Não saber como ajudar um dependente químico para que o processo de recuperação seja menos doloroso é uma angústia comum entre familiares e amigos de adictos.
Aqui, no Grupo Recanto, me deparo com situações como essa com frequência, especialmente entre as famílias que ainda estão em processo decisório sobre a internação.
Lidar com a abstinência, evitar recaídas, diminuir os efeitos colaterais da desintoxicação e submeter o dependente químico a um tratamento contra a sua vontade são alguns dos receios mais comuns.
Se você está passando por um caso assim e não sabe como auxiliar alguém que ama a superar o vício em álcool ou outras drogas, acredito que este artigo possa ajudar.
Com base em minha experiência, listei medidas que considero efetivas para auxiliar um dependente químico em seu tratamento.
Também trago respostas para perguntas frequentes sobre o tema.
Então, fica o convite para acompanhar até o final do texto.
O que é a dependência química?
O primeiro passo de como a família pode ajudar um adicto é entender que a dependência química é uma doença que, assim como qualquer outra, precisa ser tratada.
Ela é definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um estado psíquico e, às vezes, físico, decorrente do consumo de substâncias psicoativas por um indivíduo.
Essa ingestão pode resultar em mudanças comportamentais e outras reações que levam à necessidade de consumo cada vez mais frequente, seja para vivenciar os seus efeitos psicóticos ou evitar o incômodo da privação.
Já o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), da Associação Americana de Psiquiatria, caracteriza a dependência química como um padrão mal adaptativo do consumo de substâncias, o que leva a algum dano clínico importante e que é acompanhado por elementos como:
- Aumento da tolerância à droga
- Abstinência
- Incapacidade de controlar o vício
- Isolamento social.
Quais são os sintomas de uma pessoa com dependência química?
Identificar os sintomas de uma pessoa com dependência química nem sempre é fácil, sobretudo no começo.
Afinal, estamos falando de um quadro de caráter progressivo, no qual os sinais vão ficando mais fortes com o passar do tempo, conforme o consumo se intensifica.
Além de alguns dos critérios elencados acima pela Associação Americana de Psiquiatria, é importante ficar atento a manifestações como:
- Abandono gradual de hábitos corriqueiros e de uma rotina regrada
- Rompimento com ciclo sociais mais antigos
- Descuido com a aparência e a higiene
- Desequilíbrio emocional e irritabilidade.
Como funciona a mente de um dependente químico?
A mente de um dependente químico é um dos pontos mais afetados pelo uso abusivo de drogas.
Não à toa, a classificação dessas substâncias é feita conforme o nível de alteração causada no Sistema Nervoso Central (SNC).
Seguindo essa categorização, existem três tipos de efeitos psicológicos que as drogas podem desencadear em um indivíduo: depressor, estimulante e perturbador.
Ou seja, a mente do dependente químico pode funcionar de forma mais lenta, de maneira mais rápida e de modo anômalo, respectivamente.
Como lidar com uma pessoa com abstinência?
As crises de abstinência são uma resposta do organismo à ausência da substância causadora da dependência.
Esse quadro é bastante comum durante o processo de desintoxicação.
As reações do corpo à falta da droga podem ser tanto de ordem física quanto psicológica.
Ainda que não haja um padrão fixo, entre os principais sintomas característicos da abstinência posso citar:
- Irritabilidade
- Aumento do apetite
- Confusão mental
- Ansiedade
- Alteração do sono
- Comportamento compulsivos.
Episódios de abstinência provocam reações imprevisíveis, que podem colocar em risco a segurança do indivíduo e de quem estiver ao seu redor, caso não sejam acompanhadas de perto por suporte especializado.
Por isso, sempre recomendo a procura imediata por ajuda médica.
Uma equipe multidisciplinar experiente e capacitada sabe como lidar com quadros como esse e vai utilizar a abordagem técnica mais adequada.
A você, familiar ou amigo do paciente, cabe o papel de incentivar a busca por tratamento e oferecer todo o apoio emocional necessário.
Veja 6 maneiras reais para você pode ajudar um dependente químico a iniciar o processo de recuperação:
- Ter empatia
- Saber se comunicar
- Pesquise sobre o assunto
- Realize uma intervenção
- Esteja sempre de braços abertos
- Incentive a participação em grupos de apoio
Qual a melhor forma de ajudar um dependente químico?
Por falar em maneiras ajudar na recuperação do dependente químico, listo abaixo 6 abordagens que podem ser úteis para essa missão.
1. Ter empatia é essencial
Ajudar uma pessoa com dependência química, especialmente alguém que é importante para você, é tarefa complicada.
No entanto, o processo se torna um pouco mais fácil quando há empatia.
Ser compreendido é um aspecto fundamental para que o dependente químico consiga confiar em alguém.
Para isso, você precisa se colocar no lugar da pessoa, ser compassivo, compreensivo e tratá-la como gostaria de ser tratado.
Julgar está fora dos seus limites, por mais difícil que seja evitar.
Ser respeitoso e atencioso, por outro lado, pode fazer de você um porto seguro no processo de desintoxicação e recuperação.
Lembre que estamos falando de uma doença.
Não é como se a pessoa quisesse estar naquela situação ou como se ter força de vontade fosse suficiente para deixar a dependência para trás.
É algo muito mais complexo ‒ e seu apoio é fundamental.
2. A comunicação pode abrir portas
Ter um diálogo aberto e livre de preconceitos é outra atitude muito bem-vinda.
Demonstre para o dependente que você se importa com ele, com sua saúde e com o seu bem-estar.
Mesmo que, em um primeiro momento, essa postura não seja valorizada, com uma boa dose de insistência, passando de fase por fase, ela será aceita.
A ideia é que você deixe claro que deseja fazer parte desse momento importante da vida do adicto e que está ciente dos desafios.
Não tenha medo de ser honesto e tocar em assuntos mais complicados e dolorosos.
Ainda que exijam um jeitinho, eles precisam ser abordados.
3. Pesquise e tenha conhecimento sobre o assunto
Você não precisa ser um especialista para conhecer alguns detalhes da dependência química.
Hoje em dia, com a internet à disposição, é possível realizar pesquisas e ter acesso a informações relevantes que podem ajudar a contornar situações difíceis.
Por exemplo, quanto maior for a riqueza de detalhes que você conseguir apresentar a um especialista no momento da internação, mais ferramentas ele terá ao seu alcance para escolher qual é a terapêutica mais indicado
Aqui no blog do Grupo Recanto, por exemplo, sempre trago dicas importantes não apenas para quem vive a dependência química, mas também para quem precisa acompanhar essa realidade de perto.
4. Realize uma intervenção
Pesquisar sobre a dependência química e demonstrar preocupação com a saúde do adicto são medidas importantes, mas que podem ser insuficientes.
O próximo passo é mostrar para a pessoa que você ama que ela precisa de ajuda e que a intervenção é a saída mais segura.
É possível que haja uma certa resistência no começo, mas isso é normal.
Se for preciso confrontar o dependente com realidades mais duras, não hesite em utilizar esse último recurso.
Eu sei que falar de morte ou cadeia pode assustar, mas acredite: o medo e o choque podem ajudar a encaminhar a aceitação.
Você pode sugerir o programa de uma clínica de reabilitação e até traçar um plano de tratamento, mostrando que a desintoxicação é possível, com dados reais.
O importante é manter um posicionamento firme e não desistir.
5. Esteja sempre de braços abertos para o dependente químico
É comum que a relação com um dependente químico se agrave com o tempo, trazendo problemas em diferentes esferas.
No entanto, é importante que essas questões sejam deixadas de lado, ao menos momentaneamente, para que a recuperação do adicto seja plena.
Ele deve se sentir amparado e pertencente a algum lugar ‒ caso contrário, pode se ver solitário e retomar o vício.
Por isso, esteja sempre de braços abertos para acolher quem você ama. Ele precisa de compreensão e de uma rotina estruturada.
6. Incentive a participação em grupos de apoio
Indo mais ou menos na mesma linha da dica anterior, outra medida importante para a recuperação plena de um dependente químico é a sua presença assídua em grupos de apoio.
A participação nessas reuniões é uma excelente maneira do adicto compartilhar suas experiências com outras pessoas que passaram por situações semelhantes às dele.
E o melhor: sem qualquer tipo de julgamento.
Faz parte do processo de recuperação reconhecer o seu vício perante os outros, encontrar na espiritualidade e na fé uma maneira de recomeçar, restabelecer propósitos, realizar reparações em relações abaladas e repassar ensinamentos adiante.
Tudo isso é trabalhado nas irmandades de mútua ajuda que se baseiam no programa dos 12 passos.
Portanto, incentive a participação do dependente químico nos grupos de apoio, tanto durante o período de internação quanto no pós-tratamento.
Aliás, existem entidades voltadas para familiares e amigos de adictos também. Entre as mais conhecidas estão Alcoólicos Anônimos, Narcóticos Anônimos e Amor Exigente.
Participar de reuniões como essas podem ajudar você a lidar melhor com a dependência química de quem ama.
Mas e se o dependente químico não quiser ser ajudado?
Embora difícil, a internação involuntária e a compulsória podem ser as únicas saídas quando o dependente químico se recusa a ser ajudado.
No primeiro caso, ela é encaminhada por terceiros ‒ normalmente algum familiar ‒ e sem o consentimento do adicto.
O médico pode protocolar o pedido com base no caso relatado durante uma consulta, por exemplo.
Já na internação compulsória, o pedido formal é realizado por um juiz, sem que seja necessário a autorização dos familiares.
A solicitação é feita com base em um laudo médico, que atesta que o dependente não tem controle das suas próprias condições físicas e psicológicas.
Porque muitos dependentes químicos recusam ajuda?
A negação da doença é uma postura comum em dependentes químicos, especialmente no início.
Eles acreditam estar no controle de suas ações e que podem parar com as drogas quando quiserem. Por isso, recusam ajuda.
É normal que os adictos também defendam que familiares e amigos estão exagerando em suas preocupações, pois não há qualquer mudança de comportamento causada pelas drogas.
Esse é o motivo que me leva a dizer: não deixe de insistir e de oferecer ajuda.
Como convencer um dependente químico a se tratar?
O processo de convencimento de que o dependente químico precisa buscar ajuda nunca é fácil.
Significa, para ele, se colocar em uma situação de vulnerabilidade, de doente.
A abordagem que ainda considero mais eficaz é tentar demonstrar o mal que a droga está causando à sua vida e à das pessoas ao seu redor.
Em situações de maior resistência, conforme mencionei anteriormente, a única alternativa é recorrer a casos extremos, mencionado a possibilidade de morte ou prisão se uma mudança não ocorrer.
Perguntas frequentes sobre como ajudar um dependente químico
Ao longo do tempo que estou à frente do Grupo Recanto, sempre recebo perguntas sobre como ajudar um dependente químico.
Reuni quatro dos questionamentos mais comuns para responder.
Como ajudar um dependente químico que recaiu?
Recaídas podem acontecer no tratamento na dependência química.
Caso elas aconteçam, recomendo procurar novamente ajuda especializada.
Ser compreensivo, incentivar a retomada de hábitos saudáveis e a presença mais assídua nos grupos de apoio também são medidas que endosso.
Não ter dado certo uma vez não significa que as próximas tentativas vão ter o mesmo final. É um processo.
Ajuda espiritual para dependente químico funciona?
Sim, trabalhar a espiritualidade é importante.
Inclusive, uma das etapas do programa dos 12 passos é encontrar um poder superior.
Essa ação, no entanto, não pode ser isolada e deve ser acompanhada de um tratamento especializado.
Como agir com um marido dependente químico?
As orientações para ajudar um marido dependente químico não são muito diferentes das utilizadas para outros adictos.
Talvez, seja mais difícil convencer o cônjuge da necessidade de tratamento, mas esse ainda é o melhor caminho.
Se encontrar resistência, busque ajuda de outros familiares e avalie se é o momento de recorrer à internação involuntária.
Conclusão
Talvez você esteja hesitante sobre como ajudar um dependente químico, mas não tenha dúvidas de que o seu apoio é fundamental.
Sem ele, é pouco provável que o adicto tome a iniciativa de buscar tratamento especializado e retomar o controle da própria vida.
E, se quiser contar com o suporte especializado do Grupo Recanto, basta preencher o formulário abaixo e aguardar o retorno da nossa equipe.
Fabrício Selbman é Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento, e também é:
- Formado em marketing e pós-graduado em gestão empresarial;
- Especialista em Dependência Química pela UNIFESP. Especialização na Europa sobre o modelo de tratamento Terapia Racional Emotiva (TRE);
- Psicanalista pela Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Professor de Especialização na Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento.