A dor é uma resposta sensitiva e emocional do sistema nervoso central (SNC) para um estímulo ou experiência que oferece perigo de alguma forma, que pode danificar a integridade do corpo e da mente.
A definição de dor acima expressa bem que a dor pode ser física, porém também psicológica, e apesar de muitos associarem ela a momentos ruins, na verdade serve como um alerta do nosso corpo de que algo não está bem.
O problema surge quando, por motivos de traumas e doenças, a dor se torna crônica e passa a incomodar e até impedir de que as mínimas tarefas sejam realizadas.
Entenda abaixo o que é a dor psicológica.
O que é a dor psicológica?
Também chamadas de dores psicossomáticas, dores psicológicas não possuem efeito ou estímulo físico, apenas psicológico, por exemplo, um aperto forte no peito que é originado da angústia ou a saudade que se sente por alguém que se foi.
Já ouviu alguém dizer que toda dor é psicológica? Essa afirmação tem sentido, mas não é exatamente correta.
O que acontece é que para surgir a dor, ela primeira é captada pelos sentidos e levada para o SNC para que aconteça o processo de percepção e interpretação da dor, conferindo assim um sentido psicológico para ela.
As dores podem acontecer de forma aguda e crônica, a dor aguda é aquela dor mais curta de duração, já a crônica perdura por mais tempo e geralmente deriva de problemas que persistiram com o tempo, a dor crônica é mais comum de possuir causas psicológicas.
Quais as principais causas da dor psicológica?
Existem diversos fatores que influenciam para que a dor psicológica apareça, dentre os principais estão fatores emocionais e psicológicos, como ansiedade e depressão, pois influenciam na maneira como cada uma lida e se relaciona com a dor.
A ansiedade de que determinada dor apareça novamente, bem como o sentimento de incapacidade diante dela, pode aumentar as chances dela de fato se repetir ou até mesmo simular uma dor física de maneira psicológica.
Ansiedade
A ansiedade pode prejudicar principalmente em casos em que a pessoa já está com uma patologia que envolve dor, portanto reconhece as horas em que sente dor ao fazer algum movimento, falar, caminhar etc…
Por isso, já sabe o momento esperado daquela dor, fazendo com que quando algo onde geraria a dor esperada acontecer, pode aumentar a intensidade, ou mesmo manifestar a dor mesmo estando bem fisicamente, por conta do aspecto psicológico.
Depressão
Portadores de transtornos depressivos manifestam sintomas como, tristeza profunda, angústia, sentimento de incapacidade, sentimento de vazio, apatia, desinteresse social e isolamento social.
Não é à toa que a depressão é uma das doenças mais incapacitantes do mundo, assim deixando num ambiente perfeito para que a pessoa venha a sofrer e somatizar, isto é, tornar a dor psicológica em dor física.
Saiba mais: Ansiedade e depressão: entenda os sintomas e as diferenças
Abstinência
O processo de crise de abstinência é naturalmente conturbado e confuso, a depender do tipo de droga utilizado, tempo e forma de uso, os sintomas podem ser mais ou menos intensos.
É uma reação do corpo que já está dependente da substância e para reavê-la em períodos de não uso, provoca diversos sintomas físicos e psicológicos ruins para que cause desconforto e a pessoa retorne ao uso.
Dessa forma, muitos dos dependentes passam por dor psicológica durante a fase de abstinência, sintomas como dor no peito, intensas dores de cabeça e sentimento profundo de vazio, podem ser comuns a diversas crises de abstinência, muitas das dores sofridas no período são dores psicológicas.
Dor e nocicepção: Entenda as diferenças!
Acredito que você começou a entender um pouco mais sobre a dor, mas existe um fenômeno importantíssimo para nossa percepção do que é a dor, isto é, a nocicepção, entenda mais sobre logo abaixo.
A nocicepção é parte do processo do que classificamos como dor.
Nocicepção é a captação de danos em nossos, membros, órgãos e tecidos pelos nociceptores (receptores nervosos especiais do corpo para captação de possíveis danos e impactos nocivos).
Assim que esses dados captados pelos nociceptores são enviados ao SNC e interpretados e atribuídos de carga emocional e experiências é que temos a dor.
Características da dor psicológica: Como identificar?
A dor psicológica se manifesta de formas diferentes para cada pessoa, pois geralmente relembram dores manifestadas anteriormente, assim variando de acordo com a experiência de vida de cada um.
A maioria define esse tipo de dor como profunda e dura, difícil de passar, as mais comuns são dores na região do estômago, dores de cabeça, dores nas costas, dores na região do peito e dores musculares.
Para identificar por si só é muito difícil, mesmo médicos precisam realizar uma série de exames para descartar causas físicas e fisiológicas, para então entender que são dores de origem psicológica.
Conheça os principais tratamentos para uma Dor Psicológica:
Os tratamentos para dor psicológica são diversos e podem inclusive ser combinados para uma maior eficácia, se adequando a cada paciente, procurando identificar a causa se possível e melhorar sua saúde mental e física.
Medicamentos: Há muitos medicamentos utilizados para alívio de dores, mas num tratamento específico, ajuda a controlar outros fatores que podem vir juntos como transtornos ansiosos, transtornos depressivos, problemas com sono e apetite. Esses medicamentos devem ser usados apenas sob prescrição médica.
Psicoterapia: Por meio de conversas entre o psicólogo e o paciente é possível auxiliar a pessoa a se autoconhecer, entender seus pensamentos e comportamentos, assim como sentimentos. De forma que com o decorrer do tratamento pode-se reduzir a frequência das dores psicológicas ou mesmo retirá-las.
Internação: A internação não é exatamente para qualquer caso de dor psicológica, mas sim daquelas que acompanham processos de transtornos mentais e dependência química já acentuados ou em crise, tratando assim a causa de seu problema e o sintoma que é a dor psicológica.
Outros tratamentos como o uso de fisioterapia, técnicas de respiração e relaxamento, meditação, TENS (neuroestimulação elétrica transcutânea) assim como bons hábitos alimentares e qualidade de vida, ajudam a prevenir e tratar de dor psicológica.
Quando a dor emocional se torna física?
A esse processo dá-se o nome de somatização, que ocorre pela confusão e aflição mental em que a pessoa se encontra, de modo que a forma de dor psicológica e emocional não é o suficiente, tomando assim parte como sintomas e dores físicas.
Isso acontece geralmente sem a pessoa/paciente se dar conta que está acontecendo, ou seja, de maneira inconsciente, pois transformar emoções em dor física não é uma habilidade consciente que nenhum humano tenha.
Isso ocorre principalmente por conta de questões relacionadas a transtornos mentais, dependência química e traumas vividos, onde a pessoa não consegue conviver com tamanha dor mental ou está tentando ignorá-la, assim a mente a torna física para poder se aliviar ou como forma de aviso.
Quais são as dores psicológicas?
Agora que entende o que é uma dor psicológica e como ela se manifesta, é importante também saber quais são elas, as emoções que se condensam e formam o sofrimento mental.
Veja abaixo!
Rejeição
A rejeição é um sentimento complexo e um dos piores pelo qual se pode passar, seja ela uma rejeição amorosa, profissional, parental ou mesmo de si próprio.
Sendo esse um sentimento profundamente desolador que dá margem para outros como tristeza, abandono, angústia, solidão; podendo assim a rejeição ser um dos principais motivadores da dor psicológica.
Solidão
A solidão por vezes pode ser necessária numa rotina diariamente exaustiva, porém o problema é em quanto tempo se dedica a essa solidão, pois é um sentimento que facilmente consome a mente e toma conta.
É desolador o sentimento que ela traz, é comum que pacientes depressivos sintam ela muito mais profundamente, pois além do sentimento, procuram se isolar socialmente, assim trazendo a solidão física e emocional.
Por si só a solidão já possui uma carga de dor psicológica forte, que por vezes impulsiona outras emoções negativas que a pessoa também manifesta.
Perda e traumas
O sentimento de perda é avassalador, porque a pessoa sente que uma parte de si foi com aquela pessoa, algo ou momento que se perdeu, gera uma dor pela falta de completude, de saber que nunca mais será capaz de recuperar.
O luto, que é a vivência da perda, pode ser tão doloroso psicologicamente quanto, gerando perda de sentido de vida, tirando o prazer das coisas mais simples até as mais complexas da vida.
Os traumas também geram imensa dor psicológica, porém muitos deles ficam incubados no inconsciente por muito tempo, até que uma experiência atual faz com que a pessoa relembre as dores do trauma passado.
Claro que há também as pessoas que viveram um trauma psicológico e recordam dele, o que pode trazer dor ao relembrar, assim como impacta diretamente na personalidade, pensamentos e comportamentos da pessoa.
Ansiedade
A ansiedade patológica é extremamente prejudicial para a pessoa, pois gera desconforto e expectativas muitas vezes irreais, que ao se frustrarem geram sofrimento mental.
Aqui me refiro a ansiedade como sentimento de maneira patológica e não aos transtornos de ansiedade, assim a pessoa pode vir a desenvolver algum tipo de transtorno no futuro, porém estou focado apenas no sentimento.
Conclusão
Vimos que de certa forma o processo da dor é psicológico, seja a dor de origem física ou não, porém há aquelas dores que são geradas de modo emocional e que ocupam a mente.
Estudos indicam que mais de 45% das pessoas já passaram por algum tipo de dor psicológica pelo menos uma vez na vida, o que é muito mais comum do que se espera de um tema tão pouco conhecido.
Portanto, a dor psicológica faz parte do dia a dia de muitos, porém ser comum não a torna normal, ela pode aparecer por diversas causas, seja descontrole emocional, transtorno mental ou situações estressantes.
Fabrício Selbman é Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento, e também é:
- Formado em marketing e pós-graduado em gestão empresarial;
- Especialista em Dependência Química pela UNIFESP. Especialização na Europa sobre o modelo de tratamento Terapia Racional Emotiva (TRE);
- Psicanalista pela Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Professor de Especialização na Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento.