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Deficiência Intelectual: Perspectivas de Intervenção e Reabilitação
Publicado em: 09 de agosto de 2023

Atualizado em: 25 de setembro de 2024

Deficiência Intelectual: Perspectivas de Intervenção e Reabilitação

O funcionamento cognitivo é uma característica humana amplamente estudada por profissionais da medicina, neurociência, psicologia, pedagogia e outras áreas. A pesquisa sobre os processos cognitivos têm avançado significativamente, ganhando cada vez mais espaço.

A deficiência intelectual, anteriormente chamada de “retardo mental”, é uma alteração cognitiva que compromete as funções mentais, trazendo dificuldades significativas para a vida das pessoas afetadas. 

O termo retardo mental foi substituído por “deficiência intelectual” no DSM-5 para utilizar uma terminologia mais sensível e precisa, alinhada com outras classificações internacionais.

Nesse contexto, é crucial debater os principais aspectos relacionados a essa condição, incluindo sua definição, tipos, diagnóstico, causas, opções de tratamento e a importância do apoio familiar.

Deficiência intelectual o que é?

retardo mental

A deficiência intelectual é um transtorno do neurodesenvolvimento que resulta em dificuldades nas esferas cognitivas do indivíduo. Anteriormente conhecida como retardo mental, esse termo está em desuso devido à sua conotação depreciativa, associada à palavra “retardado”.

Manifestando-se na infância, a deficiência intelectual traz repercussões ao longo da vida, incluindo dificuldades no processamento de informações, aprendizagem e habilidades de interação social. 

Segundo o protocolo para diagnóstico etiológico da deficiência intelectual, disponível no website do Governo Federal, esse transtorno é mais comum em pessoas do sexo masculino.

O diagnóstico geralmente ocorre na infância ou início da adolescência, com os sintomas se manifestando principalmente no contexto escolar e no desenvolvimento de habilidades como fala e raciocínio lógico.

Tipos de deficiência intelectual

O tipo de deficiência intelectual vai depender do nível de QI do sujeito. Esse percentual é realizado a partir da aplicação de testes e o resultado vai enquadrar o paciente em algum dos tipos de deficiência intelectual. 

Para ser enquadrado em um nível de desenvolvimento cognitivo adequado, o paciente deve ter um resultado acima de 85 pontos de QI.

Leve

A principal característica da deficiência intelectual leve é a presença de dificuldades cognitivas que, embora não incapacitam totalmente as atividades acadêmicas e sociais do indivíduo, ainda representam desafios significativos. 

Mesmo com essas dificuldades, o indivíduo pode desenvolver essas atividades de maneira minimamente adequada. As características específicas incluem:

  • – Imaturidade em comparação com pessoas da mesma idade;
  • – Dificuldades escolares, especialmente em leitura, escrita e matemática;
  • – Comprometimento da capacidade de fazer julgamentos;
  • – Dificuldades com organização e planejamento nas tarefas diárias;
  • – Avaliação inadequada de situações perigosas;
  • – Pouca compreensão de pensamentos abstratos, como o significado de metáforas e provérbios;
  • – Dificuldade para lidar com dinheiro;
  • – Impulsividade;
  • – Dificuldade durante interações sociais, incluindo problemas na percepção de sinais sociais e na comunicação.

Além disso, pessoas com deficiência intelectual leve podem se beneficiar de estratégias de ensino adaptadas, suporte emocional e social, e intervenções direcionadas para desenvolver habilidades práticas e sociais.

Essas intervenções são essenciais para melhorar a qualidade de vida e promover a independência dos indivíduos.

Moderado

A deficiência intelectual moderada é caracterizada por um quociente de inteligência (QI) entre 35 e 55. Indivíduos com esse nível de deficiência apresentam um desenvolvimento mais lento de habilidades básicas, como aprender a falar ou sentar. Com tratamento e apoio adequados, podem alcançar algum grau de independência.

Características principais incluem:

  • Desenvolvimento Cognitivo: Aprendizado mais lento e dificuldades em áreas acadêmicas básicas;
  • Comunicação: Dificuldade em articular pensamentos e compreender instruções complexas;
  • Autocuidados: Necessitam de suporte para higiene pessoal, vestimenta e alimentação, mas podem aprender com supervisão;
  • Habilidades Sociais: Problemas na interação social e interpretação de sinais sociais;
  • Auto-orientação: Dificuldades em tomar decisões independentes e se orientar em novos ambientes;
  • Rendimento Escolar e Trabalho: Capacidade limitada para tarefas complexas, mas podem realizar tarefas simples com treinamento;
  • Lazer: Participação em atividades recreativas com suporte;
  • Saúde e Segurança: Necessitam de orientação para seguir práticas de segurança e cuidados com a saúde.

Grave

A deficiência intelectual grave é caracterizada por um quociente de inteligência (QI) entre 20 e 40. Adultos com essa condição têm uma idade mental de 3 a menos de 6 anos e necessitam de assistência permanente. 

Compreende-se que esses pacientes apresentam grau severo de prejuízos intelectuais, funcionais e motores. 

Frequentemente, podem ter déficits visuais e auditivos, indicando lesões cognitivas ou desenvolvimento inadequado do cérebro. São indivíduos que requerem cuidados especiais ao longo de toda a vida.

Causas da deficiência intelectual

Os neurônios são unidades fundamentais no sistema nervoso, compostos por dendritos que recebem sinais de outros neurônios e um axônio longo que transmite sinais adiante. 

As espinhas dendríticas, presentes nas sinapses excitatórias, são cruciais para a plasticidade sináptica, que sustenta o aprendizado, a memória e a cognição. A remodelagem das sinapses e as mudanças nas espinhas dendríticas formam a base anatômica desses processos.

Além disso, mutações em genes do cromossomo X que afetam proteínas envolvidas na morfologia das espinhas dendríticas, na liberação de neurotransmissores e no crescimento dos axônios são associadas ao retardo mental. 

A hipótese atual sugere que a deficiência intelectual  pode resultar de defeitos na estrutura e função das sinapses neuronais.

Embora a ideia de uma dieta pobre em fenilalanina como prevenção do retardo mental não seja aplicável de forma geral, o entendimento dessas causas tem impulsionado pesquisas e avanços no diagnóstico e tratamento. 

Investigar a etiologia do retardo mental é crucial não apenas para esclarecer o quadro para as famílias, mas também para determinar o risco de recorrência, planejar exames adequados, instituir intervenções apropriadas e proporcionar suporte contínuo ao paciente e à família através de grupos de apoio.

Quais são os sinais e sintomas da deficiência intelectual?

A deficiência intelectual se manifesta através de diversos sinais e sintomas que afetam o aprendizado, compreensão e execução de atividades cotidianas comuns. É importante estar atento a esses indicativos para buscar orientação profissional adequada.

  1. Atraso no desenvolvimento:

Crianças com problemas de desenvolvimento em alguma habilidade costumam ser sinal de que algo não vai bem. Esteja atento aos sinais da criança e consulte o pediatra dela, a fim de receber uma primeira orientação adequada.

  1. Falta de interesse:

A falta de curiosidade e interesse pelas atividades e ambiente ao redor pode ser um sinal de deficiência intelectual. Crianças que parecem alheias ao mundo ao seu redor necessitam de avaliação profissional.

  1. Isolamento familiar:

É natural que as crianças saiam da casa dos pais por alguns momentos, até mesmo por sua curiosidade natural de descobrir o mundo. 

Entretanto, quando esse afastamento é intenso ou repentino, sem motivo aparente, é preciso averiguar o que está acontecendo, porque pode ser um sinal de depressão, de sofrimento emocional ou psíquico.

  1. Problemas de aprendizado:

Ao final da educação infantil, dificuldades persistentes de aprendizado podem sugerir deficiência intelectual. Alguns sintomas comuns incluem:

  • Confusão no uso de palavras direcionais (dentro, fora, em cima/embaixo, direita/esquerda);
  • Dificuldades de coordenação motora grossa e fina;
  • Dificuldades em reconhecer cores, números, letras e associar letras a sons;
  • Dificuldade com sequências, contar e memorizar fatos numéricos;
  • Dificuldade para aprender cantigas infantis com rimas e pronúncia confusa de palavras;
  • Identificar esses sinais precocemente permite a intervenção adequada e o suporte necessário para a criança e sua família, promovendo um desenvolvimento mais positivo e inclusivo.

Como é feito o diagnóstico

retardo mental

O diagnóstico de deficiência intelectual é estabelecido com base em três critérios fundamentais: início do quadro clínico antes dos 18 anos de idade; funcionamento intelectual significativamente abaixo da média, demonstrado por um quociente de inteligência (QI) igual ou menor que 70; e deficiência nas habilidades adaptativas em pelo menos duas das seguintes áreas: comunicação, autocuidados, habilidades sociais/interpessoais, auto-orientação, rendimento escolar, trabalho, lazer, saúde e segurança.

Esses critérios são essenciais para uma avaliação precisa e direcionada, realizada por profissionais especializados na área.

O que fazer para ajudar uma pessoa que apresenta esse quadro?

Para oferecer suporte adequado a uma pessoa com deficiência intelectual, considere as seguintes diretrizes:

  • Promova autonomia, permitindo que a pessoa realize atividades diárias para desenvolver suas habilidades;
  • Interaja naturalmente ao se dirigir a ela, mantendo um tom respeitoso e considerado;
  • Adapte sua abordagem conforme a idade da pessoa: trate crianças como crianças, adolescentes como adolescentes e adultos como adultos;
  • Cumprimente e despeça-se normalmente, incluindo-a nas interações sociais como faria com qualquer pessoa;
  • Dedique atenção e converse de maneira amigável e inclusiva;
  • Evite superproteção; encoraje a independência e intervenha apenas quando necessário;
  • Reconheça e valorize suas capacidades, evitando subestimar sua inteligência e potencial de aprendizado tanto intelectual quanto social;

Seguir essas orientações não apenas facilita a inclusão e o desenvolvimento da pessoa com deficiência intelectual, mas também promove um ambiente de respeito, apoio e integração social.

Opções de tratamento 

O tratamento da deficiência intelectual varia de acordo com a gravidade do quadro e inclui terapias de reabilitação, estimulação e, quando necessário, suporte medicamentoso. 

Exames complementares, como ressonância magnética de crânio e cariótipo, são realizados conforme a suspeita clínica de cada caso.

Um psicólogo especializado em transtornos de desenvolvimento e neuropsicologia desempenha um papel crucial no desenvolvimento da criança. 

Sua atuação envolve a avaliação do ambiente em que a pessoa vive e suas capacidades adaptativas, proporcionando intervenções personalizadas de acordo com as necessidades do paciente. 

Isso inclui avaliações educacionais, programas de habilidades sociais, planejamento de ensino, orientação para atividades da vida diária, treinamento com profissionais e abordagem de temas específicos como sexualidade e comportamento adaptativo.

O apoio multidisciplinar é essencial e idealmente inclui um clínico geral, assistentes sociais, fonoaudiólogos, audiologistas, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, neurologistas e pediatras especializados em desenvolvimento, psicólogos, nutricionistas, professores, ortopedistas e outros profissionais conforme necessário. 

Trabalhando em conjunto com a família, essa equipe desenvolve um programa abrangente e personalizado para a criança desde o momento da suspeita do diagnóstico de deficiência intelectual. Além do suporte direto à criança, é fundamental oferecer apoio emocional e, às vezes, aconselhamento aos pais e irmãos. 

A participação integral da família no programa é crucial para o sucesso do tratamento e desenvolvimento da criança.
Saiba mais com a equipe de especialistas do Grupo Recanto.

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Conclusão

Em síntese, a deficiência intelectual representa um desafio significativo para indivíduos, famílias e profissionais da saúde e educação. 

A transição do antigo termo “retardo mental” para “deficiência intelectual” reflete não apenas uma mudança terminológica, mas uma evolução no entendimento e na abordagem dessa condição complexa. 

Este estudo explorou as diferentes manifestações e níveis dessa deficiência, desde a leve até a grave, enfatizando como cada um desses quadros impacta o desenvolvimento cognitivo, social e funcional dos indivíduos afetados.

As causas da deficiência intelectual variam, mas avanços na neurociência têm proporcionado insights sobre os substratos biológicos e genéticos subjacentes a essa condição. 

O diagnóstico precoce e preciso, fundamentado em critérios bem definidos, é crucial para a implementação oportuna de intervenções personalizadas, que incluem desde terapias educacionais especializadas até suporte emocional e social.

A abordagem terapêutica multidisciplinar, envolvendo uma equipe diversificada de profissionais de saúde e educação, é essencial para maximizar o potencial de desenvolvimento e qualidade de vida dos indivíduos com deficiência intelectual. 

Essa colaboração interdisciplinar não só visa fortalecer as habilidades adaptativas e funcionais dos pacientes, mas também oferece suporte contínuo às famílias, promovendo um ambiente de inclusão e respeito.

Portanto, a compreensão aprofundada dos aspectos clínicos, sociais e educacionais da deficiência intelectual é fundamental para informar políticas públicas, práticas clínicas e estratégias de intervenção que visem à inclusão plena e à melhoria da qualidade de vida desses indivíduos. 

Este estudo reforça a importância de abordagens holísticas e individualizadas, centradas na pessoa, para promover um desenvolvimento mais positivo e inclusivo em toda a vida.

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