A cocaína é uma substância muito conhecida pelo público. Grande parte da população conhece os efeitos nocivos que essa droga provoca no organismo e no comportamento das pessoas que a consomem.
Contudo, pouca gente tem conhecimento sobre as variantes da cocaína que vêm sendo distribuídas pelo mundo. De acordo com a notícia compartilhada no website da Receita Federal, acredita-se que essas substâncias são modificadas para dificultar o trabalho da polícia durante a apreensão de substâncias psicoativas nas ações promovidas para o combate ao tráfico de drogas.
A cocaína preta é considerada o tipo de entorpecente mais potente e prejudicial para a saúde do sujeito. É importante entendermos melhor o que é, os efeitos, como surgiu e os tratamentos disponíveis para lidar com a dependência nessa droga.
O que é a cocaína preta?
A cocaína preta ou negra é uma variação da droga tradicional derivada da folha de coca. Ela apresenta essa coloração em decorrência da mistura de outras substâncias na composição da pasta base pura.
São utilizados zinco, carvão e grafite para disfarçar as características da cocaína. A mistura dessas substâncias provoca a modificação do cheiro e da coloração da coca, além de conseguir camuflar a identificação da substância durante o narcoteste.
A cocaína preta é considerada mais potente e prejudicial à saúde das pessoas que a consomem. Seu potencial para causar dependência é muito maior do que aquele que é encontrado na forma tradicional da droga.
Como surgiu?
Essa substância foi desenvolvida na Colômbia, nos anos de 1980. O responsável pela criação da droga foi o cartel de Cáli, que era uma organização que funcionava para a distribuição de drogas.
Os irmãos Gilberto e Miguel Rodríguez Orejuela comandavam esse cartel e controlavam a grande maioria das exportações de cocaína da Colômbia para a América do Norte.
Eles viram a necessidade de modificar a cocaína para facilitar o processo de exportação da substância entre os países. Dificultando a vida dos policiais e cães farejadores.
A cocaína preta causa dependência?
A dependência é definida pelo uso compulsivo de uma substância, onde o sujeito não consegue parar de consumir e passa a ter repercussões nas diferentes esferas da vida em decorrência do uso prolongado e irrestrito.
A cocaína preta tem grande potencial de causar dependência, ou seja, por ser mais potente do que os outros tipos da droga. Essa substância provoca modificações intensas no organismo, como sensações de euforia e prazer, levando o sujeito a fazer o uso de modo recorrente.
Quais são os danos causados pelo uso da cocaína preta?
A cocaína preta, além de apresentar os mesmos efeitos negativos da pasta base pura da droga, também tem potencial para induzir problemas ainda mais graves. Estudos indicam que seu consumo está associado a uma maior incidência de:
- Comprometimento severo das funções sexuais;
- Danos cognitivos mais acentuados;
- Alterações significativas no funcionamento de órgãos vitais;
- Perturbações mais intensas na sensopercepção;
- Transtornos alimentares;
- Modificações nutricionais.
Esses sintomas são exacerbados pela presença de outras substâncias frequentemente utilizadas na adulteração da cocaína, o que torna a cocaína preta uma opção ainda mais prejudicial à saúde dos usuários.
Como é a abstinência da cocaína preta?
A abstinência é caracterizada como a ação de parar com o consumo de uma determinada substância. Essa atitude produz uma série de repercussões na vida da pessoa. As manifestações provocadas pela síndrome de dependência da cocaína possuem sintomas como tremores, alterações de humor – como depressão, ideias de suicídio, agitação psicomotora, incapacidade de sentir prazer, além de alterações sensoperceptivas.
Muitas vezes durante o período de abstinência surge a necessidade de realizar o internamento do sujeito. O que possibilita uma melhor adesão ao tratamento e buscando evitar recaídas que são muito comuns nessa fase.
Sinais de alerta
É muito importante ficar atento às mudanças comportamentais que surgem em sujeitos dependentes da cocaína preta. O isolamento social é uma das primeiras alterações que podem ser observadas, fazendo com que o sujeito tenha toda a sua vida voltada para o consumo da droga.
Além disso, é muito comum que o sujeito deixe de lado suas atividades laborais, largando o emprego e passando o tempo em função do consumo da substância.
As dificuldades financeiras também podem ocorrer. Uma vez sem emprego, o sujeito tem dificuldades para conseguir dinheiro para custear o uso da droga, isso pode levar a prática de roubos, causando problemas com a lei.
O envolvimento em atividades ilegais, como roubo ou tráfico de drogas, pode resultar em consequências legais graves para os usuários de cocaína preta. O aumento do risco de cometer crimes para financiar o vício pode levar a prisões, multas e outras penalidades legais, agravando ainda mais as dificuldades enfrentadas pelos usuários.
Indicação profissional
A busca pelo profissional mais adequado para cuidar de pacientes dependentes químicos é extremamente importante para que as pessoas tenham as melhores opções de tratamento possíveis.
Psicólogos e psiquiatras são os principais profissionais indicados, porém, é muito importante uma abordagem multidisciplinar que olhe para as diferentes dimensões do sujeito, ou seja, a abordagem biopsicossocial é essencial para a melhora do quadro de dependência.
Quais as doenças que a cocaína preta pode causar?
O uso da cocaína preta pode provocar doenças em diferentes regiões do corpo do sujeito. A saúde bucal, por exemplo, é muito prejudicada pelo consumo dessa substância, podendo levar ao desgaste do esmalte dental.
O uso da droga pelas vias nasais também pode levar ao aparecimento de uma espécie de buraco no tecido presente nas narinas e isso traz sérias complicações à saúde do paciente.
Os problemas pulmonares também podem surgir com o consumo da cocaína preta com a presença de insuficiência respiratória causada pela ingestão do pó.
Os problemas de coração trazem grandes preocupações para os médicos que se dedicam ao estudo da dependência química. Uma vez que, o consumo da cocaína preta provoca o estreitamento das artérias, aumenta a chance de infartos.
Qual a importância do apoio familiar?
Durante o tratamento o paciente precisa ter uma rede de apoio bem estruturada para conseguir se manter motivado e afastado do consumo da droga. A presença de um ambiente acolhedor é essencial para a adesão ao tratamento.
Um ambiente livre de julgamentos, saudável e que tenha sabedoria para entender que as dificuldades vão surgir, mas que podem ser contornadas. Isso torna o sujeito mais forte mentalmente para dar prosseguimento às estratégias de reabilitação.
Algumas dicas podem ser eficazes para melhorar o relacionamento entre o dependente químico e a família. Entre elas: a busca por informações sobre a doença da adicção, buscar o auxílio de grupos de apoio é essencial no processo de enfrentamento da dependência, tanto para o adicto, quanto para a família.
Falar abertamente sobre os sentimentos que podem causar angústia e ansiedade ajuda a melhorar a confiança entre as pessoas. Essa postura deve ser utilizada com os profissionais de saúde que estão envolvidos no processo de tratamento. Mas a família também deve ter uma confiança mútua para a manutenção de um bom relacionamento.
O papel da educação e da conscientização na prevenção do uso de cocaína preta
A educação e conscientização são fundamentais para prevenir o uso de drogas, como a cocaína preta. Campanhas de mídia e publicidade são eficazes para destacar os danos causados por essa droga e desmistificar mitos sobre seu consumo.
Essas iniciativas também incentivam as pessoas a procurarem ajuda para problemas relacionados ao uso de substâncias e discutem opções de tratamento.
Além disso, é essencial oferecer acolhimento e suporte às pessoas afetadas pela dependência, garantindo que tenham acesso a serviços de saúde mental e apoio familiar.
Tratamentos para a dependência em cocaína preta
A combinação de estratégias de tratamento é o tipo de intervenção mais indicada nos quadros de dependência na cocaína preta. A psicoterapia de abordagem cognitivo comportamental ainda é a mais indicada nesses casos. Vale ressaltar que todas as abordagens da psicologia podem ser utilizadas, trazendo contribuições diferentes para cada paciente.
Como ainda não existam medicamentos específicos para o tratamento da dependência, os ansiolíticos e os antidepressivos são as opções utilizadas para o controle dos sintomas associados à adicção, como a ansiedade e a depressão.
As mudanças nos hábitos de vida com a realização de atividades físicas e de lazer, uma dieta equilibrada e a prática de meditação e yoga, são alternativas que dão suporte ao tratamento, aumentando a chance de recuperação.
Conclusão
Como vimos, o uso da cocaína preta traz uma série de repercussões para a vida do adicto. O uso dessa substância é ainda mais prejudicial do que a pasta base utilizada na produção da versão tradicionalmente conhecida.
Nesse contexto, conhecer um pouco da história e dos efeitos dessa droga no organismo humano é essencial para que as pessoas tenham consciência e entendam os malefícios sentidos pelo corpo durante o consumo dessa substância.
Os impactos na vida de todos que estão à volta do dependente e a maneira como isso gera um grande sofrimento, são temáticas que devem ser debatidas, buscando esclarecer questões referentes ao enfrentamento do quadro.
A busca por profissionais e a possibilidade de internação são questões que devem ser pensadas para melhorar a qualidade de vida dos dependentes. A Clínica Recanto possui uma rede completa que auxilia no tratamento e no retorno às atividades sociais do sujeito. Isso possibilita a recuperação com a ajuda de uma equipe multidisciplinar qualificada e pronta para atender as demandas dos pacientes.
Fabrício Selbman é Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento, e também é:
- Formado em marketing e pós-graduado em gestão empresarial;
- Especialista em Dependência Química pela UNIFESP. Especialização na Europa sobre o modelo de tratamento Terapia Racional Emotiva (TRE);
- Psicanalista pela Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Professor de Especialização na Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento.