Recorrer a uma clínica para tratamento de depressão pode parecer uma medida extrema, mas, às vezes, necessária.
Não à toa, a doença foi considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como o mal do século XXI devido ao seu grande nível de incapacitação e o elevado número de casos.
Além de, por si só, ser um problema grave, também pode ajudar a desencadear outras síndromes, como a dependência química, por exemplo.
Nesses mais de 10 anos de experiência frente ao Grupo Recanto, já me deparei com diversos quadros depressivos que evoluíram para situações de adicção de álcool e outras drogas, nos quais essas substâncias funcionam como uma resposta à dor emocional.
Ao longo do texto, vou tratar um pouco dessa relação entre dependência química e depressão, mas, especialmente, me debruçar nesse distúrbio mental tão sério, que merece toda a nossa atenção.
Siga acompanhando.
O que é depressão?
Depressão é uma síndrome psiquiátrica crônica, que provoca alterações constantes no humor, nas quais a tristeza profunda e o sentimento de desesperança predominam.
É importante, porém, diferenciar a doença de situações corriqueiras de melancolia e abatimento que todos estamos sujeitos perante momentos ruins.
Afinal, é comum apresentarmos esse quadro quando algo desagradável acontece.
A partida de um ente querido, uma desavença com uma pessoa pela qual temos apreço, um dia ruim no trabalho, onde tudo parece dar errado, são exemplos de casos em que se sentir mal é natural.
Diante dessas adversidades, quem não está doente encontra maneiras de superar os problemas. Já para quem está deprimido, a tristeza não dá trégua.
Por isso, a questão exige atenção quando esses sintomas demoram a passar, se estendendo por dias, meses, e sem uma razão aparente para perdurarem tanto tempo.
É fundamental, inclusive, ficar atento também a eventuais perdas de interesse por atividades que antes causavam prazer.
Não à toa, a depressão é considerada incapacitante, pois tira a vontade do indivíduo de fazer qualquer coisa.
Vale ressaltar ainda que essa síndrome psiquiátrica crônica possui três graus de intensidade: leve, moderado e grave.
Além disso, pode atingir crianças pequenas, jovens, adultos e idosos.
O que pode causar depressão?
Diversos fatores podem desencadear quadros depressivos.
A predisposição genética é um deles, sendo a doença gerada por distúrbios de natureza biológica e química no cérebro.
Outros geradores importantes são o que chamamos de gatilhos emocionais, situações que remetem a problemas e a traumas anteriores, causando desconforto e apreensão.
São o caso, por exemplo, de abusos sexuais e psicológicos, estresse demasiado, consumo em excesso de álcool e drogas, automedicação e até doenças sistêmicas, como o hipotireoidismo.
É bem verdade que nem todas as pessoas com predisposição genética ou não têm o mesmo comportamento em relação aos gatilhos.
Estatisticamente, as mulheres tendem a ser mais suscetíveis à depressão por conta das mudanças hormonais, sobretudo, no período fértil.
Quais são os sintomas da depressão
Os sintomas da depressão podem variar bastante de pessoa para pessoa e conforme o grau de intensidade da doença.
Quanto mais grave o quadro, maior a tendência de manifestação de ocorrências mais sérias.
A lista abaixo considera alguns sinais que a doença pode ou não emitir.
Estado de depressão
Comum a todos os estágios da doença, o estado de depressão se caracteriza pelo sentimento de tristeza profunda quase que permanente, durante boa parte do dia e por vários dias.
Anedonia
Também presente em todos os graus de intensidade, a anedonia é um sintoma que tem como principal marca a perda da vontade para a realização de qualquer tipo de atividade, das mais simples e prazerosas às mais complexas e desafiadoras.
Fadiga
De certa forma, é um complemento da anedonia.
Essa falta de prazer para realizar atividades é fruto de uma fadiga constante e uma falta de energia para cumprir uma rotina mínima.
Oscilações no peso
Pessoas deprimidas costumam ganhar ou perder muito peso durante suas crises.
Essa oscilação é involuntária e tem a ver com as mudanças bioquímicas que acontecem no cérebro.
Além disso, os distúrbios alimentares são consequências comuns da depressão.
Problemas com o sono
A doença psiquiátrica crônica mexe com todo o nosso organismo, em especial, o nosso sistema nervoso central.
Por isso, também é comum ter distúrbios relacionados com o sono, como insônia ou sonolência excessiva.
Baixa autoestima
Essa é outra manifestação bem comum.
Pessoas em depressão tendem a se colocar ainda mais para baixo.
Se sentem feias e não merecedoras de amizades, relacionamentos amorosos ou cargos profissionais.
Sentimento de culpa
Seguindo pela mesma linha, o sentimento de culpa também é uma constante, ainda que, na grande maioria das vezes, não haja qualquer relação de causa e efeito nos episódios relatados.
Falta de libido
A libido em um indivíduo depressivo também é afetada.
A falta de desejo sexual se explica tanto pela anedonia quanto pela baixa autoestima.
A exceção fica por conta da compulsão por sexo, que é quando o paciente vê nele uma fuga para os seus problemas emocionais.
Dificuldades psicomotoras
Em alguns casos, a depressão pode desencadear sintomas de dificuldades psicomotoras.
É a explicação, por exemplo, para tremores excessivos ou apatias .
Concentração insuficiente
Até o raciocínio do paciente depressivo parece ficar mais lento.
Sua capacidade de tomar decisões, fazer escolhas simples e se concentrar para a realização de tarefas corriqueiras é afetada pelas doenças.
Ideias suicidas
Em quadros mais graves, esse sintoma é recorrente e surge como uma consequência de todos os outros.
A falta de vontade de viver, o sentimento de culpa, a baixa autoestima, a fadiga e a tristeza profunda levam o indivíduo a pensar que o seu quadro não tem volta e que a única saída é acabar com a própria vida.
Como a depressão é diagnosticada
O diagnóstico da depressão é clínico e deve levar em conta os episódios relatados pelo paciente, um familiar ou amigo, além do histórico e de aspectos biológicos, psicológicos e sociais do enfermo.
Também é fundamental avaliar a recorrência dos sintomas apresentados.
A tristeza profunda e a falta de vontade de realizar atividades devem se mostrar frequentes há, pelo menos, de duas a três semanas na vida do indivíduo.
Outras manifestações já citadas (problemas com sono, peso, concentração, libido sexual e ideias suicidas) também precisam ser analisadas para um relatório mais preciso.
Qual é a relação entre depressão e dependência química?
A depressão tanto pode ser uma das causas da dependência química como também uma consequência da adicção.
Afinal, como vimos, muitas vezes, a doença é fruto de gatilhos emocionais.
Uma pessoa que sofre um abalo importante no passado pode reagir de diferentes formas quando algo remeter a ela à experiência traumática.
Depressão como uma das causas da dependência química
Uma das reações possíveis é recorrer ao álcool ou às drogas como um refúgio emocional, um “remédio” instantâneo para curar a sua dor.
No entanto, com o tempo, há a ideia de que as doses precisam ser aumentadas, pois a quantidade anterior não dá mais conta de conter a aflição.
Em termos mais técnicos, o que acontece é que há um aumento da tolerância do organismo perante a droga, o que faz com que porções maiores da substância em questão sejam administradas para que se sinta os mesmos efeitos.
É aí que se estabelece a dependência química, que também apresenta outros sintomas, como abstinência, fissura e dificuldade para abandonar o vício.
Depressão como uma das consequências da dependência química
Esse é o caso em que a depressão é uma das causas da dependência química, mas também existem exemplos do contrário.
Para estabelecer essa relação, precisamos, primeiro, entender como o álcool e as drogas agem no organismo.
O nosso sistema nervoso central é responsável por, entre outras funções, produzir naturalmente diversos tipos de hormônios.
Entre eles, estão a dopamina e a serotonina, neurotransmissores relacionados às sensações de felicidade e bem-estar.
Acontece que o álcool e as drogas também provocam esses sentimentos, aumentando a produção e a quantidade desses hormônios.
No entanto, com o passar do tempo e o uso contínuo dessas substâncias, as funções reguladas pelos neurotransmissores são drasticamente comprometidas.
Na prática, hormônios como dopamina, serotonina e noradrenalina têm a sua produção reduzida.
Ou seja, o indivíduo passa a sentir muito menos emoções positivas de forma natural, estando, portanto, mais sujeito a quadros depressivos.
Quais são os tratamentos para depressão?
Uma vez diagnosticada a depressão, é preciso ir atrás de tratamento, que pode se dar de diferentes formas.
A alternativa mais indicada vai depender do estágio da doença e das particularidades biopsicossociais de cada caso.
Tratamento psicoterapêutico
Estágios mais iniciais, que ainda não trazem muitos impactos negativos à vida do paciente e à sua rotina, podem ser tratados com suporte psicoterapêutico.
Nesse caso, o indivíduo que sofre de depressão terá encontros regulares com um profissional capacitado e vai relatar os seus episódios enquanto o especialista faz apontamentos e reflexões.
Abordagem medicamentosa
Quando a doença está em um estágio mais avançado, comprometendo as relações afetivas e profissionais do paciente, além da sua rotina normal, somente a abordagem psicoterapêutica pode não ser suficiente.
A recomendação nesses casos é procurar suporte psiquiátrico e iniciar o tratamento medicamentoso. Antidepressivos, ansiolíticos e antipsicóticos são alguns dos fármacos mais receitados.
É comum que os remédios demorem a fazer efeito e que algumas reações colaterais se manifestem, como ganho de peso e diminuição do libído.
Por isso, é preciso paciência para a manutenção do tratamento que, às vezes, pode durar a vida toda a fim de evitar recaídas.
Internação em clínica especializada
Existe ainda a possibilidade de internação em uma clínica especializada para o tratamento da depressão.
Ideal para casos mais extremos, nos quais o paciente exige cuidados em tempo integral e apoio multiprofissional, essa é uma alternativa que não deve ser descartada.
As clínicas também são ótimas soluções em situações em que o quadro depressivo já evoluiu para outras patologias como a dependência química, por exemplo.
Vale ressaltar que, independentemente do tratamento utilizado, outras atividades também são recomendadas. A prática de exercícios físicos, por exemplo, é uma delas.
Por ser uma fonte natural de produção de serotonina, a abordagem é uma aliada no combate aos sintomas da depressão.
Como funciona uma clínica para tratamento de depressão
Uma clínica para tratamento de depressão é um espaço em que o paciente tem todo o suporte necessário para combater os sintomas dessa grave doença psiquiátrica incapacitante.
Nela, o interno será submetido a diferentes abordagens que vão procurar entender a raiz do seu problema e a tratá-lo da melhor forma.
Psicoterapia e prescrição de medicamentos são alguns dos métodos adotados. Os demais vão depender das especificidades de cada quadro.
Esse tipo de centro de recuperação costuma contar ainda com uma equipe multidisciplinar para atacar a depressão em suas diferentes frentes.
Educadores físicos, por exemplo, são profissionais essenciais para orientar as atividades físicas, vitais para o pronto restabelecimento do paciente.
Quando internar um paciente com depressão?
Essa é uma decisão complicada, mas necessária.
A internação de um paciente com depressão sempre deve ser feita com a anuência de um profissional da saúde.
Normalmente, ela se dá quando o profissional, com a concordância dos familiares e do próprio indivíduo ou não, constata que o enfermo representa um risco para si mesmo e para os outros ao seu redor.
A ineficácia das outras formas de tratamento e o agravamento dos sintomas também são elementos analisados para essa tomada de decisão.
É o caso, por exemplo, quando ideias suicidas deixam de ser somente pensamentos e se constituem, de fato, em tentativas de acabar com a própria vida.
Vale ainda observar a evolução do quadro para a dependência química e outras doenças.
Toda pessoa com depressão precisa de internação?
A depressão é uma síndrome crônica que exige total atenção.
No entanto, isso não significa que qualquer pessoa que sofra da doença precisa ser internado em uma clínica especializada.
Conforme dito anteriormente, a abordagem é indicada para situações mais específicas, onde o paciente necessita de um acompanhamento integral.
Em parte dos casos, o problema pode ser controlado com tratamento medicamentoso acompanhado de psicoterapia e prática de atividades físicas.
Conclusão
Não é preguiça, falta de vontade ou caráter.
Assim como a dependência química, a depressão é uma síndrome crônica que, portanto, não possui cura. No entanto, não quer dizer que não há tratamento.
Hoje em dia, é possível ter uma remissão total dos sintomas em uma manutenção a longo prazo.
Além disso, é preciso ficar atento a qualquer sintoma, porque ela pode evoluir para um quadro de adicção.
Precisa de algum suporte nesse sentido? Entre em contato conosco, que a gente liga para você.
Fabrício Selbman é Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento, e também é:
- Formado em marketing e pós-graduado em gestão empresarial;
- Especialista em Dependência Química pela UNIFESP. Especialização na Europa sobre o modelo de tratamento Terapia Racional Emotiva (TRE);
- Psicanalista pela Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Professor de Especialização na Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento.