Tentando entender como funciona a dependência química e buscando uma forma de motivar o dependente no seu processo de tratamento, Prochaska e DiClemente criaram um modelo no começo da década de 1980.
O modelo tem como eixo central o próprio adicto no papel ativo de mudança, além de uma combinação de ideias entre eles.
Segundo eles, o dependente passa pelos cinco estágios de motivação, que são: pré-contemplação, contemplação, preparação ou determinação, ação e manutenção.
Estes estágios transitam pelo comportamento do indivíduo durante todo o processo de tratamento.
A Vida de um Dependente Químico
O uso de substâncias psicoativas provoca danos clínicos, psicológicos e sociais no indivíduo, podendo manifestar-se em curto, médio ou longo prazo.
Existem muitos motivos complexos que levam uma pessoa a usar drogas, como curiosidade, pressão do grupo de amigos ou uso ocasional em ambiente favorável.
A vida de um dependente químico é frequentemente cheia de problemas em diversas áreas, e muitos recorrem às drogas como uma fuga da realidade, estresse, insatisfação e falta de perspectiva na vida.
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Tipos de Tratamento para dependentes químicos
Todos os tratamentos para dependentes químicos devem ser realizados por uma equipe de profissionais especializados e devem ser individualizados conforme as necessidades do paciente.
O terapeuta deve avaliar cada caso cuidadosamente e discutir com o dependente o plano de tratamento mais adequado.
Não existe um tratamento único que atenda a todos os dependentes químicos, pois o tratamento depende de fatores como o tempo de consumo, frequência, quantidade e fatores genéticos.
O objetivo do tratamento é a total abstinência, e o processo envolve etapas de autoconhecimento e reconhecimento da necessidade de ajuda para a recuperação.
Estágios Motivacionais da Dependência Química
A compreensão dos estágios motivacionais é fundamental para desenvolver intervenções eficazes e personalizadas para dependentes químicos.
Cada estágio requer abordagens específicas para apoiar o indivíduo na jornada de recuperação, desde o reconhecimento do problema até a manutenção de um estilo de vida saudável e livre de substâncias.
Pré-contemplação
No estágio de pré-contemplação, o indivíduo não considera a mudança necessária, pois não percebe seus comportamentos como problemáticos. Muitas vezes, ele está em negação sobre a gravidade de sua dependência e os prejuízos causados.
É definido pela falta de interesse ou motivação para mudar, a negação dos problemas relacionados ao uso de substâncias e a resistência a discussões sobre a necessidade de tratamento.
Contemplação
Na contemplação, a pessoa começa a perceber a conexão entre seus comportamentos adictivos e os problemas associados. Ela reconhece os problemas causados pelo uso de drogas, mas ainda não se compromete a mudar.
Este estágio é caracterizado pela ambivalência sobre a mudança e o interesse em aprender mais sobre tratamento e recuperação.
Preparação
No estágio de preparação, a pessoa está pronta para mudar, se compromete com a recuperação e busca ajuda especializada. Este é um momento crucial para planejar ações concretas que facilitem a transição para a próxima etapa.
Caracteriza-se pelo compromisso firme com a mudança, a pesquisa ativa de recursos e suporte para tratamento e o desenvolvimento de um plano de ação detalhado.
Ação
No estágio de ação, a pessoa se engaja em ações específicas para alcançar a mudança. Este é o período de implementação das estratégias planejadas e aplicação de ferramentas para pôr em prática a recuperação.
Marcado pela participação ativa em programas de tratamento e reabilitação, mudança visível de comportamentos adictivos para comportamentos saudáveis e desenvolvimento de novas habilidades e hábitos.
Manutenção
No estágio de manutenção, o indivíduo integra o novo comportamento à sua vida, mantendo a direção escolhida e um novo estilo de vida satisfatório. O foco é prevenir recaídas e solidificar as mudanças alcançadas.
A sustentação das mudanças de comportamento a longo prazo, desenvolvimento de um estilo de vida equilibrado e saudável e participação contínua em grupos de apoio e atividades terapêuticas refletem esse estágio.
Dependência Química e Família
A dependência química é uma doença que exige um tratamento específico, e o problema vivido pelo dependente químico demanda principalmente a ajuda e o auxílio de sua família.
É angustiante para a família ver um ente querido se tornar escravo de uma substância poderosa, mas é fundamental que saibam que podem ser importantes no processo de recuperação, se forem orientados de forma correta. Caso contrário, podem agravar ainda mais a situação.
Na relação entre a família e o dependente químico, pode ocorrer um processo chamado de codependência, caracterizado como um transtorno emocional primariamente associado aos familiares dos dependentes químicos.
Na maioria dos casos, os codependentes são familiares ou cônjuges que assumem os prejuízos dos comportamentos problemáticos do dependente e têm uma preocupação excessiva com sua saúde.
A codependência passa por diversas fases:
- Fuga: negação da existência do problema;
- Camuflagem: tentar esconder o problema com bens materiais;
- Angústia: a família visivelmente angustiada e desejosa de tratamento;
- Frustração: sentimento de frustração por achar que já fez de tudo para ajudar, podendo levar à agressividade;
- Aceitação: a família finalmente aceita o problema sem sentimentos de culpa.
Importância dos 12 passos
Os grupos de ajuda mútua, como Alcoólicos Anônimos (AA) e Narcóticos Anônimos (NA), são sociedades sem fins lucrativos que reúnem homens e mulheres para ajudar uns aos outros a manter a sobriedade através da abstinência.
As reuniões desses grupos são essenciais para o processo de recuperação. O programa dos 12 passos, usado pelo AA e NA, é um recurso importante de tratamento, difundido e acessível aos dependentes de substâncias psicoativas.
O plano de ação é baseado no convívio dentro de um ambiente seguro oferecido pelo grupo, com o propósito de alcançar pequenas metas diárias e manter a sobriedade um dia de cada vez.
Esse período de sobriedade é lembrado e comemorado com cerimônias entre os participantes. O modelo dos 12 passos pode ser aplicado em qualquer ambiente de tratamento ou em conjunto com ele.
Em algumas localidades, esse é o único tratamento disponível, com grupos presentes em todas as capitais brasileiras.
O programa é fundamental para a recuperação do dependente químico, ajudando na abstinência total, mudança de hábitos, abandono de velhas ideias, busca de ajuda de amigos e envolvimento nos assuntos da irmandade.
Mensagem de reflexões sobre vícios
O uso de drogas acarreta diversas consequências biológicas, psicológicas e sociais, fazendo com que a pessoa em estado avançado de dependência muitas vezes perca o controle de sua vida, prejudicando áreas familiares, profissionais e educacionais.
A melhor forma de prevenir a dependência química é evitar a primeira dose, pois não se pode prever se o indivíduo terá fatores de risco, como componentes hereditários ou transtornos psiquiátricos, que o predisponham a desenvolver a doença.
Como ajudar uma pessoa que usa drogas
Ajudar uma pessoa que usa drogas não é tarefa fácil, pois a dependência química é uma doença crônica que afeta todas as áreas da vida do indivíduo.
Algumas atitudes podem ser tomadas para ajudar uma pessoa que utiliza substâncias psicoativas, como o apoio da família, que pode fazer com que a pessoa se sinta mais segura e confiante.
Também é necessário procurar ajuda especializada em clínicas de reabilitação para que ocorra o devido tratamento.
Além disso, é importante que a família mantenha o diálogo com o adicto, esteja presente na vida dele, faça passeios ou atividades físicas e promova hábitos saudáveis como forma de ajudar o dependente químico.
Conclusão
A motivação é um pilar essencial na recuperação de dependentes químicos. Entender os estágios motivacionais, desde a pré-contemplação até a manutenção, ajuda a criar intervenções personalizadas e eficazes.
Cada fase requer abordagens específicas, desde o reconhecimento inicial do problema até a solidificação de um estilo de vida saudável e livre de substâncias. O envolvimento ativo do dependente no processo de mudança é crucial para o sucesso do tratamento.
Além disso, o papel da família não pode ser subestimado. Apoiar um ente querido durante a recuperação pode ser desafiador, mas é vital para o sucesso do tratamento.
A codependência deve ser abordada para evitar que os familiares agravem a situação, e a orientação correta pode transformar a dinâmica familiar em uma fonte de apoio e motivação.
Os grupos de ajuda mútua, como Alcoólicos Anônimos e Narcóticos Anônimos, fornecem um suporte contínuo que complementa outros tratamentos.
O programa dos 12 passos oferece uma estrutura para a abstinência e a manutenção da sobriedade, criando um ambiente seguro onde os dependentes podem compartilhar experiências e fortalecer sua determinação.
Com uma combinação de estratégias personalizadas, apoio familiar e participação em grupos de ajuda mútua, os dependentes químicos têm uma chance real de recuperação.
A jornada é desafiadora, mas com motivação e suporte adequados, é possível alcançar uma vida saudável e satisfatória, livre da dependência química.
Fabrício Selbman é Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento, e também é:
- Formado em marketing e pós-graduado em gestão empresarial;
- Especialista em Dependência Química pela UNIFESP. Especialização na Europa sobre o modelo de tratamento Terapia Racional Emotiva (TRE);
- Psicanalista pela Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Professor de Especialização na Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento.