Como cortar o efeito da cocaína?
Essa é uma pergunta bastante comum que escuto de internos, familiares e amigos de dependentes químicos aqui no Grupo Recanto.
Esse tipo de questionamento demonstra uma inversão de valores comum de quem convive de perto com o uso abusivo de álcool e outras drogas.
Mas não se preocupe.
Escrevo este artigo, justamente, para desmistificar algumas dúvidas a respeito dessa droga estimulante.
Espero que, assim, consigamos ir no centro da questão, que é buscar suporte especializado para tratar a dependência química.
O que é cocaína?
A cocaína é uma droga estimulante semissintética, extraída da folha de coca, planta originária da região andina da América do Sul.
No entanto, para potencializar seus efeitos e oferecer mais volume ao seu conteúdo, ela é comumente misturada com uma série de ingredientes.
A substância também foi apontada, segundo estudo recente da Fiocruz, como a segunda mais consumida do país, ficando atrás apenas da maconha.
De acordo com o levantamento, a cocaína já foi administrada por 3,1% da população nacional.
Esses números destacam a importância de tratarmos o tema com a relevância que ele merece e faz surgir questionamentos como: quais são os efeitos de quem cheira pó?
Vale ressaltar, no entanto, que, apesar de a forma mais comum da cocaína, de fato, ser o pó, ela também pode ser encontrada em cristal, por exemplo.
Entenda quais são os efeitos da cocaína no corpo
Feito esse esclarecimento, vou um pouco mais a fundo das principais sensações causadas pela droga no organismo.
Euforia
Esse é um dos primeiros efeitos causadas.
Especialmente quando ela é aspirada pelo nariz, a cocaína é rapidamente metabolizada e gera uma sensação de euforia momentânea.
No entanto, esse impacto é bem passageiro e, logo, que faz uso sente a necessidade de consumir mais para experimentar esse sentimento de animação novamente.
Anestesia local
É bastante comum que, logo após o uso da cocaína, o dependente químico sinta uma elevada sensação de anestesia, como se os seus sentidos estivessem atrofiados.
Isso acontece porque a droga bloqueia a condução de sódio às células nervosas.
Com o nutriente impedido de chegar até o seu destino, as conexões entre os neurônios ficam comprometidas.
Outros efeitos no sistema nervoso central (SNC)
Outras queixas comuns dos dependentes químicos de cocaína são as frequentes dores de cabeça, eventuais perdas de consciência e convulsões.
Atenção especial a essa última, que é resultante de anormalidades ocorridas no cérebro.
As drogas estimulantes afetam muito o funcionamento do SNC, sobrecarregando-o e fazendo com que ele envie mensagens confusas aos demais órgãos do corpo.
No caso das convulsões, o comportamento muscular é um dos mais comprometidos.
Em função de descargas elétricas irregulares, os músculos atuam de maneira desordenada com impulsos de contração e relaxamentos alternados.
Efeitos cardiovasculares
Outro comportamento comum da cocaína e demais drogas estimulantes é o aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial.
Essas duas situações causam taquicardia, arritmia e, em casos mais graves, acidente vascular, derrame e ataque cardíaco.
Efeitos psiquiátricos
Também não podem ser descartadas as manifestações mentais e emocionais que o uso da cocaína desencadeia.
Ansiedade, confusão, problemas de memória e de julgamento, crises paranoicas, agressividade e até quadros depressivos são efeitos comuns.
Quanto tempo dura o efeito da cocaína?
Essa é uma pergunta que muita gente me faz, mas não há nenhuma precisão matemática que possa trazer uma resposta 100% certeira.
A verdade é que a duração do efeito da cocaína depende de uma série de fatores, como a tolerância do organismo à droga, os ingredientes presentes na mistura e a maneira como ela foi administrada.
No início, nas primeiras vezes em que a substância é usada, por conta da tolerância mais baixa, é comum os efeitos durarem mais tempo, em torno de meia hora.
Além disso, quando a droga é injetada, a sensação de euforia é quase imediata, pois ela entra diretamente na corrente sanguínea.
É diferente, por exemplo, de quando ela é inalada, em que os efeitos podem levar mais tempo para aparecer.
Como cortar o efeito da cocaína?
Voltamos à pergunta do início do artigo e que me fez produzir um conteúdo específico para tratarmos sobre a dependência química de cocaína com a profundidade que o tema merece.
Se você pesquisar na internet “como cortar o efeito da cocaína”, é bem possível que encontre diversos resultados que prometem soluções mágicas para devolver a sobriedade ao adicto.
Existem até alguns estudos nesse sentido, que apontam o café como um suposto aliado no combate aos sintomas causados pela droga, mas a amostra é tão pequena que seria um erro considerar como uma possibilidade.
Para todos que me questionam sobre métodos para cortar o efeito ou se desintoxicar de alguma substância, minha resposta é sempre a mesma: o caminho mais seguro é a busca por suporte profissional em uma clínica de reabilitação.
Sei que para muitos esse não é o retorno que gostariam, mas é meu compromisso como profissional apontar abordagens sérias e não vender ilusões.
Por isso, se você busca, de fato, ajudar alguém próximo com histórico de uso abusivo de cocaína, álcool ou qualquer outra droga, incentive a busca por tratamento.
Falar sobre internação nunca é um assunto fácil, especialmente quando ela não conta com o consentimento do dependente químico.
Mas acredite em mim: ela é a melhor alternativa.
Como curar a ressaca de cocaína?
Mais uma vez, não há nenhum método comprovadamente eficaz para a cura da ressaca de cocaína que não passe pela internação em uma clínica de recuperação.
Existem, é claro, procedimentos que podem amenizar alguns sintomas da droga, como repouso e hidratação, por exemplo.
Porém, para quem busca não apenas uma desintoxicação pontual, mas um tratamento completo e humanizado, que devolva a qualidade e o controle da vida por parte do adicto não há outro caminho: só a ajuda especializada funciona.
Quais são os sintomas de abstinência de cocaína?
Eu não defendo o tratamento profissional por acaso.
Sei o quão complicado é para familiares, amigos e pessoas próximas de dependentes químicos conviver com essa doença.
As crises de abstinência podem ser severas, e somente um suporte especializado e uma equipe multidisciplinar terão as ferramentas e a experiência necessárias para lidar com esse tipo de quadro.
No caso da cocaína, ele pode ser dividido em três etapas.
Crash
É a primeira fase da dependência da cocaína, surgindo logo após os minutos de excitação causados pela droga, e costuma durar até quatro dias depois da administração da substância.
Entre os principais sintomas dessa etapa, estão: irritabilidade, falta de disposição, cansaço extremo, quadros de paranoia, sonolência em excesso, ansiedade e depressão.
Aqui, também acontece o famoso craving, conhecido popularmente como “fissura”, que se caracteriza por aquele desejo incontrolável de consumir a droga mais uma vez.
Síndrome disfórica tardia (SDT)
Depois da primeira fase, vem a chamada SDT, que pode começar até 12 horas após a administração da cocaína ou só aparecer após quatro dias.
As manifestações não são muito diferentes do crash, exceto pela intensificação do craving.
Até por isso, as principais incidências de recaídas acontecem aqui, pois o desejo de voltar a consumir a droga é bastante forte.
Outros sintomas também podem aparecer nessa etapa, como problemas de memória e, algumas vezes, pensamentos suicidas.
É claro que tudo que trago aqui é um compilado de situações mais comuns.
Ou seja, isso não significa que todos os dependentes vão apresentar os mesmos quadros.
Cada organismo tem as suas particularidades biológicas e apresentam diferentes respostas à ausência da droga.
Extinção
A terceira e a última fase da abstinência de cocaína é também a mais longa.
Na verdade, ela pode durar meses ou anos e só será interrompida em uma eventual recaída, quando, então, voltam os outros dois ciclos anteriores.
Na extinção, há uma atenuação dos sintomas e há a retomada do equilíbrio biopsicológico do dependente químico, na medida do possível.
Isso porque, de acordo com as sequelas deixadas pela droga, uma harmonia plena será mais complicada, ainda que se possa estabelecer um ótimo padrão de vida.
Mesmo nessa fase, é possível que haja picos de craving, sobretudo quando o indivíduo for submetido a situações de gatilho, que o remeta ao uso da substância.
Como amenizar os sintomas de abstinência de cocaína?
Como vimos, as fases da abstinência de cocaína podem apresentar alguns sintomas complexos de serem administrados sem um suporte especializado.
Por isso, recomendo sempre o tratamento em uma clínica de reabilitação.
Não tenho receio de ser repetitivo, pois essa é, de fato, a melhor saída.
Aqui, no Grupo Recanto, contamos com uma equipe multidisciplinar com mais de 100 profissionais, entre médicos clínicos, psiquiatras, psicólogos, terapeutas ocupacionais, educadores físicos, consultores de dependência química e enfermeiros.
Nossa abordagem é centrada em um método humanizado e individualizado, sem descuidar dos protocolos científicos.
Desenvolvemos um tripé de tratamento dividido em: aconselhamento biopsicossocial, Terapia Racional Emotiva (TRE) e Programa dos 12 Passos.
A ideia é que, com essa metodologia, possamos tratar as particularidades de cada caso e despertar no paciente habilidades que permitam a ele ter uma consciência mais realista da sua doença. Para conhecer mais a respeito do nosso tripé de tratamento, clique aqui.
Perguntas frequentes sobre como cortar o efeito da cocaína
Ao longo de todo o artigo, abordei diversos pontos que considero relevantes no tratamento da dependência química de cocaína.
Minha ideia foi desmistificar algumas questões, romper com preconceitos e deixar claro que não existe solução mágica para lidar com um problema tão sério quanto esse.
Para finalizar, trago outras três perguntas que escuto frequentemente aqui no Grupo Recanto por parte de familiares e amigos de pacientes.
Fique atento, pois essas podem ser suas dúvidas também.
Leite corta o efeito do pó?
Não, o leite não corta o efeito da cocaína e nem de qualquer outra substância estimulante.
O que acontece é que esse tipo de droga compromete a nossa reposição natural de triptofano, composto químico responsável pela produção de serotonina.
Sendo assim, o leite e seus derivados, entre outros produtos ricos em triptofano, ajudam a repor esse nutriente tão importante.
Ou seja, o que esse alimento pode fazer é amenizar o mal-estar causado após passada a euforia do consumo da cocaína.
O que acontece se uma pessoa tomar rivotril depois de usar droga?
A mistura de drogas nunca é algo positivo.
Algumas pessoas defendem que a administração de rivotril, uma droga depressora, após o consumo de cocaína, uma substância estimulante, anularia o efeito de ambas, o que não é verdade.
Usar entorpecentes diferentes, sobretudo com propriedades tão distintas, na verdade, pode causar impactos ainda mais severos, potencializando quadros de overdose, por exemplo.
Isso ocorre porque mensagens confusas acabam sendo mandadas para o sistema nervoso central, que não sabe como interpretar esses estímulos.
Em outras palavras, esse coquetel é um tiro no escuro.
Não há como saber o que pode acontecer ao misturar essas duas substâncias.
Por isso, o melhor caminho é evitar o uso.
Quais são os sintomas de overdose de cocaína?
Cada grupo de drogas apresenta um determinado leque de sintomas em quadros de overdose.
A cocaína, assim como as outras substâncias estimulantes, traz as seguintes manifestações:
- Agitação muito acima do normal
- Dilatação das pupilas
- Palpitações
- Dores no peito
- Aumento da frequência cardíaca
- Elevação da temperatura corporal
- Completo estado de alerta
- Convulsões.
Conclusão
Mais do que saber como cortar o efeito da cocaína, quem está passando por problemas com o uso abusivo de drogas precisa de tratamento especializado.
Se você quer estender a mão a quem ama, pare de buscar atalhos.
Por mais tentadores que eles sejam, são soluções paliativas que nunca vão atender por completo as necessidades de um dependente químico.
Ainda que seja difícil optar pela internação em uma clínica de recuperação, tenha a certeza de que essa é a decisão mais acertada.
Para saber mais informações e buscar outras orientações sobre o tema, acesse o site do Grupo Recanto e entre em contato com a nossa equipe, que nós ligamos para você!
Fabrício Selbman é Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento, e também é:
- Formado em marketing e pós-graduado em gestão empresarial;
- Especialista em Dependência Química pela UNIFESP. Especialização na Europa sobre o modelo de tratamento Terapia Racional Emotiva (TRE);
- Psicanalista pela Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Professor de Especialização na Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento.