O ayahuasca recentemente tem ganhado muita ênfase entre os mais jovens e as pessoas que fazem parte de crenças ritualísticas. Essa substância causa efeitos alucinógenos muito fortes, podendo levar a danos físicos ou psíquicos.
Pouco se sabe sobre esse chá, qual sua origem, sua composição e como seus efeitos atingem o organismo humano, se causa malefícios, ou não.
Ayahuasca muitas vezes é citado na mídia por promover efeitos que fazem seu usuário entrar em estado catatônico, por conta das suas fortes propriedades, seus efeitos podem fazer com que o usuário entre em um estado de crise existencial.
O consumo dessa erva deve ser melhor monitorado, uma vez que, quando usada em altas doses pode causar grandes efeitos fisiológicos como vômitos, danos à saúde física e mental do indivíduo consumidor.
Sendo assim é de extrema importância trazer ao público informações sobre essa droga pouco conhecida usada para fins ritualísticos, mas que precisa ser entendida com potenciais riscos para o organismo humano.
O que é ayahuasca ?
Ayahuasca é uma bebida usada entre os povos indígenas amazônicos. Para fazer essa bebida popularmente conhecida como chá, usam-se ervas nativas encontradas na floresta amazônica, como cipó-jagube e arbusto-chacrona.
Essa bebida é usada há milênios pelos povos nativos com o intuito de fazer rituais religiosos, pois a mesma causa alucinações que ajudam no processo que os pajés chamam de encontrar os espíritos.
Muitos dizem que ela também é usada para tratar algumas doenças, mas a dose errada pode causar uma crise no organismo, podendo acontecer efeitos colaterais nocivos ao ser humano.
No nosso território nacional, o uso do chá alucinógeno foi se expandindo nos centros urbanos a partir de algumas práticas religiosas, como a barquinha e o santo daime.
O chá de ayahuasca é produzido a partir de um processo de decocção das plantas utilizadas, onde as mesmas são colocadas para ferver, retirando desse processo o princípio ativo contido.
Origens
O ayahuasca tem sua origem a mais de 4 mil anos na Amazônia, entre os povos antigos que usufruam da mesma para fins ritualísticos, dentre estes povos podemos nomear os Ashaninka, Kashinawa, Yawanawá, Katukina, Arara e Siona.
A palavra ayahuasca vem do quíchua onde aya significa espírito e waska significa cipó. A ayahuasca é feita a partir da mistura de diferentes espécies do cipó Banisteriopsis com outras plantas, como Psychotria viridis e Diplopterys cabrerana a chaliponga.
Como funciona?
A chacrona utilizada na bebida possui uma substância chamada alcalóide dimetiltriptamina mais conhecida como DMT, que por sua vez é um forte psicoativo, mas seus efeitos não são percebidos pelo organismo, porque essa mesma substância é metabolizada por uma enzima que possuímos.
No entanto, o chá leva outras plantas como o cipó-de-mariri, que possui beta-carbolinas que anulam o efeito da enzima, possibilitando que o DMT chegue ao cérebro, fazendo alterações intensas nos níveis hormonais do indivíduo.
Efeitos no corpo
A droga tem um efeito muito forte, os de curto prazo tem mais influência no psicológico do consumidor. O usuário começa a ter alucinações, sensação intensa de vigília, delírios e nessas visões geralmente aparecem figuras de divindades, demônios, animais da floresta, causando alterações cognitivas e sensoperceptivas, além disso é comum que o usuário tenha sintomas de diarreia, vômitos e tremores quando ingerem a bebida.
Quais são os perigos da ayahuasca?
Com a popularização do ayahuasca, além da sua liberação para consumo no Brasil, muitas pessoas usam o chá, mas não colocam limites nesse consumo, utilizando a bebida de forma imprópria com um propósito recreativo, esquecendo os riscos à saúde física e mental que essa droga pode ocasionar.
Efeitos físicos
Além dos vômitos, diarreias, tonturas, o uso do chá também pode ocasionar taquicardia, aumento da pressão sanguínea, náuseas, até mesmo convulsões e hipertensão, o princípio ativo dessa droga causa modificações no organismo podendo levar a sequelas e efeitos colaterais vindos do uso abusivo do chá ayahuasca.
Efeitos Psicológicos
Assim como outras drogas alucinógenas, o resultado do uso do ayahuasca não pode ser previsto, uma vez que esse tipo de droga age de maneira diferente em cada indivíduo. Alguns sujeitos podem apresentar medo, ansiedade exacerbada, paranoia, além de que essa droga também pode trazer à tona traumas passados.
Sendo assim o uso de ayahuasca pode ser traumatizante, assustador, e seu uso deve ser evitado. Esses efeitos são tão perigosos que podem durar semanas, prejudicando a qualidade de vida do sujeito e a rotina do dia-a-dia.
Contraindicações
O uso de ayahuasca também tem suas contraindicações, podendo afetar pessoas com problemas neurológicos, principalmente esquizofrenia ou epilepsia, o chá pode acabar aumentando a frequência e a duração dos surtos. Também existem contraindicações diante daqueles que tomam antidepressivo, pois o mesmo pode aumentar o efeito dos remédios elevando o risco de convulsões, além disso ele também pode potencializar, sintomas de ansiedade, hipertensão e cardiopatias.
O chá de ayahuasca vicia?
Não há estudos que comprovem que o chá de ayahuasca é viciante, mas ele pode causar dependência psicológica dos seus usuários, assim como acontece com outros consumidores de drogas psicotrópicas como LSD. Esses usuários ficam dependentes da sensação que essas drogas causam, fazendo com que consumam de modo imoderado buscando aquelas sensações que causam os efeitos colaterais vistos anteriormente.
Ayahuasca : remédio ou droga
Apesar do ayahuasca ter propriedades que ajudam doenças, como ansiedade, depressão, entre outros problemas psicológicos, essa bebida apresenta mais riscos do que benefícios. Sendo assim, é possível reconhecer que os efeitos colaterais desse chá ocasionam mais nocividade ao corpo, como seus efeitos alucinógenos, convulsivos, além de vômitos e taquicardia, gerada pelo alto consumo do que podemos considerar uma droga, que tem um uso medicinal, quando manipulada pelas pessoas que tem o conhecimento necessário, mas é importante ressaltar que mesmo sendo manipulada, ela continua, prejudicando o organismo sendo portanto uma droga.
Tratamento
Quando se fala do consumo desenfreado de uma substância química, é normal pensar em tratamento para aquela dependência, mas a adicção gerada pelo ayahuasca tem mais cunho psicológico. O consumo excessivo dessa substância também acomete o corpo de forma física, por isso, é importante fazer acompanhamento médico de um profissional da medicina e com relação aos pensamentos de dependência, é importante procurar um profissional de psicologia, para que através de suas técnicas o indivíduo consiga identificar a origem da sua dependência e assim mudar o consumo impróprio dessa droga.
Conclusão
Como vimos, o ayahuasca tem uma finalidade em seu uso, que na maioria das vezes é de cunho religioso, mas é preciso reconhecer também os seus riscos a saúde mental e física dos usuários, além de que nunca será recomendado o uso dessa bebida sem a supervisão de uma pessoa que conheça como manipular as plantas usadas, e que saiba como proceder diante dos efeitos da droga.
Com isso, quem consome o ayahuasca deve estar ciente dos seus riscos, pois seus efeitos psicotrópicos são extremamente fortes, as alucinações causadas por essa bebida podem ser presenciadas mesmo de olhos fechados, além disso podem durar por semanas. Uma pessoa psicologicamente despreparada para uma experiência imersiva pode ter um agravamento de crises e distúrbios mentais.
Além disso, seus efeitos no organismo de forma física, também são arriscados para o indivíduo, podendo ocasionar hipertensão, ataques cardíacos, além de vômitos e diarreia por conta da alta toxicidade da bebida.
O uso prolongado e imoderado do chá ayahuasca pode causar danos permanentes à saúde física, além da sua dependência, causada pela expectativa de viver a reações alucinógenas novamente a cada consumo, com isso é preciso de acompanhamento médico para que possa proporcionar uma recuperação física do organismo, além de acompanhamento psicológico.
Fabrício Selbman é Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento, e também é:
- Formado em marketing e pós-graduado em gestão empresarial;
- Especialista em Dependência Química pela UNIFESP. Especialização na Europa sobre o modelo de tratamento Terapia Racional Emotiva (TRE);
- Psicanalista pela Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Professor de Especialização na Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento.