Desintoxicação de canabinoides: como limpar o organismo

Diferentemente do que leva a crer muitos mitos sobre a maconha, promover a desintoxicação de canabinóides não é algo rápido ou um processo que o dependente possa facilmente realizar por conta própria.

De acordo com dados do Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), 7% da população adulta do Brasil já experimentou maconha ao menos uma vez na vida, o que representa um total de 8 milhões de pessoas.

Apesar de ser taxada como “natural”, essa droga causa vício, inclusive com desenvolvimento da síndrome de abstinência, quando o uso é interrompido. 

A pesquisa mostra, inclusive, que um terço dos usuários apresenta dependência.

Hoje, sabemos que o uso de canabinóides pode causar danos irreversíveis ao cérebro. 

Aliás, pode haver alterações no formato do hipocampo de pessoas que fizeram uso contínuo da maconha, como descreve este estudo. 

Para quem não sabe, o hipocampo é a área do cérebro responsável pela formação de novas memórias, além de estar associado à aprendizagem e às emoções.

Ou seja, o seu consumo, sobretudo em níveis abusivos, pode trazer inúmeros prejuízos para o dependente – isso sem falar no sofrimento relacionado aos familiares.

Com base na minha experiência como diretor do Grupo Recanto, decidi preparar um artigo completo sobre o assunto, desvendando mitos e trazendo informações confiáveis a respeito do processo de desintoxicação e tratamento.

Siga acompanhando!

O que são os canabinóides?

Os canabinóides são definidos como uma classe de compostos químicos ativos que são produzidos pela Cannabis sativa, conhecida cientificamente como a planta que dá origem à maconha.

Ao entrar em contato com o organismo, as substâncias têm ação sobre o sistema endocanabinóide humano, que compõe uma rede de regulação que tem como função manter o equilíbrio do corpo.

Assim, os canabinoides da planta, também chamados de fitocanabinoides, alteram o ciclo de liberação de neurotransmissores para o cérebro, o que gera os efeitos psicoativos conhecidos.

Alguns dos mais conhecidos são o tetra-hidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD), porém mais de cem moléculas como elas já foram identificadas na Cannabis.

Os principais tipos de canabinoides

São dois os principais tipos de canabinóides, sendo um deles o THC, que possui funções psicoativas que apresentam efeitos antieméticos e também analgésicos. 

O outro tipo se chama canabidiol, essas duas substâncias são parecidas, onde as mudanças se encontram nas ligações químicas entre seus compostos. O canabidiol é o segundo canabinóide mais produzido, ficando atrás do THC. Ele possui propriedades medicinais, e se usado da forma correta pode ajudar com inflamações, dores e convulsões.

Quais plantas possuem canabinóides?

Há  muito tempo se pensava que os canabinóides eram somente encontrados na cannabis, mas foi descoberto que outros vegetais também produzem as substâncias que recebem esse nome.

Entre algumas plantas populares, tem como exemplo o girassol, que é produtor de CBG e precursor de CBD. Também existe uma planta bastante famosa e é dela que vem uma especiaria que está na receita de todo brasileiro: a pimenta preta. Ela também produz canabinóides, e sua substância é o BCP, também presente em cravos da Índia, por exemplo.

Os canabinóides estão presentes também em iguarias caras difíceis de encontrar, como por exemplo, a trufa negra, uma produtora de anandamida que age de forma semelhante ao THC no organismo.  

As principais vias pelas quais os canabinóides entram no corpo humano

Muito dos produtos que possuem canabinóides têm sua principal via de entrada pelo corpo, durante a ingestão, uma vez que a maioria dessas substâncias estão presentes em plantas que são comestíveis, como pimenta preta, trufas negras, cravo da índia, provando que sua maiores interações com nosso corpo começa através do estômago. 

Quais são os efeitos da ingestão de canabinóides?

Como componentes da maconha, os canabinoides são os responsáveis pelos efeitos da droga no corpo e no cérebro. 

Alguns deles são de curto prazo, enquanto outros estão relacionados ao uso prolongado.

Prejuízos respiratórios

Assim como ocorre com o uso prolongado do tabaco, fumar maconha também pode trazer inúmeros prejuízos ao sistema respiratório.

Alterações inflamatórias em diferentes regiões do trato respiratório, incluindo bronquite crônica, produção de catarro e dispneia são algumas das consequências mais comuns.

Limitações cognitivas

Muito se fala sobre os prejuízos cognitivos dos canabinóides em dependentes químicos que fazem uso da maconha, mas poucas pessoas têm noção do quão complexos e extensos eles podem ser.

Atenção, memória, funções executivas e controle inibitório de respostas são algumas das funções mais afetadas. 

A lista inclui ainda: 

• Alteração da velocidade psicomotora
• Diminuição da performance cognitiva complexa, incluindo a inibição de respostas automáticas do corpo
• Redução da capacidade de abstração
• Falhas de memória, sobretudo na imediata
• Dificuldade para evitar comportamentos inapropriados
• Aumento do tempo necessário para a conclusão de tarefas cognitivas.

Ansiedade e humor alterado

É comum ouvir que a maconha exerce efeito tranquilizante sobre o organismo. 

No entanto, tem-se percebido que adictos apresentam maior prevalência de transtornos de ansiedade, por exemplo.

Reações agudas de pânico também estão entre seus efeitos adversos mais comuns, como mostra estudo publicado na Human Psychopharmacology: Clinical and Experimental.

Já uma pesquisa divulgada na revista Addiction demonstrou uma relação entre o uso da maconha e a presença de transtornos depressivos.

O que é a síndrome de hiperêmese por canabinóides?

Muitas vezes o uso da cannabis é altamente excessivo, por conta de suas propriedades viciantes, por conseguinte  suas substâncias psicoativas em grandes níveis, podem causar um distúrbio na interação cérebro e intestino, sendo assim ocorrem os episódios de hiperemese que consiste em vomitos excessivos, dores abdominais, que são difíceis de parar. Médicos especialistas dizem que para que se pare com a síndrome deve-se interromper o consumo de cannabis imediatamente. 

Por quanto tempo a maconha fica no organismo?

Definir quanto tempo a maconha fica no organismo é uma resposta relativa. 

Afinal, ela é influenciada por fatores diversos, como frequência do uso, nível de consumo, metabolismo e o tipo de teste utilizado.

Um exame de urina, por exemplo, normalmente é capaz de identificar o consumo, em casos moderados, em um período de até 13 dias após o uso.

Já para quem consome diariamente, o período pode chegar a cerca de 30 dias.

O teste de queratina, feito a partir de amostras de cabelo, chega a realizar a identificação até 180 dias após o uso.

Agora, quando falamos em quanto tempo leva para desintoxicar o organismo, o assunto é outro, como explico a seguir.

Quanto tempo demora para limpar o organismo das drogas?

Limpar o organismo das drogas é um processo que está ligado à desintoxicação, etapa fundamental do tratamento relacionado à dependência química.

Por isso, tenha sempre em mente: estamos falando de um problema complexo, que exige uma abordagem com a mesma capacidade de resposta.

Com a experiência que adquirimos aqui no Grupo Recanto durante o atendimento de milhares de pacientes, oferecemos um tratamento com duração de seis meses.

Ele prevê não apenas a limpeza do organismo, como também a proposição de recursos que permitam ao interno lidar melhor com o pós-tratamento.

Existe uma forma de eliminar as drogas do organismo rapidamente?

Rapidez é uma palavra que não pode ser colocada como pré-requisito durante um tratamento de recuperação do dependente químico. 

O importante é pensar na efetividade. 

Afinal, existe um longo caminho a ser percorrido entre a pré-contemplação, quando o adicto sequer reconhece o problema, e a manutenção dos resultados positivos alcançados.

Você pode entender melhor lendo meu artigo sobre os estágios do tratamento da dependência química.

Como limpar o organismo das drogas?

O que quero dizer com tudo isso é que limpar o organismo das drogas não é apenas sobre garantir que o dependente passe um período sem consumir a substância relacionada ao seu vício.

Para que o tratamento seja efetivo, é importante que ele venha acompanhado de todo o suporte psicológico e de autogestão necessários.

No Grupo Recanto, utilizamos a abordagem biopsicossocial, um método humanizado e individualizado, proposto com base em protocolos de respaldo científico.

Por meio dela, cada interno é compreendido e tratado em seu contexto biológico, psicológico e social.

Isso significa que são consideradas questões genéticas, bioquímicas, relações familiares, nível de sociabilidade, personalidade e vivências.

O objetivo é levar o paciente a um estado de consciência que permita a ele compreender a doença e as suas limitações diante dela.

Ao mesmo tempo, o indivíduo também é introduzido em um modelo de psicoterapia chamado de Terapia Racional Emotiva (TRE), no qual aprende a lidar com as expectativas oriundas de crenças irracionais que criou.

Como consequência, passa a desenvolver uma visão mais realista em relação aos seus sentimentos e comportamentos, o que o torna menos vulnerável às próprias emoções, que podem ser traiçoeiras.

Para completar o tripé de tratamento, é aplicada a lógica dos programas de 12 passos, adotada em grupos de mútua ajuda, como os Alcoólicos Anônimos (AA).

Aqui, o foco está em criar um elo saudável com a sua espiritualidade e aprender a se responsabilizar por suas ações. 

Passo após passo, o adicto consegue perceber o quanto avançou e se distancia do início do caminho, quando isso parecia impossível.

A força de todo esse trabalho está na multidisciplinaridade, que aborda o paciente e a sua família em diferentes frentes, mas como uma só unidade de cuidado.

Ao todo, são mais de 100 profissionais com experiência em saúde mental, entre médicos clínicos, psiquiatras, psicólogos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, terapeutas ocupacionais, consultores em dependência química, educadores físicos e instrutores de yoga e meditação.

Como funcionam os remédios de desintoxicação de canabinóides?

Com alguma frequência, ouço perguntas como “qual remédio é usado para tirar a droga do corpo?”.

A verdade é que a resposta depende da gravidade do quadro e da avaliação médica.

E é justamente por isso que sempre destaco a importância da internação e do acompanhamento especializado para superar a dependência em canabinoides ou qualquer outro componente psicoativo.

Em termos científicos, inúmeros estudos laboratoriais têm sido realizados para testar medicações para o tratamento dos sintomas da abstinência, porém sem resultados conclusivos.

Inclusive, alguns dos remédios mais comuns não demonstraram eficácia nessa condição, como mostra artigo publicado na Revista Brasileira de Psiquiatria.

Os remédios de desintoxicação de drogas são legais?

Aqui no Grupo Recanto, os medicamentos eventualmente utilizados têm como objetivo minimizar, sobretudo, os sintomas causados pela abstinência e garantir a segurança do paciente.

Outra situação comum é o uso de medicamentos para tratar quadros associados, o que pode incluir antibióticos e antivirais, por exemplo.

Então, nenhuma droga ilegal vai ser administrada.

Desintoxicação natural: quais substâncias naturais são desintoxicantes?

O que é possível fazer é auxiliar o corpo com a desintoxicação de forma natural, como explico nas dicas a seguir.

Mas lembre que todas as medidas devem fazer parte de um tratamento sério e especializado.

Afinal, não existe solução caseira para vencer a dependência química

Beba água

A água é um ingrediente fundamental para a manutenção da saúde de qualquer pessoa. 

Quando o assunto é a desintoxicação do corpo, seja por conta do uso de drogas ou não, ela assume um papel ainda mais central.

Isso porque ela limpa o organismo e ajuda a eliminar as toxinas com mais eficiência. 

Em resumo, a água auxilia no bom funcionamento de todo o corpo.

Chás e sucos naturais

Os chás e sucos naturais são, inclusive, uma forma de ingerir mais líquidos.

Além disso, quando bem selecionados ao seu propósito, podem trazer benefícios adicionais.

Alguns deles têm potencial de acelerar o metabolismo e ajudar na eliminação de líquidos acumulados e toxinas.

Canabinóides no tratamento da dor crônica

É comprovado cientificamente que os canabinóides possuem propriedades medicinais, que são usadas desde a descoberta do cultivo da cannabis  por diversos povos do mundo. 

Sendo assim uma dessas propriedades, é o seu uso para tratar dores crônicas, uma vez usada na proporção correta, essa substância tem o poder de aliviar dores com base nos canabinóides. Um exemplo deles é o canabidiol, que além de diminuir tensões,  podem ser usadas para controlar ataques epiléticos, ajuda no tratamento de dores por conta de suas propriedades relaxantes e anestésicas.  

Doenças que podem ser tratadas com o uso de canabinóides

Desde da antiguidade possuem propriedades medicinais, que são recorrentemente usadas como técnicas de tratamento, por milênios,  e ainda nos dias atuais existem estudos que tentam explorar cada vez mais seu uso medicinal.

Dentre as várias doenças, podemos dizer que essas substâncias podem ser usadas para tratamentos de ansiedade, mal de alzheimer, muitas vezes receitados para pessoas com autismo, dores crônicas e o seu mais famoso uso é para casos epilépticos. Para que seu uso seja feito corretamente é preciso que passe pela avaliação de médicos, psiquiatras que irão receitar a dosagem correta, para que preserve-se o corpo dos efeitos colaterais, causados por grandes doses. 

Síndrome de abstinência de canabinóides: como aliviar os sintomas?

Fraqueza, ansiedade, inquietação, depressão e insônia são alguns dos sintomas mais comuns relacionados à síndrome de abstinência de canabinóides.

Em geral, eles aparecem 24 horas após o último uso e atingem o seu pico em 2 a 3 dias. 

Por conta da intensidade que podem assumir, o acompanhamento em clínica especializada ainda é o melhor caminho.

Além disso, sempre é possível focar em alguns cuidados adicionais, como os que menciono a seguir.

Manter a hidratação

Sim, acabei de falar sobre como a água pode ser um desintoxicante natural, mas vale reforçar a importância de manter a hidratação em dia, inclusive como forma de evitar novas doenças e até sobrecarga renal.

O mesmo vale para a alimentação equilibrada, que promove o bem-estar do organismo.

Comidas muito pesadas, açucaradas e gordurosas, por outro lado, podem ter efeito inflamatório e dificultar o processo de desintoxicação.

Praticar atividades físicas

Desviar o foco e direcionar a energia do paciente para outras atividades também é uma maneira de aliviar os efeitos causados pela síndrome de abstinência.

É o caso dos exercícios físicos, que têm como vantagem adicional a capacidade de ativar a circulação sanguínea, o que favorece a produção do suor e a eliminação das toxinas presentes no corpo.

Mas mesmo atividades lúdicas ou que despertem o interesse do adicto podem ser bem-vindas, sobretudo porque permitem encontrar prazer em pequenos gestos do dia a dia, longe das drogas.

Receber auxílio especializado

Vale ressaltar o que pontuei ao longo de todo o artigo: nada substitui o atendimento realizado em uma clínica especializada no assunto.

Uma equipe treinada e experiente sempre vai saber quais são as melhores técnicas, os medicamentos indicados e que outras atividades de caráter multidisciplinar podem ajudar o paciente a passar por esse momento de maneira mais tranquila.

Outro item fundamental é a segurança, tanto do indivíduo quanto das pessoas que vivem ao seu redor: a crise de abstinência pode render sentimentos e ações agressivas, difíceis de lidar para quem não é profissional da área.

Conclusão

O primeiro ponto que considero sempre que falo sobre maconha e canabinóides é que não se trata de uma droga inofensiva, sem efeitos adversos e perigosos.

A facilidade de acesso a ela também é um aspecto que mostra a importância de redobrar os cuidados.

Afinal, sobretudo em longo prazo, existe um impacto na estrutura cognitiva que não pode ser ignorado.

Como diretor do Grupo Recanto, sempre reforço à equipe que é fundamental manter um diálogo claro e efetivo sobre esses pontos.

Estabelecer um clima de acolhimento e de compreensão diante das dúvidas e das dificuldades dos familiares no momento de crise é o primeiro passo para melhorar a comunicação de todos e promover a motivação do interno em mudar.

Pode não ser uma tarefa fácil, mas ela é essencial e deve ser reforçada diariamente, como parte do trabalho desenvolvido.

Já pensou em oferecer a quem você ama esse suporte? 

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