Mais uma vez estou aqui para revelar e explicar sobre as drogas e seus efeitos, bem como suas relações com a dependência química.
E a escolhida da vez é a maconha, e não poderia ser outra, uma vez que esta é a droga mais consumida do mundo, tendo sido usada por cerca de 188 milhões de pessoas em 2017, segundo o relatório mundial de drogas de 2019 da UNODC (escritório das nações unidas sobre drogas e crimes).
Com a minha experiência irei procurar trazer o entendimento do assunto da forma mais lúcida e clara possível, num tema que precisa muito ser debatido.
O que é maconha?
A maconha também conhecida como Cannabis Sativa, é a droga ilícita mais consumida no mundo, perdendo apenas para o cigarro e o álcool.
Essa é uma droga que possui um efeito psicoativo alucinógeno proveniente das várias substâncias que a compõem, são mais de 400 substâncias, dentre as quais algumas com importantes propriedades medicinais, contudo 60 dessas substâncias comportam os canabinoides que dão o efeito alucinógeno.
O que leva ao uso da maconha?
Essa é uma questão complexa que não possui uma única resposta, pois o contexto em que a pessoa vive, os acontecimentos ao seu redor, sua personalidade e os aspectos biológicos são alguns dos fatores que podem influenciar em seu uso.
Segundo a minha experiência, o motivo para a procura da maconha ou qualquer outra droga é além de tudo algo particular que varia de pessoa para pessoa, mas há alguns motivadores gerais como a busca de aceitação social em grupos, muito comum na adolescência, relação parental prejudicada, comportamento agressivo, a busca por amenizar os efeitos de transtornos mentais como esquizofrenia, falta de auto controle ou conduta antissocial.
Os estudos nessa área vêm avançando com o tempo, mas não foi encontrado um fator único que leve ao consumo da maconha, pois, são sempre motivos particulares e ainda que existam motivos mais comuns, estes também são permeados pela visão da pessoa sobre aquele fato.
Tipos de maconha
A cannabis sativa mencionada anteriormente, é a primeira espécie descoberta da planta e a mais usada, as outras como a indica, ruderalis e hibrida, são versões derivadas de cruzamento de espécies diferentes ou de manipulação em laboratório para melhor eficiência em certos ambientes ou para potencializar certos efeitos.
Além das mais conhecidas que irei explicar adiante, existem também o haxixe e o Skunk que são respectivamente a resina e uma outra espécie selecionada em laboratório que também são amplamente consumidas, mas que não entraremos a fundo, porém necessitam ser aqui listadas para o fornecimento de informações.
Sativa
Tendo seu uso mais antigo associado a 2800 a. C na china, e sendo a primeira a ser utilizada tanto para fins medicinais quanto recreativos, sua substância principal é o THC (Tetrahidrocanabinol) presente em todas as partes da planta.
Sendo normalmente usada para fumo com efeitos estimulantes e alucinógenos, sendo conhecida também por cânhamo possui fibras longas e não ramificadas, sementes pequenas que podem ser ramificadas e não ramificadas.
Indica
A cannabis indica possui muito mais canabinoídes e THC em relação a sativa chegando a ser até 5 vezes maior, possui mais efeitos sedativos do que a sativa se usada de modo medicinal, a variedade indica se apresenta com crescimento menor, possuindo folhas mais largas e assumindo formas cônicas.
Os efeitos da indica são muito mais voltados para o relaxamento do corpo e até sono quando consumida de modo recreativo.
Híbrida
O tipo híbrido como o próprio nome diz é uma mistura, entre sativa e indica, variando as proporções entre as duas, fazendo o cruzamento entre espécies para selecionar cuidadosamente as características mais importantes de cada uma.
Sua aparência é uma combinação da duas anteriores e varia de acordo com a proporção colocada de cada uma na mistura, os efeitos são variados, em suma sendo uma junção dos efeitos da sativa e indica, podendo ter variações de acordo com a proporção selecionada por quem a produz.
Ruderalis
A espécie provém da parte central do continente asiático, possui uma resistência elevada a variação climática diferentemente das outras, é a de menor estatura e contém um florescimento mais rápido que as demais.
Possui índices baixíssimos de THC, menos de 3% ao todo, mas ainda contém altos níveis de canabinoides, tem sido cada vez mais procurado por seu potencial de sobreviver e florescer sobre quase toda situação, se comportando como uma erva daninha.
É importante mencionar que nem todos os botânicos consideram a ruderalis como um novo tipo de espécie de maconha, alguns afirmam que ainda não é possível a classificar de tal forma, necessitando de mais estudos.
Tudo sobre a maconha: quais são as propriedades da planta?
Como colocado acima cada espécie possui as mesmas substâncias, o que muda são as quantidades e proporções delas em cada espécie e essas substâncias possuem efeitos que podem ser usados para diversos fins, siga acompanhando.
Assim como relatei anteriormente a maconha possui mais 400 substâncias contidas em cada planta, sendo deles o mais importante e conhecido o THC e os canabinoides, que são um grupo de substâncias que possuem 21 átomos de carbono em sua composição e sendo passíveis a outras transformações.
A maioria dos canabinoides possuem efeitos psicotrópicos, ou seja, perturbam o funcionamento do nosso sistema nervoso central, porém, alguns podem ser usados de forma terapêutica, de forma analgésica, no controle de náuseas, estimulante de apetite, tratamento de epilepsia entre outras coisas.
Ressalto que esses dados e estudos de uso terapêutico são de caráter experimental e que ainda podem ser acompanhados de efeitos colaterais do uso.
O THC é o principal componente psicoativo que garante o efeito alucinógeno quando em alta quantidade e que naqueles que são mais suscetíveis gerar até mesmo efeitos psicóticos.
Ao viajar pela corrente sanguínea chega até os neuro receptores localizados no cerebelo, córtex e hipocampo, causando principalmente alteração de tempo e espaço, relaxamento ou euforia e déficit na memória.
Também pode ser usado de forma terapêutica com aplicações diretas, como tratamento de glaucoma, doenças cardiovasculares ou perda de apetite em paciente com AIDS; ainda que com o risco de efeitos colaterais.
E como cada planta possui uma proporção diferente das mesmas substâncias, algumas podem apresentar certos efeitos mais fortes ou mais fracos; como por exemplo a Cannabis do tipo sativa que apresenta um efeito estimulante e alucinógeno forte, enquanto a indica possui um efeito mais analgésico e relaxante.
Quais são os principais usos de maconha?
A maconha pode ser usada para diversos fins, mas aquele que predomina é o seu uso recreativo.
A inalação por fumo é a maneira mais recorrente de uso recreativo, mas também pode ser colocada dentro de comidas durante seu preparo, e possui até receitas bem conhecidas como brisadeiro (brigadeiro com maconha) e bolo de chocolate com maconha.
Medicinalmente o canabidiol, dronabinol, naxibimols são as substâncias prescritas para os tratamentos, geralmente através de pílulas por via oral, retal ou até mesmo por vaporização.
Podendo ser uma boa opção no caso de dores crônicas e asma como analgésico e relaxante, diminuição dos efeitos da epilepsia e esquizofrenia, bem como no tratamento de parkinson, onde o tratamento por esse meio já é autorizado.
Esses remédios no brasil não podem ser encontrados, para fazer uso deles, só por meio de importação, que é permitido por lei em casos muitos específicos e em condições ainda mais restritas.
Os estudos clínicos indicam que a maconha auxilia no tratamento de forma a reduzir os efeitos de dor e melhorar na qualidade de vida, porém, não há nada que indique uma melhora no processo de cura ou até mesmo uma cura definitiva.
A maconha causa dependência?
Se ocorrer de forma medicinal, onde o uso é restrito e controlado pelo médico, e se for apenas o canabidiol o risco é basicamente inexistente, mas especialistas alertam para medicamentos com THC que podem levar ao abuso.
O principal efeito da dependência na tentativa de interrupção do uso, pode levar a efeitos colaterais como insônia, irritabilidade, agitação, náusea e pânico.
Nesse aspecto a maconha não é diferente de outras drogas, apesar dos seus efeitos serem considerados mais tênues quando comparados a drogas mais pesadas. Com a minha experiência posso lhe dizer que nem por isso deixa de ser prejudicial para nossa mente e corpo.
Como funciona a maconha no nosso corpo?
Sabemos que o THC e o canabidiol são as principais substâncias da maconha que agem no corpo de maneira diferente, um possui um efeito estimulante e alucinógeno, já o outro possui um efeito analgésico e relaxante.
Como a forma mais comum de uso da maconha é a inalação, logo que as substâncias entram pelas vias respiratórias, pelo sistema cardiorrespiratório vai entrar na corrente sanguínea e chega até o sistema nervoso central, e atinge os neuro transmissores.
Aumento da frequência cardíaca
Como já foi visto ao longo deste artigo, a maconha é um tipo de droga que causa diversos prejuízos a saúde do indivíduo. O uso contínuo da maconha pode aumentar a frequência cardíaca, podendo gerar também outras doenças como a hipertensão arterial e arritmia.
Se faz importante destacar que a maconha pode ter seus efeitos intensificados conforme o estilo de vida que o dependente possui, como o sedentarismo, e o aumento do consumo de álcool ou outras drogas.
Como ela age no sistema nervoso central, pode acabar gerando um maior índice de ansiedade, depressão, psicoses entre outros.
Portanto, estes fatores podem estar relacionados a problemas cardiovasculares, desta forma, logo se vê que a maconha possui efeitos preocupantes no coração e que pode acabar causando a morte.
Sonolência
A sonolência é um efeito que aparece após o consumo da maconha, como ela provoca uma sensação de bem-estar e relaxamento, ela pode acabar a induzindo.
Essa é uma das causas das muitas causas de ela ser muito procurada, como a indução ao sono. Vale ressaltar que cada indivíduo apresenta os sintomas de formas diferentes.
Perda de coordenação motora
Os efeitos do consumo da maconha também incluem a perda ou diminuição de coordenação motora.
Como a maconha causa aquela sensação de relaxamento ela pode deixar o indivíduo mais lentificado, e diante disso, uma das áreas cerebrais que podem ser mais afetadas são a coordenação motora e o desequilíbrio.
Alterações na percepção de tempo
Este também representa um efeito negativo desse tipo de substância, mas vale lembrar que assim como outros, esse também é um efeito subjetivo, ou seja, depende do organismo do indivíduo, pois as pessoas manifestam sintomas diferentes.
Prejuízos a memória
A maconha é uma droga que pode causar prejuízo devastador a memória de curto prazo do dependente, pois causa alterações no sistema nervoso central. Este fato prejudica o processo de solidificação da memória, impossibilitando a armazenagem de informações.
Como o organismo do indivíduo se encontra afetado pelo consumo da maconha, o seu cérebro pode acabar impedindo que ele armazene novas informações em sua memória.
Insônia
A maconha acarreta efeitos negativos na memória do dependente e estes podem ser ainda mais intensificados se o consumo acontecer de modo precoce. A insônia pode ser desencadeada não só pelo consumo, mas também, por sua falta.
Alterações no humor
Como já foi visto ao longo do artigo são muitas as alterações que a maconha pode causar no organismo do indivíduo, como as físicas, psicológicas e comportamentais.
A maconha provoca alterações no humor que podem variar de pessoa para pessoa, alguns podem ser sensação de felicidade, relaxamento e bem-estar, ansiedade ou irritabilidade por exemplo.
Tudo sobre a maconha: o uso medicinal
Atualmente, muito tem se falado do uso medicinal da maconha, mas pouco ainda se sabe a respeito, pois os estudos ainda se encontram em desenvolvimento. O que se sabe a respeito é que ela pode ser utilizada em alguns tratamentos específicos como no alívio de dor, epilepsia ou glaucoma.
Existe tratamento para o uso da maconha?
Não existe um tratamento específico para o uso da maconha, o que existe são procedimentos que podem ser adotados para que o indivíduo pare o seu consumo. Assim como qualquer tipo de droga, o consumo exacerbado da maconha gera a dependência química que necessita de um tratamento especializado.
Conclusão
A maconha é um tipo de droga capaz de gerar dependência e este é um fator muito preocupante devido ao aumento do seu consumo. Para muitas pessoas a maconha parece ser uma droga inofensiva, mas engana-se quem pensa desta forma, pois assim como as outras ela pode gerar prejuízos a saúde do indivíduo a curto e longo prazo.
Essa droga pode causar alterações físicas e psicológicas ou no humor, além de desencadear outros tipos de doenças. São diversos os fatores que podem levar uma pessoa a usar drogas, mas, uma coisa é certa, uma vez instalada a dependência mais prejuízos o indivíduo terá na sua saúde.
Portanto, para não cair na sua armadilha, se deve evitar esse tipo de droga, pois os efeitos da dependência química podem ser irreversíveis, sem contar que acaba prejudicando também os relacionamentos interpessoais.
Fabrício Selbman é Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento, e também é:
- Formado em marketing e pós-graduado em gestão empresarial;
- Especialista em Dependência Química pela UNIFESP. Especialização na Europa sobre o modelo de tratamento Terapia Racional Emotiva (TRE);
- Psicanalista pela Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Professor de Especialização na Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento.