Perante a sociedade e a lei, o ato de furtar ou roubar uma pessoa ou instituição é considerado um crime, sendo visto como uma falha moral das pessoas que o cometem. Segundo o código penal brasileiro, a pena para esses atos vai depender da gravidade do caso.
Diversos fatores podem levar o sujeito a roubar um objeto que pertence ao outro. Países como o Brasil, por exemplo, enfrentam dificuldades para conseguir dar conta da insegurança e violência, principalmente, nos grandes centros urbanos.
Uma das alterações comportamentais que podem lavar a manifestação de roubos e furtos é a cleptomania. Esse tipo de comportamento é visto com maus olhos, o que acaba abrindo espaço para julgamentos e dificultando a compreensão da natureza compulsiva dessa conduta.
O que é cleptomania?
Também conhecida como roubo patológico, a cleptomania faz parte dos tipos de alterações de impulsos e atos compulsivos, ou seja, o paciente sente uma necessidade incontrolável de roubar ou furtar objetos de outras pessoas.
Mesmo não possuindo nenhuma necessidade financeira e independente do valor do objeto que será furtado, a pessoa que convive com a cleptomania pode passar por experiência de extrema ansiedade e angústia caso não realize a ação.
O shoplifting é um tipo de cleptomania, caracterizado pela prática de pequenos furtos em lojas de departamento e supermercados. Esse tipo de alteração comportamental ficou muito conhecido com o caso da atriz americana Winona Ryder, que foi flagrada roubando uma loja de grife no ano de 2001.
Principais sintomas
O indivíduo com cleptomania apresenta alguns sintomas que devem ser observados para que a busca por ajuda aconteça da forma mais rápida possível. A presença de pequenos roubos e furtos, sentimentos de angústia, culpa e medo relacionados com esses atos e a incapacidade de controlar os comportamentos desviantes, são sinais que podem se manifestar.
Mesmo não querendo furtar, o sujeito sente uma grande sensação de prazer logo após a ação. Esse estado de bem estar é passageiro e seguido por uma forte sensação de remorso e receio de ser descoberto.
O que leva ao desenvolvimento da cleptomania?
Estudos ainda não conseguiram definir o que causa a cleptomania, contudo, acredita-se que aspectos relacionados com o funcionamento cerebral podem ser o principal fator associado ao desenvolvimento deste quadro psíquico.
A cleptomania pode estar relacionada com a liberação dopaminérgica. Algumas hipóteses apontam para uma possível ligação entre a necessidade de sentir o prazer proporcionado pela liberação da dopamina e a euforia sentida pela realização do roubo.
Qual é o perfil do cleptomaníaco?
O cleptomaníaco é aquele sujeito que não planeja os atos que vai cometer. Seu prazer não é a ação de causar sofrimento e tomar os objetos do outro, na verdade, após a sensação inicial de satisfação e prazer o sujeito manifesta uma grande culpa e medo de represálias.
Os cleptomaníacos não roubam em grupo e não costumam furtar parentes próximos e amigos íntimos. É mais comum que os atos sejam cometidos em lugares abertos e com movimento de pessoas, além disso, os comportamentos cleptomaníacos normalmente começam a se manifestar na adolescência.
Fatores associados a cleptomania
O principal fator associado a cleptomania é o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), uma vez que, essas duas alterações possuem mecanismos semelhantes na ativação de neurotransmissores.
Além disso, alterações de humor como a depressão também pode ter algum nível de influência na manifestação de quadros cleptomaníacos. Alguns estudos também apontam a influência dos transtornos de personalidade.
Estratégias para lidar com a cleptomania
O paciente que convive com a cleptomania, tem que aprender a manejar algumas estratégias que são importantes para o controle dos impulsos. Esse tipo de intervenção pode ser realizado em conjunto com o psicólogo ou psiquiatra que acompanha o caso.
O uso de técnicas de diminuição da ansiedade, como o controle da respiração, a realização de yoga e atividades físicas que promovam a diminuição do estresse, podem ajudar no momento mais tenso que ocorre antes da realização do furto.
Focar a atenção em atividades que demandam um esforço maior, exercitando a prática de canalizar o desejo por cometer os roubos em tarefas e ações diferentes, pode ser uma estratégia efetiva quando bem aplicada.
Entender as situações em que a vontade de furtar é maior pode ajudar no controle dos impulsos, além disso, a consciência sobre os mecanismos que ajudam a manifestar a ação pode ser uma boa estratégia para evitar a realização do ato.
Como a família deve lidar com o cleptomaníaco?
A família tem um papel importante na vida do sujeito que convive com a cleptomania. É essencial que as pessoas próximas tenham uma postura livre de julgamentos e entendam que os roubos e furtos não são cometidos de modo planejado ou carregados de maldade.
Buscar informações sobre os sintomas, as estratégias de enfrentamento e os sentimentos que o paciente com cleptomania pode apresentar é um fator que ajuda no convívio diário.
Ter um ambiente acolhedor que forneça o suporte necessário durante o tratamento, pode fazer grande diferença na evolução do paciente, possibilitando uma adesão maior às estratégias de controle e superação.
A Cleptomania tem cura?
A cleptomania é considerada um transtorno crônico e, por isso, não podemos falar em cura. Contudo, as estratégias de tratamento podem ser muito efetivas no controle dos impulsos.
Neste tipo de alteração mental e comportamental, é necessário colocarmos em primeiro lugar a melhora na qualidade de vida do paciente, o ajudando a retornar às atividades diárias, nos casos em que ocorrem repercussões nessa esfera.
Tratamentos para cleptomania
Diversos tratamentos podem ser utilizados no enfrentamento da cleptomania. A psicoterapia, por exemplo, pode ajudar no manejo dos sintomas. A principal abordagem utilizada é a terapia cognitivo-comportamental e as técnicas de psicoeducação utilizadas por essa linha da psicologia trazem grandes benefícios para os pacientes.
Intervenções farmacológicas também podem ser utilizadas. Os principais medicamentos recomendados são: o lítio, alguns opióides e os antiepilépticos.
Apoio profissional
Escolher ou não o profissional adequado pode levar ao sucesso ou a pouca eficácia do processo de tratamento. A recomendação é buscar intervenções de psicólogos e psiquiatras, estes profissionais são os mais qualificados para cuidar da cleptomania.
É necessário levar o quadro a sério, entendendo que o mesmo não diz respeito a uma falha ética, mas a um problema de ordem mental e impulsiva. Só assim a busca pelo profissional vai fazer sentido para o tratamento.
Conclusão
Como vimos, a cleptomania vai muito além da prática de roubos e furtos. Na verdade, este transtorno pode dominar a vida e as ações do sujeito, trazendo sérias implicações em seu convívio social.
Saber que não está presente apenas durante o processo de tratamento é muito importante para o paciente, pois, fornece o apoio necessário para enfrentar os estigmas que surgem em decorrência do quadro.
Ficar atento aos sintomas da cleptomania é uma boa maneira de minimizar o sofrimento que será vivenciado pelo sujeito. Deste modo, a busca pelo tratamento adequado pode ocorrer mais rapidamente.
Nesse sentido, debater sobre a cleptomania é uma atitude importante em decorrência das construções sociais que são realizadas com relação a esse transtorno. Desfazer ideias preconcebidas e abrir possibilidades de enfrentamento conjunto desse tipo de alteração mental, pode contribuir para o processo de cuidado dos pacientes.
Fabrício Selbman é Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento, e também é:
- Formado em marketing e pós-graduado em gestão empresarial;
- Especialista em Dependência Química pela UNIFESP. Especialização na Europa sobre o modelo de tratamento Terapia Racional Emotiva (TRE);
- Psicanalista pela Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Professor de Especialização na Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento.