O transtorno de personalidade narcisista, é um transtorno que influencia diretamente no comportamento do indivíduo e também nas suas relações sociais. Muitas vezes esse problema não é detectado pelas pessoas do senso comum.
Que podem se precipitar pensando que é somente um traço da personalidade daquela pessoa, fazendo com que a patologia do narcisismo não tenha a chance de ser tratada.
O narcisismo traz uma situação adversa e curiosa sobre quem o possui, pois é difícil para os mesmos sentirem empatia, pois suas relações sociais não têm relevância para ele, acabando muitas vezes por se sentirem felizes colocando toda a sua atenção e admiração em si mesmo.
Este problema atinge somente 1% da população. Mas, quando se olha mais de perto o problema, a relação com um narcisista pode ocasionar grandes traumas, caso não seja identificado e tratado.
O que é narcisismo?
O transtorno de personalidade narcisista tem seu nome inspirado num mito originário da mitologia grega, o mito de Narciso. O qual fala da história de um jovem filho do deus grego do rio, Cefiso e da ninfa Liriope.
Quando nasceu e foi apresentado pelo oráculo, o mesmo disse que viveria uma longa vida e que teria uma beleza muito atraente, no entanto, jamais deveria ver seu rosto, pois isso o amaldiçoaria.
Apesar de ter uma beleza inegável, Narciso era arrogante e orgulhoso, não se importando com as pessoas ao seu redor que o admiravam. Ao invés de se apaixonar por uma das pessoas que o admiravam, ele acabou vendo seu reflexo na margem de um rio, onde ali se apaixonou por si próprio e ficou obcecado por sua imagem. Um certo dia a ninfa Eco tentou a sorte de ter um amor correspondido por Narciso, mas foi ignorada e com raiva amaldiçoou Narciso para que ele permanecesse se admirando até sua morte e lá ele ficou definhando.
Fazendo uma ligação entre o transtorno e o mito que inspirou seu nome, o narcisismo se configura em um indivíduo que se preocupa em ser grandioso, é exibicionista, tem um sentimento de indiferença com o próximo, além de possuir dificuldade de se relacionar com outras pessoas e não ter empatia.
Podendo comprometer as relações sociais do narcisista e isolá-lo, o narcisismo não é um transtorno fácil de lidar uma vez que muitas pessoas não o detectam, se afastando da pessoa que sofre com essa patologia, dificultando a necessidade e o acesso a alguma crítica ao comportamento do mesmo.
Narcisismo segundo Freud
Para Freud, o narcisismo faz parte de uma das fases do desenvolvimento da estrutura psicológica das pessoas. É onde se marca a passagem do chamado autoerotismo que pode ser dito como o prazer concentrado no próprio corpo, para um outro objeto de amor. Sendo assim, essa fase se torna importantíssima para o indivíduo. Pois, através dela, vem a habilidade da pessoa de gostar e lidar com o diferente.
Denominada por Freud de narcisismo primário, essa fase acontece quando o ego se torna o novo objeto de amor da pessoa. A diferença para o autoerotismo é que a estrutura do ego ainda não existe na psique.
Já no narcisismo secundário acontece o retorno do amor ou afeição ao ego, depois de ter sido destinada para objetos externos de amor. Segundo Sigmund, todos somos narcisistas vendo por um certo ponto, uma vez que praticamos a nossa autoconservação e o ato de se cuidar.
Quais são as características de um narcisista?
O narcisista, como a origem do nome do seu transtorno, tem um comportamento que se dá como egoísta e orgulhoso. Dentre os aspectos da característica do transtorno de personalidade narcisista, podemos enumerar vários. Entre eles, temos a apresentação de comportamentos como a intensa concentração em si mesmo. Pode apresentar uma busca incessante pelas suas próprias necessidades, diminuindo a importância do outro. Pode possuir uma autoestima alta mas também apresentar problemas de insegurança. Acaba alegando dependência do afeto do outro, para continuar sendo admirado. Mas também, não se preocupa com a necessidade do outro. Existe uma necessidade intensa de admiração constante, além de apresentar um grande exagero em suas conquistas ao demonstrar talentos.
Quais são as causas do narcisismo?
As causas do transtorno narcisista ainda não são exatas, mas, por sua vez, as pesquisas de Psicologia observam quais fatores acarretam na origem deste transtorno. Podendo vir de uma combinação de fatores, entre eles o genético, que segue a lei de genes hereditários. O ambiental que afirma que o modo de criação e educação emocional de uma criança, além de traumas e angústias do passado, podem acarretar no transtorno de personalidade narcisista. Além de causas vindas da neurobiologia do sujeito, quando as conexões entre pensamento e comportamento apresentam distúrbios no que se diz respeito ao temperamento e também à capacidade de gerir tensões.
Quais são os tipos de narcisistas?
O narcisismo pode se apresentar em dois tipos distintos de acordo com a origem do transtorno, mas também, como se deu o comportamento daquele indivíduo diante do transtorno. O primeiro tipo é o narcisismo vulnerável, onde apresentam inseguranças, que é propício a fazer com que as pessoas ao seu redor gostem menos dele, que acaba por agravar as inseguranças antes citadas, fazendo com que o seu comportamento caia num ciclo vicioso.
O outro tipo do transtorno narcisista é o narcisismo grandioso que se mostra o contrário do vulnerável, onde eles acreditam genuinamente na sua própria importância e consequentemente não apresentam sinal de insegurança. Assim se dá a diferença entre o narcisista vulnerável, que está ligado a sentimentos depreciativos, baixa autoestima, à insegurança, propensos a ser tímidos e ansiosos em situações sociais. E o narcisista grandioso, que possui um sentimento de orgulho exacerbado, são ousados, com autoestima elevada, competentes socialmente, com tendências de serem confiantes e charmosos em seu meio social.
Mas, mesmo com a diferença entre os tipos, há características que os unem enquanto transtorno. Tanto o narcisismo vulnerável quanto o grandioso, apresentam comportamento egoísta se colocando como importante na frente dos outros. Se sentem mais merecedores de tratamentos especiais e privilégios, além de se relacionarem com os outros de modo antagônico.
Como lidar com um narcisista?
Os narcisistas sempre vão ser pessoas difíceis de lidar uma vez que tentam tirar vantagem dos outros para se autopromover, além de depreciar outras pessoas alegando que a sua importância deve ser mais valorizada. As pessoas que sofrem de transtorno narcisista podem se apresentar em ambientes de trabalho muitas vezes ligadas a cargos superiores, pessoas com necessidade de admiração e atenção, além de superioridade e sempre querer ter privilégios.
Para lidar com esse difícil tipo de transtorno, cabe a pessoa aprender a identificar o transtorno através do comportamento do narcisista. Em casos de superioridade ou liderança, os narcisistas tendem a achar defeito em tudo. Ou achar que as pessoas nunca fazem o serviço correto, somente ele o faria. Com esse tipo de comportamento, o subordinado, por exemplo, pode sofrer grande desmotivação, impactando na sua saúde psicológica. Cabe ao sujeito aprender sobre a personalidade do narcisista, ser flexível, podendo buscar caminhos para adaptar-se àquele tipo de personalidade de um modo saudável.
Quando se diz respeito a um narcisista, vem junto a ideia de auto admiração constante, algo como vício por essa admiração. E muitas vezes em um relacionamento, essa necessidade pode ser causadora de manipulação por parte da pessoa que tem o transtorno, para que ela seja dominante na relação. Podendo causar no seu companheiro malefícios à sua saúde mental, tornando o relacionamento tóxico. Para lidar com essa situação, a pessoa que sofre com esse tipo de comportamento precisa impor limites ao narcisista, para que ele entenda o seu lugar e o único conflito que ele tenha seja com ele mesmo.
Na maioria das vezes a necessidade de ter privilégios também é um dos traços da personalidade narcisista. Seja com filas, ou preferência de escolha, para lidar com esse traço, muitas vezes é positiva a atitude de não comprar esse conflito. Uma vez que o único que enxerga algum tipo de concorrência somente é a pessoa com Transtorno de Personalidade Narcisista (TPN). Sendo assim, ignorar, rejeitar as atitudes do mesmo, pode agir de forma positiva e saudável. Mais uma vez é importante entender o transtorno, mas não dar espaço ao lado superficial que ele traz. Sendo sempre bem vinda a atitude de aconselhar o narcisista a procurar uma psicoterapia.
Filmes sobre narcisismo que valem a pena assistir
O narcisismo é o transtorno psicológico de personalidade que por muitas vezes é o tema de várias obras, se tornando um dos queridinhos da mídia. Uma vez que este transtorno pode ocasionar males tanto para as pessoas ao redor quanto para o próprio transtorno, fazendo lembrar da importância de dar assistência a essas pessoas que sofrem com esse transtorno.
Dentre os filmes que vale a pena assistir para entender uma pessoa com transtorno de personalidade narcisista, é “Ted Bundy: A irresistível face do mal”. Onde mostra o caso real do assassino em série Ted Bundy, que matava garotas, mas apresentava traços do transtorno ao precisar ser admirado pelas mulheres ou se sentir superior, através disso ele apresentava um narcisismo perverso onde necessitava de admiração mas também subordinar o outro neste caso para ele se sentir superior ele matava as mulheres, houve também um fato em que ele foi seu próprio advogado no julgamento que o sentenciou à prisão.
As principais dúvidas sobre narcisismo
O TPN é um transtorno complexo que demanda várias dúvidas e questões sobre quem o tem, pois é um distúrbio que tem o potencial de causar um mal estar social.
O que o narcisista não gosta?
Uma das coisas que muitos narcisistas não gostam, são gestos afetuosos. Pois pessoas que cometem esse gesto, segundo o narcisista, são sujeitos que precisam de afeto e por isso vem a se rebaixar para obter esse gesto. Para uma pessoa que sofre do transtorno de personalidade narcisista, essa “fraqueza” seria um sinal de decadência do seu nível e por isso ele não vê o carinho com bons olhos e também não costuma cometer esses gestos.
Além disso, os narcisistas também não gostam de serem piores do que alguma pessoa em algo. Uma vez que para ele, o único bom, merecedor de afeto e privilégios é ele. E ficam extremamente contrariados e irritados, se não forem o melhor em algo.
Qual o ponto fraco do narcisista?
O narcisista precisa estar sempre com seu ego exaltado. Mas, ainda assim, existem pontos fracos, nos possuidores desse transtorno. Entre eles a invalidação, dizer frases do tipo “eu não acredito em você” é algo que mexe muito com o emocional do narcisista. Uma vez que esse sujeito necessita da admiração dos outros para se sentir bem, ao declarar a invalidade de algo dito ou feito do sujeito narciso, acaba por representar a perda dessa admiração, que ele tanto precisa.
Além da invalidação, outra das suas fraquezas é receber um “não”. O narcisista precisa estar sempre em um pedestal, estar sempre sendo admirado, obter privilégios. Ao receber uma resposta negativa, existe um choque de realidade que tira da sua posição de privilégio. Ao sair dessa zona, o sujeito com TPN conhece os limites da sua realidade, podendo causar irritabilidade de sua parte.
Como um narcisista reage quando você chora?
Um narcisista está ligado ao sentimento de orgulho e muitas vezes pode reagir mal diante do choro. Sendo assim, o choro muitas vezes pode ser visto como sinal de fraqueza, fazendo o sujeito com TPN menosprezar aquela expressão e colocar como ele se sente diante da situação, escanteando o sentimento da vítima naquela situação.
Por sua vez, o ato de chorar pode ser visto pelo narcisista como uma falha dele com a pessoa que está chorando, atingindo diretamente seu orgulho, gerando um sentimento de falha, podendo causar angústias naquela pessoa e também na vítima.
Uma pessoa narcisista sente saudade?
Sim, os narcisistas sentem saudade. O processo funciona geralmente quando ele está em um relacionamento em que ele não está contente, e começa a recordar do seu antigo relacionamento que o satisfazia. Então ele começa a investida no antigo relacionamento, mas, quando se encontra com os antigos “defeitos”, ele se descontenta novamente. E, como não possui inteligência emocional para trabalhar esses aspectos da relação, ele acaba terminando, gerando uma tristeza por não conseguir aquilo que antes o satisfazia.
O que confunde um narcisista?
Vários fatores podem vir a confundir um narcisista. Uma vez que se coloca em primeiro lugar em tudo, quando se depara em situações que o outro está mais em evidência do que ele próprio, ele se pergunta: “Por que não eu?”.
Também anteriormente citado, demonstrações de afeto e choro podem confundir esse sujeito uma vez que ele nunca vai entender os motivos por trás daquela demonstração corporal.
Narcisista tem depressão?
Sim, os narcisistas podem vir a ter depressão. Pessoas com o transtorno de personalidade narcisista têm sentimentos como todos nós, mas, as motivações desses sentimentos são diferentes. Em narcisistas vulneráveis, a depressão pode vir a ser mais recorrente. Uma vez que seu perfil apresenta-se pessoas que têm bastante medo, insegurança, baixa autoestima. Caso a vida desse sujeito continue não o satisfazendo, pode gerar um quadro de tristeza que pode evoluir para a depressão.
Mas também existem casos onde essa depressão não passa de uma forma teatral de chamar atenção, nela o narcisista se coloca em tristeza profunda, diz ter depressão para adquirir privilégios acima dos outros.
O narcisista se arrepende?
O indivíduo com transtorno de personalidade narcisista pode vir a retomar ideias, voltar atrás em relacionamentos, mas para ele isto não é um ato de se arrepender, mas sim uma oportunidade de levar para aquela pessoa novamente o privilégio de tê-lo por perto. Afinal, sua personalidade orgulhosa e egoísta não permite que pense nisso como um ato regressivo, pois arrepender-se representa fraqueza. E tomar como ideia o entendimento de proporcionar sua presença para aquela pessoa novamente soa para o seu ego como um ato de bondade.
O narcisista sabe que é narcisista?
Alguns pesquisadores afirmam que sim o sujeito reconhece que é narcisista, pois no decorrer da sua vida ele já pode ter ouvido de outras pessoas com recorrência, dizendo que ele sofria do transtorno. Porém muitas vezes o sujeito sabe, mas não admite sua condição. Pois pode ter na mente a ideia de que se ele declarar que possui TPN ele será desvalorizado, como um traço de imperfeição seu.
O que é uma pessoa narcisista no relacionamento?
O relacionamento com uma pessoa que sofre de TPN já pode ser certo que será um relacionamento tóxico, pois dentro da personalidade narcisista a comunhão e empatia que deve existir dentro de um relacionamento não vai se fazer presente.
O narcisista poderá usar a pessoa com quem se relaciona para satisfazer suas vontades. Ele apresentará um comportamento mimado onde ele apresenta uma crença de que ele deve ser privilegiado de algo ou que merece algo como um tratamento especial. Suas atitudes são como se ele fosse superior à pessoa, podendo rebaixar a outra pessoa para se promover na relação. Não demonstra empatia com a necessidade do outro, pois para ele as necessidades dele são mais importantes. Começa a ser manipulador para impor suas vontades e cumprir suas satisfações, além de não prestar atenção ao outro sujeito e ser necessitado de admiração.
Narcisismo tem cura?
O narcisismo não possui cura, mas sim existem tratamentos que ajudam o sujeito que sofre do transtorno a modelar seus pensamentos. De um modo que inclua o contexto empático com o outro, para que possa refletir sobre suas atitudes. Podendo vir a melhorar sua relação com o próximo e também consigo mesmo.
O diagnóstico e tratamento para narcisismo
Para realizar o diagnóstico de uma pessoa com transtorno de personalidade narcisista, é preciso analisar alguns traços da sua personalidade e de seu comportamento. O narcisista deve apresentar um padrão de grandiosidade, necessidade de ser admirado incondicionalmente, exploração dos outros para alcançar seus próprios objetivos, são alguns dos critérios para se fechar um diagnóstico de uma pessoa com TPN.
Enquanto ao seu tratamento é indicado pelo DSM , uma psicoterapia dinâmica com profissionais da área , afirma-se que o tipo de tratamento é o mesmo usado para os outros transtornos de personalidade. A psicoterapia, por sua vez, se mostra eficaz quando o assunto aborda o TPN. Uma vez que ajuda o sujeito a remodelar seus pensamentos egoístas, busca a origem desse transtorno para que o paciente consiga refletir e compreender seu narcisismo para que possa promover sua melhora.
Conclusão
O narcisismo é um transtorno que afeta tanto o possuidor dele como as pessoas ao redor, podendo causar grande sofrimento psíquico nas vítimas desse distúrbio. O narcisista se mostra muitas vezes impetuoso, seu egoísmo e necessidade de atenção dá a qualquer relação uma carga de toxicidade.
Sendo o TPN um grande agente de mal estar social, podendo causar nas vítimas traumas relacionados a essas pessoas, é importante identificar os traços do narcisismo, para que assim possa-se proceder um comportamento que não alimente a necessidade do sujeito, podendo assim afastar-se dos perigos desta pessoa.
Também se mostra de grande importância e crucialmente necessário a intervenção psicológica. Pois, com o profissional de psicologia, o tratamento será feito tentando ler as entrelinhas desse transtorno: o que o causou, como esse paciente pode se comportar de modo que não degrade a saúde mental do outro, promovendo intervenções que ajudem ao possuidor do transtorno de personalidade narcisista uma reflexão sobre seus atos.
Fabrício Selbman é Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento, e também é:
- Formado em marketing e pós-graduado em gestão empresarial;
- Especialista em Dependência Química pela UNIFESP. Especialização na Europa sobre o modelo de tratamento Terapia Racional Emotiva (TRE);
- Psicanalista pela Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Professor de Especialização na Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento.