Cotidianamente usamos a palavra vício para definir uma preferência de uma pessoa a algo, porém seu real significado é bem mais pesado do que parece.
O vício se refere a uma dependência extrema de algo, de forma compulsiva causando um consumo excessivo.
Essa dependência é em um nível que atrapalha todos os setores da vida pessoal do viciado, de maneira tal que a pessoa fica comprometida física e psicologicamente, assim tornando o objeto de vício o seu objetivo principal de prazer.
Um vício costuma demandar tanto tempo e atenção que começa a gerar prejuízos, pois o vício perpetua um ciclo de euforia e depressão.
A euforia e o prazer vem na hora do consumo do seu vício e a depressão na falta dele, fazendo assim com que procure retornar ao estado de prazer.
Mas o que o vício faz com uma pessoa? O que pode causar o vício?
Para saber e entender as respostas para essas perguntas e muito mais continue acompanhando o texto!
O que é o vício?
A palavra vício pode ter muitos significados, porém o que abordaremos a fundo aqui é a concepção da OMS (Organização Mundial de Saúde) que a considera como uma doença de aspectos físicos, emocionais, psicológicos e sociais.
O vício é um aspecto da dependência, seja ela uma dependência química, de jogos, emocional, tecnológica, sexual ou de qualquer outro tipo.
Resumidamente o vício é um conjunto de pensamentos, crenças e comportamentos que perpetuam em torno de algo de forma a trazer prejuízos pelo tempo investido e pela compulsão e obsessão mental, seja isso uma droga, um jogo ou um ato.
De forma que mesmo que tenha que se afastar dos amigos, ou cometer atitudes contra a sua moral e criminosas a pessoa fará, os prejuízos é que define a passagem do hábito para o vício.
Quais são as drogas consideradas mais viciantes?
Todas as drogas sejam elas lícitas ou ilícitas possuem potencial de gerar vício, porém umas mais fortemente que as outras e é justamente sobre isso que falaremos aqui:
Drogas lícitas
O álcool ainda é a droga mais consumida no mundo todo, no Brasil a quarta etapa da Pesquisa Nacional de Saúde constatou que, em 2019, 26,4% das pessoas maiores de idade beberam pelo menos uma vez por semana.
O perigo do álcool se dá mais na sua ampla aceitação social, as pessoas acabam não percebendo que já estão viciadas e ignoram fatos e sinais da dependência.
Além disso, segundo a OMS o álcool é responsável por 2,6% das mortes no mundo.
A nicotina, mais conhecida pelo cigarro, que não só a contém como mais 4,7 mil substâncias tóxicas, porém, a nicotina é a principal quando se trata sobre vício, sendo a segunda droga mais consumida no mundo inteiro.
Apesar do consumo do cigarro vir caindo em termos absolutos, a OMS informa que o tabagismo voltou a crescer em países mais desenvolvidos e está diminuindo em países menos desenvolvidos.
Segundo os dados, os fumantes já passam de 1 bilhão de pessoas no globo e a dependência do cigarro esteve diretamente ligada a 7,6 milhões de mortes em 2019 globalmente.
Drogas ilícitas
A tão conhecida maconha já é a terceira droga mais consumida, contando lícitas e ilícitas, perdendo apenas para o álcool e para o tabaco.
O consumo no ano de 2017 sobre a maconha foi de 188 milhões de pessoas que afirmaram que haviam feito o uso pelo menos uma vez, o uso dessa droga muitas vezes se inicia precocemente.
O índice de THC (tetra-hidrocanabinol) substância psicoativa da maconha vem subindo cada vez mais, seja na maconha “natural”, no haxixe ou na maconha concentrada em óleo, onde os índices de THC chegam a absurdos 85%, desse modo cada vez mais pessoas se viciam.
A maconha feita e cultivada de modo natural hoje é mais difícil de se encontrar que as modificadas geneticamente.
Além de melhoramentos genéticos para sobreviver a diversos ambientes, há também um aumento seletivo das substâncias psicoativas, o que acaba facilitando o acontecimento da dependência.
Drogas como heroína e crack podem viciar nos primeiros usos, sendo as duas drogas mais viciantes atualmente, além de possuírem um imenso potencial destrutivo.
As duas possuem efeitos de rápida interação cerebral, podem começar em questão e segundos após o consumo e podem viciar tanto fisicamente quanto psicologicamente desde o primeiro uso.
A cocaína ainda é um problema no Brasil, droga antes que era considerada um recurso de pessoas mais elitizadas e ricas, acabou por se espalhar por todas as classes sociais, perdendo apenas para seu subproduto que é o crack.
Ainda existem muitas outras drogas com potenciais assustadores, porém seu consumo é restrito a certas localidades e comunidades, mas que vem crescendo com o passar do tempo, são elas: Anabolizantes, LSD, Purple Drank, MD, êxtase e muitas outras.
O que um vício causa no organismo
Além dos danos psicológicos e sociais por conta do vício, ainda há seu efeito no organismo.
Quando o vício é formado é porque de alguma forma a substância ou a prática afetou o sistema de busca e recompensa do nosso cérebro, seja através dos neurotransmissores ou por alteração hormonal ou até mesmo lesão.
Todos os tipos de vício afetam o nosso corpo, um mais do que os outros, como por exemplo o vício em drogas, pois ela traz uma alta carga de substâncias no corpo, acaba por gerar efeitos adversos.
É importante salientar que a dependência pode ser a porta de entrada para muitas comorbidades que prejudicam o organismo, causado pelo estilo de vida de um viciado, exemplos são a diabetes, pressão alta, transtornos mentais, cânceres e muito mais.
O corpo de um viciado tende a liberar muito mais substâncias neurotransmissoras geralmente associadas a sensações de bem-estar e prazer, formando assim no corpo uma compulsão que leva a dependência física da substância.
Como uma pessoa se torna viciada?
Antes do vício vem o hábito!
É difícil perceber a transição do hábito para o vício, mas entende-se que a etapa do vício é quando a prática do consumo daquilo que lhe causa compulsão começa a trazer prejuízos à vida.
Seja por prejuízos no trabalho, nas relações interpessoais, na relação familiar, em suas atividades de rotina, o vício começa a corroer cada espaço da vida e logo se torna o objetivo principal.
Levando em conta experiência pessoal e como diretor à frente de uma rede de clínicas de recuperação, já pude observar muito que o vício surge para cobrir um “buraco” que falta na vida daquela pessoa ou como forma de compensação pela falta.
Por exemplo, uma pessoa que teve uma infância carregada de abusos psicológicos e físicos, pode usar as saídas de fim de semana com os amigos para esquecer desses fatos ou suprimir as dores.
Logo isso vira um hábito e quando menos se espera já não consegue mais se livrar nem parar com o consumo e surge o vício.
Todo vício é ruim?
Sim, todo vício é ruim!
O vício gera pensamentos obsessivos e comportamentos compulsivos com relação ao objeto do desejo, de modo a comprometer as outras áreas da vida.
A definição de vício está atrelada a comportamentos ruins e degradação da vida da pessoa em função da extrema necessidade de consumir o vício, seja drogas, sexo, comida ou jogos.
Aquela expressão popular “tudo em excesso faz mal” se aplica aqui!
Existe cura para o vício?
Não!
Para o vício existe apenas tratamento, cura não.
Apesar de não ser possível curar a pessoa, é possível retirar os sintomas e sinais da dependência e traçar uma nova vida longe do vício se tiver um tratamento adequado.
Para isso é necessário um tratamento multidisciplinar que trate não apenas do organismo, mas também do psicológico e do social da pessoa.
Reprogramando o modo como a pessoa pensa e suas crenças, para que não retorne a repetir seu comportamento de vício.
Após o tratamento é necessário manter cuidados específicos e contínuos para que continue distante da vida que tinha enquanto viciado.
Quanto tempo demora para se livrar de um vício?
O tempo ao certo é difícil de definir, pois depende do tipo de tratamento escolhido e também da experiência particular da pessoa.
Uns podem ter reações e relações mais fortes ou mais fracas.
Segundo a recomendações da OMS e da Pnad (política nacional sobre drogas) pelo decreto n° 9.761, de 11 de abril de 2019, o tratamento para o vício deve ser um tratamento abrangente e com uma equipe multiprofissional para garantir mais eficácia, uma vez que a dependência é considerada um problema multifatorial.
Dessa forma a melhor opção seria em uma clínica de recuperação, onde podem ser oferecidos variados tipos de tratamento e suporte completo para as necessidades individuais de cada um.
Os tratamentos em clínicas de recuperação costumam durar de 3 a 6 meses a depender do modelo de tratamento e do tipo de internação.
A importância da clínica de recuperação no tratamento do vício em drogas
Para tratar um vício é necessário muito mais do que retirar a compulsão e obsessão da pessoa, é preciso entender o que motivou e ocasionou esse vício, assim tratando das raízes.
É importante também tratar das doenças e transtornos associados à dependência química, assim como os sinais e sintomas deixados pelo uso/abuso das substâncias, de modo que tratar das comorbidades é também tratar da dependência química.
Fazer isso enquanto trata da dependência em si, buscar e tratar dos motivos e mudar o funcionamento dos pensamentos e crenças da pessoa, enquanto renova corpo e mente.
Somente uma clínica de reabilitação pode fazer isso de maneira planejada e completa.
Isso só é possível graças aos múltiplos tipos de tratamentos oferecidos, dentre eles psicoterapia, terapia de grupo, uso de medicamentos, aconselhamento em dependência química, o guia do programa dos doze passos, atividades complementares e diversos outros tipos de atendimentos.
Essa abordagem multiprofissional e multidisciplinar só é possível numa clínica de recuperação, além disso na clínica a pessoa também é preparada para viver numa vida de total abstinência das drogas e como manter esse estilo de vida.
Conclusão
O vício é um problema que muitas vezes começa silencioso e vai se instalando sem que a pessoa perceba, a prática leva ao hábito, o hábito leva a o vício.
A pessoa só percebe quando sua vida está virando totalmente para o ar, ficando confusa ou se afastando de alguém.
A maioria das pessoas não escolhe com o que se viciar de maneira consciente, afinal normalmente ninguém vai querer se aprisionar e ser escravo de um objeto ou ato.
Um viciado é escravo de sua própria vontade, sua sede insaciável por mais daquilo e sua busca obsessiva o obrigam a continuar buscando o objetivo de seu prazer, de modo que é triste ver uma pessoa executando as vontades de sua mente tomada.
A repetição é a marca do vício, é o que perpetua sua formação e também aquilo que se acentua quando efetivado.
Para quem se identifica com o que foi mostrado no texto ou que conseguem identificar um amigo ou familiar nesse estado, busquem tratamento urgente.
Agradeço a sua companhia conosco até aqui, para mais esclarecimentos sobre o tema, continue lendo nosso blog!
Fabrício Selbman é Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento, e também é:
- Formado em marketing e pós-graduado em gestão empresarial;
- Especialista em Dependência Química pela UNIFESP. Especialização na Europa sobre o modelo de tratamento Terapia Racional Emotiva (TRE);
- Psicanalista pela Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Professor de Especialização na Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento.