento.
Todos esses usos podem gerar consequências terríveis à saúde mental e física, além dos riscos de dependência já comentados anteriormente.
O uso dessas substâncias compromete órgãos vitais como rins, fígado e coração, assim como pode prejudicar habilidades cognitivas como pensamento, memória, concentração e atenção.
Conclusão
Vimos o que é o doping e que ele vai muito além do uso em atletas e do meio esportivo. Todos nós estamos ou já fomos sujeitos a práticas que sejam consideradas um tipo de doping.
Acontece que hoje a cultura da beleza faz com que muitos homens e mulheres busquem um corpo ideal muitas vezes inalcançável e para isso recorram ao uso de anabolizantes e hormônios em sua maioria.
Assim como o uso de remédios e outras drogas lícitas ou ilícitas para conseguir benefícios em lugares e contexto indevidos.
O doping infelizmente já é algo mais presente em nossa realidade do que deveria e isso se converte diretamente nos esportes, com cada vez mais escândalos de doping nas competições mais importantes.
Para continuar aprendendo mais sobre temas relacionados à saúde mental e dependência química, leia nosso blog.
Fabrício Selbman é Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento, e também é:
- Formado em marketing e pós-graduado em gestão empresarial;
- Especialista em Dependência Química pela UNIFESP. Especialização na Europa sobre o modelo de tratamento Terapia Racional Emotiva (TRE);
- Psicanalista pela Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Professor de Especialização na Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento.