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Como a laborterapia pode ajudar os dependentes químicos
Publicado em: 13 de julho de 2020

Atualizado em: 14 de outubro de 2024

Como a laborterapia pode ajudar os dependentes químicos

O tratamento para a dependência química pode aliar diferentes estratégias – e a laborterapia é uma das opções.

Ainda que não seja uma abordagem exclusiva para esse tipo de quadro, ela pode trazer resultados significativos ao manter a mente do paciente ocupada e devolver um propósito para a sua vida.

Os motivos para que isso aconteça são muitos – e os benefícios, também.

Segundo um estudo divulgado pela American Occupational Therapy Association, a laborterapia ajuda o indivíduo a refletir sobre a sua rotina e a analisar como o uso abusivo de drogas faz com que ele perca a sua identidade e autonomia.

Assim, a partir de uma abordagem sistêmica, a técnica busca restabelecer o prazer e o bem-estar em viver, mostrando que é possível se sentir realizado e feliz sem o consumo de entorpecentes no seu dia a dia.

Diante da importância do tema, preparei um artigo completo sobre o assunto, abordando conceitos, técnicas e benefícios envolvidos. 

Acompanhe e tire suas dúvidas a respeito.

O que é laborterapia?

Também chamada de terapia ocupacional, a laborterapia, como o próprio nome já entrega, tem como foco o restabelecimento do paciente por meio do trabalho.

A ideia é que, a partir da inclusão de atividades profissionais na rotina, sejam elas intelectuais ou físicas, haja uma diminuição da ociosidade e a abertura de novas perspectivas na vida do indivíduo.

Para que a abordagem tenha êxito, é recomendado que sejam levados em conta aspectos como vocação, interesse, capacidade e limitações da pessoa.

Ou seja, é interessante despertar um prazer genuíno, para que não seja algo meramente protocolar, que mais tarde passe a ser encarado como uma obrigação – o que pode provocar gatilhos emocionais que remetem ao uso de drogas

Como comentei antes, a laborterapia não é uma técnica de uso exclusivo para o tratamento da dependência química, embora seja de grande valia nesses casos.

Sua aplicação também traz resultados promissores na reinserção de ex-presidiários à sociedade e no estímulo do cérebro e da coordenação motora de idosos em asilos e casas de repouso.

Qual a origem da laborterapia

A laborterapia é uma técnica, até certo ponto, recente no Brasil – em 2019, completou 50 anos de reconhecimento no país. 

Tudo começou com o Decreto Lei Nº 938, de 13 de outubro de 1969.

Se, por aqui, a terapia ocupacional tem pouco mais de meio século de história, ao redor do mundo, ela é uma abordagem mais tradicional.

O primeiro relato oficial a respeito dessa modalidade terapêutica ocorreu no início do século XX. 

Mais precisamente, em 1917, nos Estados Unidos, com a fundação da National Society for the Promotion os Occupational Therapy (NSPOT), que mais tarde se transformaria na American Occupational Therapy Association.

É verdade que muito antes disso já existiam registros do uso da laborterapia para o tratamento de doenças e transtornos mentais. 

Chineses, gregos e egípcios, cada um da sua forma, acreditavam que atividades lúdicas, como jogos, dramatizações e cantigas, podiam ajudar no combate ao ócio e aos delírios causados pelo que chamavam de “pensamentos perturbadores”.

A laborterapia como uma alternativa para tratar combatentes

Mas a técnica só começou a ganhar notoriedade, de fato, após as grandes Guerras Mundiais, sendo empregada como um método alternativo para tratar feridos em combates.

Como se sabe, além das sequelas físicas, as batalhas também deixam cicatrizes emocionais que, muitas vezes, acabam sendo até mais difíceis de cicatrizar.

O transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), por exemplo, acaba sendo um distúrbio comum nesses casos – e a terapia ocupacional surgia como uma possibilidade de tratamento.

A proposta é que, a partir da inclusão de novas atividades cotidianas, o paciente possa retomar a qualidade de vida.

Outros marcos importantes para a laborterapia

Ao longo dos anos, outros eventos importantes marcaram a história da laborterapia e a sua inclusão definitiva como um método de tratamento.

Em 1930, por exemplo, foi criada a primeira escola de terapia ocupacional fora dos EUA. 

Após um período de experiência no país que foi berço da abordagem, Elizabeth Casson inaugurou a Dorset House Psychiatric Nursing Home, em Bristol, na Inglaterra.

Vinte e dois anos depois, nascia a World Federation of Occupational Therapists (WFOT), órgão que regulamenta a profissão em todo o mundo.

Laborterapia no Brasil e a abordagem na dependência química

Conforme já comentei, a laborterapia só foi reconhecida oficialmente como profissão há cinquenta anos. 

No entanto, antes disso, ela já dava dava passos decisivos por aqui.

Isso porque, em 1951, a Organização das Nações Unidas (ONU) enviou emissários aos países da América Latina com o intuito de encontrar o lugar ideal para a instalação de um centro de reabilitação para dependentes químicos.

O objetivo era implementar uma abordagem ocupacional para o tratamento dos pacientes. 

O espaço escolhido foi o Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, que já tinha experiência no ramo por utilizar aspectos da laborterapia desde a década de 1940.

O sucesso foi tamanho que, em um período de oito anos, começaram a se desenvolver as formações técnicas na área de fisioterapia e terapia ocupacional. 

Quais atividades podem ser desenvolvidas na laborterapia?

A laborterapia permite o desenvolvimento de uma série de atividades. 

No tratamento específico de dependentes químicos, a recomendação é de que essas tarefas tenham ligação direta com a rotina vivenciada no centro de reabilitação, para que o paciente se sinta incluído em toda a dinâmica.

A seguir, falo mais sobre algumas dessas atividades, acrescentando o que cada uma delas pode trazer de positivo para os pacientes.

Cuidar de hortas e jardins

Uma das tarefas que podem ser desenvolvidas por pacientes na laborterapia é o cuidado do ambiente no qual se realiza o tratamento.

Ao dar atenção a hortas e jardins, por exemplo, o indivíduo trabalha habilidades como sensibilidade, respeito e paciência.

Além disso, com um contato mais próximo com a natureza, é possível controlar sentimentos ruins, como a ansiedade e, principalmente, propiciar momentos de solitude e muita reflexão.

Como algumas dessas competências deixam de ser desenvolvidas na dependência química, a terapia ocupacional passa a ser uma aliada importante na reabilitação.

Valores similares também são praticados na limpeza e no cuidado de espaços fechados, como quartos, refeitórios, banheiros e salas de recreação.

Ser responsável pelo cuidado dos animais

Muitas clínicas de reabilitação estão instaladas em locais mais afastados de grandes centros urbanos, propiciando uma experiência de contato com a natureza aos internados.

Nesses locais, é comum ter a presença de animais. 

Ao atribuir tarefas relacionadas ao cuidado deles, a laborterapia acaba ajudando na retomada da autogestão e da autoestima dos dependentes químicos.

Quando se está passando por problemas com drogas, incumbências básicas, como higiene pessoal, além de atenção com a aparência e com o bem-estar ficam de lado.

Ao cuidar de outro ser vivo, o dependente químico percebe que é responsável pela qualidade de vida do animal e que, se não for zeloso o bastante, algo ruim pode acontecer.

Essa percepção acaba levando a reflexões como:

  • “Por que eu não tenho esse mesmo cuidado comigo mesmo?”
  • “Quando foi que parei de me preocupar com a minha saúde?”.

Pensamentos como esses são fundamentais para que se desencadeie um processo de mudança no íntimo do paciente. 

Valores e ideais importantes são resgatados e trabalham em prol da recuperação e reinserção. 

Preparar refeições

Um processo similar acontece quando as atividades propostas incluem a cozinha e a participação do indivíduo no preparo das refeições.

Além de, muitas vezes, os pacientes desenvolverem uma habilidade que, até então, não era habitual, eles começam a ter uma visão diferente sobre os próprios alimentos e ato de cozinhar, em si.

A responsabilidade de prover o próprio alimento e de servir pratos saudáveis, saborosos e balanceados aos demais traz sentimentos como gratidão, empatia e a importância de evitar o desperdício.

Se não bastassem todos esses ganhos, a cozinha reforça a importância de manter um ambiente sempre limpo, organizado, de acondicionar produtos de forma correta e de valorizar a economia doméstica.

Recepcionar novos pacientes e oferecer as boas vindas

Em uma fase final da recuperação do paciente, pode ser recomendado que ele fique responsável por recepcionar os novos internados e ser hospitaleiro com os recém-chegados.

A atividade pode funcionar como uma excelente oportunidade para refletir sobre a trajetória trilhada até aquele momento. 

É também a chance de contribuir com alguém que está iniciando uma etapa que ele já superou.

É claro que, para isso, o paciente precisa se sentir confortável em prestar qualquer tipo de auxílio. 

Aliás, é importante destacar que nenhuma função deve ser imposta de maneira obrigatória.

A ideia é deixar o dependente químico à vontade para desempenhar qualquer tarefa, para que ela não seja vista como mera exigência do tratamento.

Também é recomendável que haja um rodízio de atividades, de forma que o paciente possa ter acesso a diferentes experiências e, por que não, encontrar aquela que mais lhe traz prazer.

Outro ponto que merece destaque é que, em nenhum momento, essas tarefas visam a oferecer qualquer tipo de recompensa financeira pelos serviços prestados.

O propósito é que os próprios pacientes identifiquem o valor de suas tarefas, sem que haja uma precificação dessas atividades.

Entenda os 9 benefícios da laborterapia

A laborterapia, como já deu para perceber, pode trazer muitos benefícios ao tratamento de dependentes químicos.

Esses ganhos vão muito além da superação da ociosidade e ajudam a trabalhar emoções reprimidas há algum tempo.

A seguir, listei 9 vantagens que a terapia ocupacional pode trazer para a vida dos pacientes:

  1. Aprender a lidar com sentimentos como frustração, ansiedade, perda e irritação
  2. Melhorar a autoestima ao se sentir útil e produtivo novamente
  3. Ter disciplina e respeitar regras e limites
  4. Ser mais responsável
  5. Recuperar a autonomia
  6. Aceitar e compreender a ajuda mútua
  7. Desenvolver a empatia e a preocupação com o próximo
  8. Manter a organização e a noção de continuidade, pois toda atividade tem um início, meio e fim
  9. Reabilitar física e emocionalmente o paciente.

Como a laborterapia pode ajudar um dependente químico?

A laborterapia é uma importante técnica de reeducação do paciente por meio da valorização do trabalho.

O ponto central das técnicas oferecidas é que o dependente químico possa ocupar o seu tempo com atividades que privilegiem o autocuidado e o zelo por si e pelo ambiente no qual está vivendo naquele momento.

Você talvez já tenha ouvido a expressão que diz que “o ócio é a oficina do diabo”. 

Aqui, ela faz todo o sentido: quando não existe um propósito ou algo com que ocupar o tempo, aumentam as chances de uma recaída e a vontade de consumir drogas.

Por meio da terapia ocupacional, é possível dar um novo sentido para a rotina do paciente, deixando seus pensamentos focados em atividades diárias agradáveis, que fazem parte da rotina natural de qualquer pessoa. 

Essa abordagem terapêutica colabora ainda com o processo de aceitação da própria realidade, o que ajuda o paciente a lidar melhor com seus problemas e a valorizar a importância dos amigos e da família.

Isso sem falar da possibilidade de o indivíduo desenvolver novas competências e, quem sabe, descobrir uma vocação ou um hobby favorito.

Todos esses elementos colaboram para o resgate de um aspecto vital para o tratamento de dependentes químicos: a autoestima.

Já falei sobre ela, mas nunca é demais citar essa motivação pessoal mais uma vez. 

Aliás, ela é uma das responsáveis para que o paciente siga com determinação o tratamento, até o fim.

Conclusão

Se bem administrada, a laborterapia pode ser uma excelente aliada para o tratamento da dependência química.

O propósito da abordagem é demonstrar ao acolhido que ele pode ser útil e produtivo durante o seu tempo ocioso.

Ou seja, que é perfeitamente possível levar uma vida normal e com novas perspectivas ao lidar de frente com a dependência química. 

Alcançar essa percepção pode fazer toda a diferença.

Técnicas e metodologias sérias para ajudar no processo não faltam – a laborterapia é mais uma delas, mas está longe de ser a única.

O importante é sempre contar com suporte profissional especializado, que analise as especificidades de cada caso e ofereça acolhimento.

Se você ainda está com dúvidas sobre o assunto e deseja conversar sobre essa e outras técnicas, preencha o formulário abaixo e aguarde o contato da equipe de especialistas do Grupo Recanto.

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