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Equilíbrio e Saúde: Intervenção Biopsicossocial na Prática
Publicado em: 06 de agosto de 2023

Atualizado em: 14 de outubro de 2024

Equilíbrio e Saúde: Intervenção Biopsicossocial na Prática

Que é necessário cuidar da saúde isso não é novidade, mas será que olhamos para nossa saúde de forma integral? Quantas vezes nos deparamos com um sintoma como tontura, falta de ar, dores pelo corpo, e associamos a uma virose ou infecção, quando na verdade não estamos prestando atenção no que de fato está trazendo aquele sintoma. 

Muitas vezes, esse sintoma pode vir de um quadro psicossomático, que é quando um sofrimento psicológico, de alguma forma, acaba causando ou agravando uma doença física. Segundo estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS), 20% das pessoas atendidas na atenção primária sofrem algum grau de somatização, ou seja, somam um problema físico a um sofrimento psicológico.

A partir desta perspectiva, junto ao grande número de demandas envolvidas com sintomas psicológicos, profissionais e instituições de saúde buscaram modelos de intervenção que conseguissem abarcar essa realidade, e trazer um equilíbrio entre o olhar biológico e o olhar psicossocial, e daí surgiu a intervenção Biopsicossocial. Por isso, vamos aprender mais sobre esse assunto.

Intervenção Biopsicossocial: O que é?

Como uma intervenção acontece? Existe um conjunto de estratégias e técnicas, com o intuito de ajudar o paciente a lidar com problemas biológicos e comportamentais. Essas intervenções são projetadas para promover o bem-estar do corpo, melhorar a qualidade de vida e auxiliar na resolução de dificuldades pessoais.

Na proposta do modelo de intervenção biopsicossocial, que teve origem e ganhou destaque a partir de um artigo publicado na Revista Science, no ano de 1977, “The need for a new medical model: a challenge for biomedicine”, escrito pelo psiquiatra George Libman Engel, a assistência ao paciente acontece de uma forma holística, ou seja, completa, levando em consideração o biológico, o psicológico e o social.

O autor afirmava que o modelo biopsicossocial conseguia lidar de forma integral com as queixas dos pacientes, estando em relação com o que a OMS fala sobre saúde: um estado completo de bem-estar físico, mental e social do indivíduo. O que isso quer dizer? A partir dessa intervenção, o paciente não vai em busca de tratar apenas um sintoma, mas de estruturar um estilo de vida mais saudável.

O bem do corpo é apenas uma das partes do tratamento, isso envolve uma troca de palavras no vocabulário da saúde: em vez de “tratar uma doença” ou “tratar um transtorno”, deve-se “cuidar de alguém”.

O modelo foi estruturado pensando em trazer mais consciência não só para os pacientes, mas para os profissionais e instituições de saúde, observando a qualidade de vida no meio social e em suas relações diárias, buscando dar resposta para queixas que uma intervenção tradicional e biomédica não poderiam responder.

Qual a diferença entre modelo biopsicossocial e modelo biomédico?

intervenção biopsicossocial

Por muito tempo, diante da ausência do estudo psicológico e social impactado na saúde, a intervenção se resumia a lidar com enfermidades, se concentrava na patologia, bioquímica e fisiológica, sem considerar aspectos sociais ou de subjetividade. Essa é a ideia do modelo biomédico, que enxerga saúde apenas como ausência de doença, dor ou defeito. O médico é o protagonista do sistema, do qual o paciente é um agente passivo.

Diante disso, o processo de “cura” passa a ser um mero cessar das enfermidades, onde não se toca a individualidade e subjetividade do paciente. É um modelo que por muito tempo pareceu ser suficiente, contudo, diante do século das enfermidades da saúde mental, não consegue assegurar o bem estar integral do paciente.

Na intervenção biopsicossocial se dá importância não só aos aspectos biológicos da saúde humana, mas também a aspectos psicológicos e sociais. Ele reconhece que a saúde é resultado de uma interação complexa entre esses diferentes aspectos. Reconhece que aspectos como o estresse, a personalidade, as crenças, o suporte social, o acesso aos recursos e o ambiente social podem influenciar a saúde de uma pessoa. 

O médico trabalha em parceria com o paciente, levando em consideração suas experiências, perspectivas e valores, a fim de desenvolver um plano de tratamento que seja adequado às suas necessidades. 

Quais os principais aspectos observados no modelo biopsicossocial?

Para bem entender a intervenção biopsicossocial, vamos explicar cada parte que a constitui, vejamos:

Biológico

A princípio, como no modelo biomédico, é feito uma investigação dos sintomas físicos para entender como a causa da doença pode estar no organismo do paciente. Aborda questões como a saúde física, herança genética e efeito de drogas e medicamentos.

Além dos sintomas que são perceptíveis a olho nu, é necessário analisar alguns outros pontos que podem interferir, como hormônios, vitaminas do corpo, neurotransmissores, como serotonina, dopamina e noradrenalina.

Ou seja, a intervenção biopsicossocial abarca todos os pontos da intervenção biomédica, contudo adiciona mais duas partes.

Psicológico

Ao investigar os sintomas, são consideradas as questões psicológicas relacionadas a um problema de saúde específico do paciente. Isso envolve a análise de habilidades sociais, relacionamentos familiares, autoestima e saúde mental. 

Sentimentos e emoções desempenham um papel constante em nossas vidas. Cada um desses aspectos pode ter um impacto positivo ou negativo, dependendo dos comportamentos associados. É responsabilidade do profissional de saúde avaliar as repercussões psicológicas na saúde como um todo e propor caminhos para tratar o sofrimento causado.

Social

Por fim, existe a investigação de como as condições sociais estão associadas com os sintomas do paciente, os fatores socioeconômicos, culturais e inter-relacionais. 

A intervenção considera que esses fatores repercutem de forma importante na saúde. Nesse sentido, dentre os possíveis cenários cujas interações são analisadas na intervenção estão, por exemplo, o familiar, escolar e acadêmico, espiritual, socioeconômico, residencial, ambiental e cultural.

Como o profissional pode trabalhar com o modelo biopsicossocial?

intervenção biopsicossocial

Para bem aplicar a intervenção biopsicossocial é necessário uma preparação não só técnica, mas também de percepção do profissional de saúde. A intervenção antes de tudo é uma forma de enxergar o paciente, colocando, de forma completa, ele como centro do atendimento.

A partir disso é necessário que o profissional crie um vínculo com o paciente, por meio da comunicação, através de expressões, gestos, contatos visuais, postura. A escuta precisa ser mais sensível e atenta, para poder compreender além da questão física que prejudica o paciente.

O profissional deve estar atento não só a saúde, sempre explicando os procedimentos, diagnósticos e tratamentos dentro do campo de compreensão do paciente, ir além dos termos técnicos, humanizar o atendimento. Estar com a mente aberta para bem escutar o paciente, levando em consideração suas realidades e limitações.

A Importância da Intervenção Biopsicossocial na Saúde Mental

Como já diz no nome, a intervenção biopsicossocial é um modelo integrado à saúde mental que considera fatores biológicos, psicológicos e sociais na prevenção e tratamento de transtornos mentais. 

Diferente de modelos que focam apenas em um aspecto, o modelo biopsicossocial reconhece a complexidade e a interconexão desses 3 fatores na saúde mental. 

Prevenção e Tratamento de Transtornos Mentais

  1. Fatores Biológicos: 
  • Prevenção: A compreensão de predisposições genéticas e a monitorização de biomarcadores podem ajudar na identificação precoce de indivíduos em risco. Intervenções como mudanças na dieta, exercícios físicos regulares e, quando necessário, medicação, podem ser implementadas para prevenir o aparecimento de transtornos mentais.
  • Tratamento: Medicamentos como antidepressivos, ansiolíticos e estabilizadores de humor são utilizados para corrigir desequilíbrios químicos no cérebro.
  1. Fatores Psicológicos: 
  • Prevenção: Estratégias como a promoção de habilidades de enfrentamento, a resiliência emocional e a alfabetização em saúde mental desde cedo podem ajudar a reduzir o risco de desenvolvimento de transtornos mentais. Programas educacionais e de intervenção precoce nas escolas são exemplos de como essas estratégias podem ser implementadas.
  • Tratamento: Terapias psicológicas são fundamentais no tratamento de transtornos como a depressão e a ansiedade. Essas terapias ajudam os pacientes a reestruturar padrões de pensamento disfuncionais, desenvolver estratégias de enfrentamento eficazes e melhorar a regulação emocional.
  1. Fatores Sociais: 
  • Prevenção: A criação de ambientes sociais de apoio, a redução do estigma associado aos transtornos mentais e a promoção de políticas públicas voltadas para a saúde mental são essenciais na prevenção. Comunidades coesas e o suporte social adequado podem atuar como fatores protetores contra o desenvolvimento de transtornos mentais.

Tratamento: O apoio social e comunitário desempenha um papel crucial na recuperação de transtornos mentais. Grupos de apoio, redes de suporte e intervenções familiares são importantes para fornecer um sistema de suporte contínuo. A integração de serviços sociais e de saúde mental também é vital para um tratamento eficaz e sustentável.

intervenção biopsicossocial

Conclusão

É importante reconhecer a importância de cuidar da saúde de forma integral, considerando tanto os aspectos físicos quanto os psicossociais. Muitas vezes, sintomas físicos podem ter origem em questões emocionais não resolvidas, o que nos leva a negligenciar o verdadeiro problema subjacente. O fenômeno da somatização, no qual o sofrimento psicológico contribui para o desenvolvimento ou agravamento de doenças físicas, é mais comum do que se imagina. 

Ao aprender mais sobre a intervenção biopsicossocial, estamos capacitados a adotar uma visão mais ampla e integrada da saúde. Ao invés de apenas tratar os sintomas de forma isolada, podemos trabalhar na identificação e tratamento das causas profundas, considerando tanto os aspectos físicos quanto os psicossociais. Cuidar da saúde integralmente, com equilíbrio, é um passo fundamental para alcançar o bem-estar e a qualidade de vida.

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