O êxtase é um derivado sintético da anfetamina, conhecido como 3,4-metilenodioximetanfetamina (MDMA). É popularmente conhecido por diversos termos, tais como ‘ecstasy’, ‘XTC’, ‘Adam’, e ‘droga do amor’.
Classificado como um psicoestimulante, compartilha semelhanças com anfetaminas e cocaína. Contudo, sua natureza complexa também o coloca no grupo dos alucinógenos, devido às alucinações e episódios de flashbacks que podem ocorrer, especialmente em doses elevadas.
Desenvolvido por um químico alemão no século XX, inicialmente conquistou a aprovação como uma ferramenta popular na psicoterapia, auxiliando no tratamento de algumas questões de saúde mental.
No entanto, seu uso se tornou abusivo, causando lesões nos neurônios, fazendo com que passasse a ser uma droga proibida.
O êxtase emerge como um composto de caráter singular, caracterizado por sua capacidade de instigar uma transformação na percepção do mundo, assemelhando-se a uma experiência de rave psicodélica onde cada indivíduo se torna, momentaneamente, um confidente próximo.
Os efeitos iniciais desse agente psicoativo abarcam uma sensação de autoridade e realeza até a sensibilidade física do usuário. Ao longo do nosso texto, buscaremos nos aprofundar no mundo do êxtase
HISTÓRIA DO ÊXTASE
O êxtase teve seu precursor sintetizado pela empresa farmacêutica alemã Merck em 1912. No entanto, apenas em 1977 a substância chamou a atenção da comunidade científica, sendo utilizada em psicoterapias pela sua capacidade de elevar o estado de ânimo.
A década de 70 testemunhou o início do consumo recreativo do MDMA, popularmente conhecido como ecstasy, principalmente entre frequentadores de danceterias e festas noturnas.
A efervescência cultural dos anos 80 e 90 marcou a ascensão de êxtase nos clubes, raves e festivais de músicas, impulsionada pela disseminação da música eletrônica, especialmente dance music e techno.
Este período também trouxe à tona a controvérsia em torno do êxtase, com a mídia destacando seus potenciais perigos e figuras públicas, como Madonna, expressando apoio ao MDMA.
Além disso, a história revela que a Merck patenteou o MDMA em 1914 para o uso como inibidor do apetite, embora essa aplicação nunca tenha se concretizado.
Os anos 80 testemunharam a proibição do êxtase no Reino Unido em 1977 e nos EUA em 1985, enquanto seus efeitos indesejáveis incluem aumento da tensão muscular, insônia e perda de apetite.
A longo prazo, o êxtase pode resultar em complicações como alucinações, depressão e paranóia.
CIÊNCIA POR TRÁS DA DROGA
De acordo com um artigo publicado pela Unifesp, a compreensão da ciência por trás do êxtase revela uma complexa ‘dança’ bioquímica que ocorre no cérebro. Quando essa substância peculiar atinge o sistema nervoso central, desencadeia uma expressiva liberação de serotonina (o neurotransmissor responsável pela sensação de bem-estar e euforia), dopamina e noradrenalina em neurônios pré-sinápticos.
O aumento da síntese de dopamina promove ativação dos centros de prazer dependentes de dopamina no cérebro. Esse fenômeno é acentuado pela interferência na recaptação da serotonina, criando um ambiente ‘festivo’ dentro do crânio.
Efeitos resultantes da ação bioquímica
Os efeitos resultantes dessa ação bioquímica não se limitam apenas ao plano psicológico. A pessoa sob influência do êxtase experimenta uma transformação notável, tornando-se um ser energético e emotivo.
Surge a vontade de abraçar o porteiro da balada, elogiar estranhos, entre outras. No entanto, esse estado de êxtase é efêmero, pois após a liberação massiva de serotonina, o cérebro encontra-se momentaneamente esgotado.
Riscos
A euforia momentânea pode dar lugar a uma série de consequências indesejáveis, como excessiva sudorese, risco de superaquecimento, desidratação e potenciais danos ao fígado e rins.
Em casos extremos, pode levar à morte. Os riscos não se encerram aqui; os pesquisadores continuam a desvendar a extensão total dos danos a longo prazo, destacando a importância de uma abordagem cautelosa.
COMO É USADO O ÊXTASE
O artigo da Revista de Saúde Pública, da Universidade de São Paulo (USP), fala que a droga é consumida de várias formas: comprimidos coloridos, cápsulas gelatinosas ou em pó, o êxtase é muitas vezes misturado com substâncias desconhecidas. A ausência de controle de qualidade em drogas ilícitas destaca a necessidade de conscientização sobre os riscos adicionais.
Padrões de uso
Os padrões de uso variam, desde sessões de psicoterapia no passado até o uso recreativo frequente, principalmente em ambientes de danças e festas. “Raves” são locais propícios para aumento de casos de toxicidade, devido a condições como a multidão, altas temperaturas e desidratação.
A frequência de uso recreacional, antes espaçada, agora mostra sinais de aumento, com relatos de uso diário e intenso. O uso da MDMA, inicialmente difundido entre estudantes norte-americanos, expandiu-se globalmente para diferentes grupos sociais.
JORNADA DO CONSUMIDOR
Explorando a intrigante jornada do consumidor de êxtase, adentramos em uma narrativa que revela motivações e contextos muitas vezes sombrios. Ao contrário de uma história com final feliz, essa jornada se desenrola em um cenário complexo e desafiador.
Motivações para o uso
As motivações não surgem de situações aleatórias. Na verdade, são impulsionadas por um desejo profundo de uma fuga da realidade. Trata-se de uma busca por uma experiência que transcende os limites da realidade cotidiana.
Além das motivações individuais, as relações sociais desempenham um papel significativo nessa jornada. A ideia equivocada de que “amigo que é amigo compartilha a droga” perpetua-se no contexto do consumo de êxtase.
No entanto, essa dinâmica, longe de fortalecer a amizade, muitas vezes coloca consumidores em situações de risco, onde a segurança é comprometida em nome de uma suposta “camaradagem.”
EFEITOS DA DROGA
Os efeitos da droga se fazem sentir aproximadamente 20 a 60 minutos após a ingestão do comprimido e permanecem por 4 a 8 horas no corpo. Discutiremos abaixo os efeitos da droga êxtase, sendo eles a euforia, a empatia e a intensificação das sensações.
Euforia
Nesse efeito o cérebro é inundado por uma massiva liberação de serotonina, o neurotransmissor responsável pela sensação de felicidade e prazer. Aqui, tudo parece mais alegre e radiante, transformando a experiência em uma festa sensorial interna.
A música se torna uma sinfonia envolvente e a pessoa se sente elevada, como se fosse o maestro de sua própria vida. Contudo, vale ressaltar que essa fase intensa não dura para sempre.
Empatia
Em um estágio subsequente, o êxtase abre as portas para a empatia. O usuário se vê envolvido por um amor expansivo, estendendo-se a todos ao seu redor. Relações sociais atingem um nível incomum de proximidade e até mesmo estranhos podem se tornar alvos de afeto.
Abraços gratuitos e uma aceitação calorosa predominam, construindo uma conexão intensa com o próximo. Essa fase proporciona uma experiência única de compreensão e comunhão, reforçando os laços emocionais de forma notável.
Intensificação das emoções
Neste ponto o usuário experimenta uma elevação significativa na percepção sensorial. Tudo ao redor se torna extraordinariamente mais intenso. Essa intensificação das sensações é uma característica marcante, levando a uma experiência única e vívida.
OS PERIGOS DO ÊXTASE
Após conhecer os efeitos que o êxtase proporciona, é imprescindível reconhecer e entender que ele possui consequências e riscos significativos, tanto durante a experiência quanto em suas repercussões a longo prazo. Alguns dos efeitos indesejados são:
- Tensão muscular e da atividade motora;
- Aumento da temperatura corporal;
- Enrijecimento e dores na musculatura dos membros inferiores e coluna lombar;
- Dores de cabeça, náuseas, perda do apetite;
- Visão borrada, boca seca, insônia;
- Grande oscilação da pressão arterial;
- Alucinações, agitação;
- Ansiedade, crises de pânico e breves episódios de psicose.
Uso a longo prazo
O consumo prolongado do êxtase acarreta sérios danos à saúde. A elevação excessiva dos níveis de serotonina na fenda sináptica, resultante do uso da droga, leva a danos irreversíveis nas células nervosas. Essas células, ao serem lesadas, têm seu desempenho comprometido, e a recuperação só ocorre quando outros neurônios assumem a função perdida.
PREVENÇÃO E RECUPERAÇÃO
A prevenção e recuperação do uso de êxtase são componentes cruciais para lidar com os impactos prejudiciais dessa droga.
Prevenção
Educação abrangente sobre os riscos e efeitos do êxtase, direcionada a jovens pais e educadores é um ponto crucial.
Além disso, a criação de ambientes seguros e de apoio social é determinante na prevenção do uso de drogas. Comunidades, escolas e famílias desempenham papéis vitais ao oferecer um suporte positivo na resistência e prevenção ao uso da droga.
Recuperação
Intervenções profissionais, como aconselhamento psicológico e terapia comportamental são essenciais para aqueles que estão lutando com o vício de êxtase.
Programas de reabilitação especializados como clínicas hospitalares, apoio social, redes de pares e monitoramento contínuo são elementos chave na jornada de recuperação, visando, principalmente, a prevenção de recaídas.
CONCLUSÃO
Em meio à história complexa do êxtase, desde sua criação até os desafios contemporâneos, torna-se evidente que essa droga não é apenas uma substância recreativa, mas uma força que moldou culturas, enfrentou controvérsias e impactou vidas.
A ciência por trás do êxtase revela uma dança intrincada no cérebro humano, proporcionando efeitos e riscos significativos. A jornada do consumidor, motivada por um desejo de escapismo, destaca os perigos envolvidos e a necessidade urgente de abordagens preventivas e programas eficazes de recuperação.
Em última análise, a narrativa do êxtase é uma mistura complexa de euforia fugaz e consequências duradouras, exigindo uma compreensão aprofundada e ação coordenada para enfrentar seus desafios.
Assim como outras drogas e os vícios que elas acarretam, o tratamento se faz peça crucial no contexto do êxtase também, a busca por profissionais e a possibilidade de internação são questões que devem ser pensadas para melhorar a qualidade de vida dos dependentes.
O Grupo Recanto possui uma rede completa que auxilia no tratamento e no retorno às atividades sociais do sujeito. Isso possibilita a recuperação com a ajuda de uma equipe multidisciplinar qualificada e pronta para atender as demandas dos pacientes.
Fabrício Selbman é Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento, e também é:
- Formado em marketing e pós-graduado em gestão empresarial;
- Especialista em Dependência Química pela UNIFESP. Especialização na Europa sobre o modelo de tratamento Terapia Racional Emotiva (TRE);
- Psicanalista pela Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Professor de Especialização na Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento.