Muitos ainda consideram que o suicídio e a ideação suicida, acontece sem avisos ou motivos.
Porém isso não é verdade, o suicida dá sinais muitas vezes claros que são ignorados antes de realizar o ato.
O suicídio e a ideação suicida que o antecede são cada vez mais comuns.
Ao contrário do que se pensa 79% dos suicídios acontecem em países mais pobres, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde) e OPAS (Organização Pan-Americana de saúde) o suicídio já é a segunda causa mais comum de morte entre jovens de 15 e 29 anos.
No Brasil, acontece um suicídio a cada 46 minutos, sendo a maioria das vitimas homens negros entre 10 e 29 anos, segundo o Ministério da Saúde do Brasil.
Pensando nesses dados podemos ver que o problema é crescente e muito sério, seja no Brasil ou no Mundo.
Mas para entender melhor esse fenômeno é preciso entender primeiro o que é a ideação suicida.
O que é ideação suicida?
A ideação suicida é o ato de pensar sobre o próprio suicídio, seja uma simples consideração ou um plano detalhado e específico, por isso também é conhecido mais popularmente como pensamentos suicidas.
A ideação suicida é considerada um fator de risco do suicídio, porém pensar em suicídio não implica que a pessoa realmente irá fazê-lo, mas deve servir como um sinal de alerta.
A ideação suicida é mais comum naquelas pessoas que são portadoras de transtornos mentais.
Embora muito associada a depressão, a ideação suicida acontece em vários tipos de transtornos, sejam eles outros transtornos de humor, transtornos de personalidade ou transtornos ansiosos.
Sendo assim a ideação suicida é uma parte do fenômeno do suicídio, mas que pode ser prevenida e impedida, prevenindo assim complicações futuras.
Tipos de ideação suicida
A ideação suicida pode variar de uma simples ideia a um plano bem arquitetado, dentro disso é possível fazer uma pequena distinção entre as ideias que se apresentam com contexto suicida.
Há ideias claras e definidas, com local, método e modo, que podem apresentar um risco real e por vezes imediato, essas geralmente surgem por conta de transtornos mentais definidos e em grau mais grave.
Porém, também pode ocorrer de pessoas comuns e com a saúde mental estável que relatam casos de ideações suicidas, que podem vir ou não a cometer o ato em si.
Ocorre ainda de pessoas que tem ideias suicidas, porém não planejam se matar de verdade.
Somente procuram tirar vantagem desse fato para manipular e controlar situações ou pessoas.
Fatores que desencadeiam a vontade de se suicidar
Em qualquer doença, transtorno ou fenômeno que afete a saúde da pessoa, é possível identificar fatores de risco que são os desencadeadores ou parte das causas muitas vezes.
Dentre os fatores de risco possíveis que geram a vontade de se suicidar, os mais comuns geralmente estão ligados ao histórico familiar, acontecimentos e traumas na vida da pessoa ou transtornos mentais.
Os transtornos mais associados ao suicídio são a depressão, transtorno afetivo bipolar, transtornos relacionados ao uso de drogas, transtornos de personalidade e esquizofrenia.
Pessoas com histórico de transtornos mentais, abusos sofridos na infância ou na adolescência e famílias instáveis com algum tipo de perturbação possuem mais chances de desenvolver ideação suicida.
Da mesma forma, aquelas pessoas que sofrem acidentes ou eventos traumáticos, pois estarão em situações de vulnerabilidade que abrem as portas para sentimentos negativos e para a ideação suicida.
Eventos como a perda de um ente querido, bullying, a descoberta de uma doença crônica ou terminal, possuir uma expressão de sexualidade que não é apoiada pela família, abuso de substâncias, desemprego, fins de relacionamentos e grandes mudanças corporais, todos esses podem levar a ideação suicida.
Sintomas de ideação suicida
Os sintomas de ideação suicida são como sinais de alerta que podem indicar que a pessoa está passando por um processo de pensar ou planejar o seu suicídio.
O sentimento de desesperança constante ou de estar preso, estagnado podem ser reflexos disso, assim como alterações no cotidiano da pessoa, como rotina, modos de alimentação e de sono.
Alterações de humor podem ser sinais de uma ideação suicida, pois a concepção dessa ideia vir à mente pode facilmente mudar o humor em que a pessoa estava.
Preocupação excessiva com a morte ou sua própria morte, assim como expressar pela fala frases como “seria bom não ter nascido”, “não quero mais viver”, “alguém ligaria se eu morresse?”, expressam um claro descontentamento com vida e vontade de se matar.
Outro sinal evidente é quando a pessoa passa a falar em tom saudoso, como se nada fosse bom no presente.
Assim como falar em tom de adeus ou de que possa ser sempre a última vez que lhe vê.
Alguns podem manifestar esse desejo até forma pouco consciente, como destruindo coisas e se arriscando e vivendo de forma imprudente, de maneira irresponsável e autodestrutiva.
Esses sintomas podem variar de pessoa a pessoa, pois cada um possui um tipo de personalidade.
O que é um comportamento suicida?
O comportamento suicida ocorre quando a partir de pensamentos suicidas, a pessoa começa a ficar com o humor e atitudes abalados pela situação e começam a externar isso na forma de comportamento.
Esses comportamentos suicidas fazem parte de um processo que engloba o suicídio sucedido, a tentativa de suicídio e as ideações e pensamentos suicidas.
O termo comportamento suicida também pode ser usado para descrever todas as situações que a pessoa com ideação suicida faz que tenha relação com seu desejo de morte, como por exemplo a automutilação, comportamentos de risco como abuso de substâncias químicas, descuido com a saúde pessoal.
É importante ressaltar que os comportamentos suicidas e pensamentos suicidas não começam sem aviso prévio, eles possuem uma causa, podendo ser um evento traumático, desencadeado por sintomas de transtorno mental, histórico de suicido na família.
São várias possíveis causas e não se pode responsabilizar apenas um fator, o suicídio tem indicações biológicas, psicológicas e sociais, é impossível olhar para esse fenômeno de uma forma isolada.
O que é um pensamento suicida?
Os pensamentos suicidas derivam de uma rotina carregada e pesada ou de sinais e sintomas de apatia, angústia, tristeza, negatividade constante, baixa autoestima e ansiedade, podem contribuir para os pensamentos suicidas surgirem.
Os pensamentos suicidas vão desde o planejamento do suicídio, como as justificativas e por que isso seria necessário, podem incluir também incitações a comportamento de risco.
Um pensamento suicida também pode vir em momentos de felicidades, porém é mais comum em situações e momentos difíceis, pois toda a situação pode parecer sem solução.
Os pensamentos suicidas costumam ser também chamados de pensamentos intrusivos suicidas, pois interferem em sua linha de pensamento, poderia estar pensando em como fazer o café da manhã, contudo sua mente é tomada pelos pensamentos suicidas.
Principais fatores para o risco de suicídio
Como comentei brevemente antes, os comportamentos e pensamentos suicidas não simplesmente surgem, mas sim são resultados de um conjunto de acontecimentos e circunstâncias, tendo dentre elas um ou mais fatores determinantes.
Assim é importante esclarecer quais são os principais fatores associados ao risco de suicídio, lembrando de que apenas o fato de estar assando por um deles não é o suficiente para dizer que alguém terá pensamentos e comportamentos suicidas.
Mas sim que essa pessoa terá uma maior chance de desenvolver os comportamentos e pensamentos suicidas.
Perda ou luto
Seja a perda de um ente querido, um amigo próximo, de uma oportunidade profissional, as perdas sempre geram um desconforto, principalmente emocional, porém algumas podem ser tão fortes que ocorra uma perda de sentido da vida.
Pode acontecer relacionado a uma perda recente para a pessoa ou alguma perda de anos atrás, mas que por algum motivo externo ou interno ressurge como um problema.
É por esse e outros motivos que após alguma perda muito significativa é sempre recomendado procurar apoio psicológico/psiquiátrico, pois é um momento de forte desestruturação social e desorganização emocional.
Dependência química
A dependência química é uma doença biopsicossocial, dessa forma afeta a qualidade de vida da pessoa em diversos âmbitos e áreas distintas, por isso pode comprometer o funcionamento psíquico da pessoa.
Dessa maneira a dependência química pode desencadear outros transtornos mentais que podem contribuir para o quadro de pensamentos suicidas.
Assim como a própria dependência química, a depender do tempo de uso e da droga de preferência utilizada pode provocar sintomas depressivos e eufóricos, assim como agravar ou desenvolver pensamentos suicidas, por conta das alterações no sistema nervoso central causadas pelas drogas e do desequilíbrio emocional.
Outros transtornos mentais
Outros transtornos mentais além da dependência química também podem provocar risco de suicídio, principais exemplos são: transtornos de humor, esquizofrenia, transtornos de personalidade e transtornos ansiosos.
Esses transtornos mentais costumam fragilizar a estrutura emocional da pessoa, assim como comprometer seu desenvolvimento pessoal e profissional, mexer com áreas como imagem pessoal e autoestima.
Dessa forma abre espaço para os comportamentos e pensamentos intrusivos suicidas, inclusive ansiedade e depressão são os tipos mais comuns de transtornos mentais associados ao suicídio.
No Brasil, lideramos em casos de ansiedade e depressão, somos o país mais ansioso do mundo e o quinto mais depressivo, com 19 milhões de casos e 11,5 milhões respectivamente; segundo a OMS.
Como reconhecer o real risco de suicídio?
Estudos indicam que mais de dois terços daqueles que comentem suicídio comunicam de forma clara familiares e amigos antes de se matarem.
O melhor para esse tipo de situação é não duvidar daquilo que está sendo dito, se a pessoa diz que pensa em se matar, o ideal é que se leve a sério.
Por mais que pense que pode ser brincadeira é melhor não arriscar, afinal caso seja verdade, você poderá se arrepender profundamente.
Para reconhecer melhor esse risco é importante se atentar aos sintomas mencionados no tópico acima, pois eles são sinais de ideação suicida, que pode vir a evoluir para um suicídio.
É importante também que se procure ajuda especializada, como psicólogos e psiquiatras para que lhe ajude a tomar as medidas cabíveis e como conduzir melhor a situação.
Quais os tratamentos para ideação suicida?
É importante que, antes de iniciar o tratamento, seja realizado o diagnóstico por um psiquiatra, de acordo com os supostos pensamentos e comportamentos suicidas da pessoa.
O tratamento será planejado de acordo com a situação específica do paciente, levando em conta suas dores, angústias e problemas, identificando as possíveis causas para esses pensamentos e agindo sobre elas.
Tratamentos possíveis e confiáveis que posso lhe indicar são: grupos de apoio, psicoterapia, terapia grupo, terapia familiar, medicamentos, internações e práticas de bem-estar.
Os grupos de apoio ajudam a se identificar e conhecer outras pessoas com o mesmo problema.
Esse método é muito válido, pois a pessoa entenderá que não está sozinha e aprenderá dicas de como passar pela situação de pessoas que já passaram por isso.
As psicoterapias têm a função de explorar as razões que fazem a pessoa se entender como um suicida, assim como ensinar a ter um maior controle emocional e aprender novas habilidades.
Terapias familiares ajudam com que a família entenda que muitas vezes esses problemas suicidas possuem relação com questões familiares.
O uso de medicamentos é determinado pelo psiquiatra de acordo com a necessidade.
Como muitos pacientes que possuem ideação suicida, são portadores de transtornos, os medicamentos já indicados para essas situações acabam também tratando esse aspecto.
Além disso, práticas de saúde e bem-estar como alimentação mais saudável, rotina de exercícios regulares, ocupação mental, Mindfulness, yoga e outras práticas, ajudam a não só a pessoa se ocupar como se sentir bem consigo mesma.
Internação para quem tem pensamentos e comportamentos suicidas
Dependendo do caso pode ser requerido que o paciente fique sob vigilância médica, para que esteja seguro e receber o tratamento e cuidados que necessita.
Assim sendo acolhido por uma casa de recuperação que tenha suporte para tratar problemas relacionados à saúde mental, assim ficando pelo tempo estipulado e recebendo todo o tratamento necessário.
Quem identifica essa necessidade é o médico que acompanha o paciente geralmente isso pode ser sugerido em casos mais graves, ou após tentativas de suicídio.
Conclusão
A ideação suicida é um dos fenômenos do suicídio que pode anunciar o inicio de um processo maior.
Conscientizar as pessoas da importância do que é do tratamento de ideação suicida é também prevenir o suicídio.
Entender melhor esse processo é ajudar as famílias de pessoas que estão passando por essa situação, assim como dar voz a um problema comum.
Assim, é preciso estar atento aos sinais e sintomas da ideação suicida, para que possam ser tratados e evitar um problema maior, de modo que a ideação em si não é o problema, mas é um reflexo dele.
O Grupo Recanto está a sua disposição em casos de tratamento de saúde mental, inclusive os ligados a ideação suicida, continue lendo em nosso blog para aprender mais sobre.
Fabrício Selbman é Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento, e também é:
- Formado em marketing e pós-graduado em gestão empresarial;
- Especialista em Dependência Química pela UNIFESP. Especialização na Europa sobre o modelo de tratamento Terapia Racional Emotiva (TRE);
- Psicanalista pela Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Professor de Especialização na Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento.