Se alguma vez já saiu para uma “noitada” com os amigos, já deve ter presenciado ou mesmo passado por uma situação em que a pessoa simplesmente apaga e acorda no outro dia devido ao forte efeito do álcool. Mas porque isso acontece?
Esse fenômeno é chamado de coma alcoólico e pode causar efeitos severos no organismo, assim como o uso abusivo do álcool pode levar a outras doenças como a dependência química.
Na vida de muitas pessoas, principalmente os mais jovens este pode já ser um acontecimento comum e talvez cotidiano de quem vai para festas e raves, mas não deveria ser, esse é um mecanismo de defesa do seu organismo como veremos adiante.
Coma alcoólico: O que é?
O coma alcoólico acontece quando se ultrapassa o limite de metabolização do álcool pelo fígado, assim ele não consegue mais realizar seu papel e o nível de álcool continua alto pelo sangue, assim causando intoxicação por álcool nos órgãos internos e no cérebro.
Quando o nível de gramas de álcool por litro de sangue está acima de 3, é normalmente quando os sintomas do coma alcoólico começam a se manifestar.
Além da lentificação dos processos cognitivos gerada pelo efeito do álcool, acaba por acontecer uma diminuição da pressão sanguínea arterial e dos batimentos cardíacos, assim como dificultando a manutenção do estado vigil.
Assim o corpo como uma reação defensiva “apaga”, a tão chamada amnésia pós-coma alcoólico, pois o álcool dificultou a criação de novas memórias e como a pessoa passou muito tempo sob o efeito da substância, o que tenha feito durante dificilmente conseguirá lembrar.
Quanto tempo uma pessoa pode ficar em coma alcoólico?
Quando falamos em um estado de coma, seja pelo uso de substâncias ou não, é difícil estipular um tempo exato de permanência nesse nível de rebaixamento da consciência. Ou seja, o período de tempo que o sujeito vai passar no coma induzido pelo uso do álcool não pode ser pré determinado.
Vale ressaltar que uma série de fatores podem influenciar na manutenção do coma, entre eles temos o organismo do sujeito e de que modo seu metabolismo processa a grande quantidade de bebida que foi consumida.
Os efeitos do álcool em excesso no organismo
Segundo um estudo da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) em associação com a Organização Mundial de Saúde (OMS) conclui que pelo menos 85 mil mortes por ano são completamente atribuídas ao álcool, se contarmos também as mortes causadas indiretamente pelo álcool o número chega a mais de 300 mil mortes.
O “excesso” não é medido apenas pela dosagem de álcool que é consumida, mas leva-se em comparação ao peso, altura, constituição física, alimentação base e gênero, pois todos esses fatores influenciam em como a quantidade de álcool pode afetar um organismo.
Dessa maneira, o que é muito para alguns pode não surtir muito efeito em outras pessoas, assim como o excesso do que o corpo aguenta pode chegar muito antes para algumas pessoas.
Considero como excesso a partir de quando os efeitos adversos se tornam mais presentes, a partir de mais de 1 grama de álcool por litro de sangue, a pessoa já pode começar a se sentir com a capacidade racional reduzida, assim como o juízo crítico e de opinião se afrouxa fazendo com que possa cometer imprudências, dificuldades de fala e reflexos retardados.
A partir dos 3 gramas por litro, já é possível ter problemas cardiorrespiratórios, perda de consciência, apagões e desmaios, em níveis ainda mais altos é possível que ocorra paradas cardiorrespiratórias.
Como identificar e o que fazer em caso de coma alcoólico?
Bom se você for a pessoa que estiver sofrendo com o coma alcoólico, não há nada que possa fazer por si mesmo se chegar a esse ponto, o que pode ser feito é não beber tanto para que chegue a esse nível de intoxicação, apenas outras pessoas poderão lhe ajudar.
Em caso de estar acompanhando uma pessoa que está passando pelos sintomas de coma alcoólico, eis aqui o que fazer e como identificar os sintomas:
– Desmaio ou perda de consciência
Desmaios e perda de consciência são muito comuns na antecedência de um coma alcoólico, se a pessoa já chegou nesse estado, é melhor fazer com que ela não continue a beber e deixá-la descansando em algum lugar que possa ser supervisionado por você ou por outras pessoas.
De preferência que essa pessoa não fique deitada ou em alguma posição que dificulte sua respiração, pois refluxos e vômitos são comuns nesses casos, assim como dificuldades respiratórias.
– Dificuldade em andar ou se manter de pé
Em estágios até anteriores de intoxicação pelo álcool a pessoa já começa a apresentar falta de coordenação motora e de equilíbrio, mas em estágios mais avançados andar ou mesmo se levantar pode ser uma tarefa difícil.
Se identificar esses sinais, a pessoa obviamente precisará de sua ajuda para andar ou chegar a algum lugar, mas a atenção deve ser redobrada para em caso de acabar chegando a um coma alcoólico.
Num estado como esse é possível que quedas e tombos aconteçam e dependendo da situação e local em que se encontrem podem acabar se machucando.
– Convulsão
O alto nível alcoólico também pode provocar convulsões em algumas pessoas, nesses casos é preciso saber bem como agir, para que não tome atitudes desesperadas que só piorem a situação.
As recomendações mais adequadas em caso de não haver nenhum socorrista, bombeiro ou profissional de saúde no local são:
Procurar deitar a pessoa de lado para que não se sufoque por sua saliva ou nesse caso também por conta de vômito, podendo gerar pneumonia por aspiração.
Afastar objetos perigosos, como coisas afiadas, objetos pesados, que possam ser usados para machucar a pessoa.
Não forçar a abrir a boca da pessoa, pois pode causar danos tanto a pessoa quanto a você que está ajudando.
Segure a cabeça da pessoa e faça uma proteção ao redor dela para que durante a convulsão a pessoa não acabe por lesionar o cérebro.
– Hipotermia
Quanto mais o nível de álcool ingerido o sistema nervoso se lentifica, porém o metabolismo se acelera e assim diminui a temperatura corporal, quando em excesso pode gerar estágios de hipotermia.
Apesar de aparentemente haver um aumento na temperatura, essa sensação se deve à dilatação sanguínea, que passa a transportar mais sangue para as regiões do corpo, mas na verdade está tendo sua temperatura corporal reduzida.
Junto com a sonolência trazida pelo álcool, se estiver em um local muito frio a pessoa pode inclusive morrer de hipotermia, tendo algo semelhante a uma parada cardíaca.
Saiba mais: Sintomas de overdose: saiba como identificar e socorrer
Conheça as possíveis sequelas de um coma alcoólico
Durante um coma alcoólico é comum alguns outros danos aconteçam em virtude do apagão ou de consequências dele, assim podendo gerar condições irreversíveis.
– Dano cerebral irreversível
Danos cerebrais de forma irreversível podem acontecer num coma alcoólico, por dois motivos principais, o desencadeamento de convulsões e do efeito do álcool no cérebro que após ficar com pouca glicose e entrar em estado de coma pode dificultar a realização de suas tarefas executivas.
A convulsão, também chamada de crise epiléptica, é uma falha elétrica do circuito cerebral que por consequência acaba por sobrecarregar uma região em específico ocasionando reações adversas que chamamos de convulsão.
Toda convulsão pode causar danos às áreas cerebrais devido ao estresse causado na região, podendo afetar funções cognitivas como memória, psicomotora e fenômenos perceptivos.
Já pelo efeito apenas do álcool pode se ocasionar hemorragias cerebrais, neuropatias periféricas e até mesmo quadros de demência.
– Pneumonia por aspiração
A pneumonia por aspiração ocorre quando conteúdos e secreções da boca ou do estômago são aspirados incorretamente para as vias aéreas de respiração, ocasionando em inflamações e infecções.
Normalmente mecanismos de defesa como a tosse conseguem eliminar esses problemas, mas num coma alcoólico onde tudo é mais lento e frequentemente as pessoas vomitam enquanto estão desacordadas, uma pneumonia por aspiração torna-se muito fácil.
– Morte
A morte durante um coma alcoólico pode acontecer por diversos fatores, um deles é a extrema diminuição de glicose no cérebro, podendo ocasionar além de um coma alcoólico a falta de nutrientes para o cérebro e acabar matando regiões e inclusive a pessoa.
Também pode acontecer a morte devido a hipotermia gerada, durante um coma a pessoa não poderia se agasalhar ou mesmo se proteger do frio, podendo levar a morte.
Há casos também de pessoas que durante seu coma alcoólico não conseguiram acordar e não foram ajudadas enquanto vomitava e acabaram por se engasgar até a morte por não conseguirem respirar.
A bebida alcoólica pode matar por overdose?
A morte por overdose pode acontecer, porém não é muito comum. A overdose é um quadro que se desenvolve quando um indivíduo consome uma ou mais substâncias em uma quantidade abusiva e em um intervalo muito curto de tempo que compromete o funcionamento fisiológico do organismo de imediato.
Para acontecer uma overdose alguns aspectos precisam ser levados em conta, como a resistência que a pessoa possui ao álcool, a quantidade ingerida e questões como o peso e o gênero.
Primeiros socorros
A primeira medida que deve ser tomada em casos de coma alcoólico é chamar a emergência. Enquanto a ajuda especializada não chega, as pessoas que estão próximas devem ficar atentas ao estado em que o sujeito se encontra, observando sinais de asfixia ou engasgamento.
Também é preciso manter o paciente aquecido e em uma posição adequada que possibilite a passagem do ar. É importante que sejam observadas as condições em que o paciente se encontra, se está acordado ou não, e se tem capacidade de comunicação.
Coma alcoólico: Quais são e como é feito o tratamento?
Para o coma alcoólico há algumas medidas que podem ser tomadas para que seja feito um tratamento adequado para esse quadro, normalmente o mais recomendado é que seja encaminhado a um posto médico o mais rápido possível.
O tratamento padrão nesse caso é a aplicação de soro por meio intravenoso, para combater a desidratação deixada pelo álcool e repor os níveis de glicose, assim como acelerar a liberação de álcool pelo corpo através de suor e urina.
Alcoolismo: Saiba como é possível tratar essa doença
Muitas pessoas que chegam ao nível de coma alcoólico, não estão apenas fazendo o uso abusivo do álcool, mas também já estão em nível de dependência dele, onde a substância já é o centro de sua vida e todas as outras coisas estão ao redor do álcool e de seu uso.
Sendo considerado a dependência alcoólica uma doença biopsicossocial é preciso um tratamento que abranja também diferentes aspectos e áreas da vida daquelas pessoas.
Dito isso, a psicoterapia e o uso de medicamentos acompanhados pela supervisão médica são os tratamentos mais comuns para esses casos, embora sejam efetivos separadamente, seus efeitos quando praticados conjuntamente são potencializados.
Contudo o melhor tratamento para esse tipo de situação é a internação em uma clínica de recuperação para dependentes químicos, pois há não só o uso de psicoterapia e medicamentos como intervenções, como o uso dos doze passos dos Alcoólicos Anônimos, exercícios físicos e terapias ocupacionais.
Em uma clínica especializada como o Grupo Recanto tudo é feito de forma a respeitar a história de cada pessoa, pois cada caso é diferente e merece um atendimento humanizado e individualizado.
Conclusão
O coma alcoólico é na verdade um aviso de que as coisas já estão indo longe demais, se já chegou a presenciar ou mesmo viver uma experiência de coma alcoólico é o momento de repensar aquilo que faz com sua própria vida.
Se após essa experiência já tentou parar de consumir o álcool e não conseguia, é um sinal de que possivelmente não é mais um caso de uso abusivo e sim de dependência química.
E a dependência química precisa de tratamento especializado, não é algo que pode ficar sendo ignorado ou que é simplesmente passa como uma fase, esse problema é algo que só progride com o tempo.
Continue lendo: Sintomas de alcoolismo: Como conseguir identificá-los?
Fabrício Selbman é Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento, e também é:
- Formado em marketing e pós-graduado em gestão empresarial;
- Especialista em Dependência Química pela UNIFESP. Especialização na Europa sobre o modelo de tratamento Terapia Racional Emotiva (TRE);
- Psicanalista pela Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Professor de Especialização na Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento.