Você conhece a anfetamina, seus efeitos e riscos?
Ela está entre as drogas mais consumidas no Brasil e ao redor do mundo, tendo potencial para causar danos colaterais severos ao organismo de quem a administra.
Uma das razões para seu uso disseminado está nas informações equivocadas que se espalham, como o seu suposto benefício no controle da obesidade.
É justamente para entender melhor o assunto que ofereço este artigo a você.
A ideia é que, com base na minha experiência frente ao Grupo Recanto, você possa esclarecer algumas das principais dúvidas sobre essa droga específica.
A partir de agora, vou falar sobre os riscos no uso prolongando, a atuação no organismo, os sintomas, as possibilidades de tratamento, entre outros tópicos importantes.
Se o tema é do seu interesse, acompanhe até o final!
O que é anfetamina?
Anfetamina é uma droga sintética que age diretamente no sistema nervoso central, estimulando a sua atividade.
Ela foi sintetizada a primeira vez ainda no século XIX, no final da década de 1880, mas só passou a ser usada de forma mais massiva durante a Segunda Guerra Mundial.
A substância era usada sob a falsa alegação de que aumentava a disposição dos combatentes durante as batalhas.
Os soldados, de fato, pareciam ficar mais acordados, dispostos, ativos e apresentavam maior tolerância à fome e à fadiga.
No entanto, com o tempo, percebeu-se que se tratavam de efeitos paliativos e efêmeros, que causavam consequências graves.
Ainda durante a Grande Guerra, que perdurou até 1945, estudos britânicos constataram que a anfetamina prejudicava sobremaneira o desempenho dos militares, principalmente os pilotos de aeronaves, que passaram a ter um índice de acidentes muito mais elevado que o habitual.
As anfetaminas, hoje em dia, também são usadas para outros fins.
São o popular rebite, utilizado por caminhoneiros para ter mais resistência ao volante.
Também podem ser encontradas na versão de comprimidos, como o ecstasy, bastante famoso entre os jovens e usado em baladas para dar mais disposição.
Efeitos no corpo e saúde mental
A anfetamina exerce um impacto significativo no sistema cardiovascular, afetando tanto o coração quanto os vasos sanguíneos. A substância atua como um potente estimulante do sistema nervoso simpático, o que leva a uma série de efeitos fisiológicos:
- Aumento da Frequência Cardíaca (Taquicardia):
A anfetamina provoca a liberação de neurotransmissores como a norepinefrina, que estimulam os receptores adrenérgicos no coração, resultando em um aumento da frequência cardíaca. Esse efeito pode ser particularmente perigoso para indivíduos com condições cardíacas preexistentes.
- Elevação da Pressão Arterial:
A droga causa vasoconstrição, ou seja, o estreitamento dos vasos sanguíneos, o que aumenta a resistência vascular periférica e, consequentemente, eleva a pressão arterial. A hipertensão induzida pela anfetamina pode levar a complicações graves, como acidentes vasculares cerebrais (AVCs) e infartos do miocárdio.
- Arritmias Cardíacas:
O uso prolongado de anfetamina pode causar arritmias, que são batimentos cardíacos irregulares. Essas arritmias podem variar de benignas a potencialmente fatais, como a fibrilação ventricular.
- Cardiomiopatia:
O abuso crônico de anfetamina pode levar ao desenvolvimento de cardiomiopatia, uma condição em que o músculo cardíaco se torna enfraquecido e menos eficiente em bombear sangue. Isso pode resultar em insuficiência cardíaca congestiva.
Efeitos Psicológicos a longo prazo
O uso prolongado de anfetamina tem um impacto profundo na saúde mental, levando a uma série de distúrbios psicológicos:
- Ansiedade:
- A estimulação contínua do sistema nervoso central pode resultar em níveis elevados de ansiedade. Os usuários podem experimentar ataques de pânico, nervosismo constante e uma sensação de apreensão.
- Depressão:
Após o efeito estimulante inicial, muitos usuários experimentam uma “queda” significativa, caracterizada por sentimentos de tristeza, desesperança e falta de energia. A depressão pode se tornar crônica com o uso prolongado da droga.
- Psicose:
A anfetamina pode induzir sintomas psicóticos, como alucinações e delírios. Esses sintomas são frequentemente comparados aos da esquizofrenia e podem persistir mesmo após a cessação do uso da droga.
- Mudanças de Humor e Irritabilidade:
O uso contínuo pode levar a mudanças de humor extremas, incluindo episódios de euforia seguidos por irritabilidade e agressividade. Essas mudanças de humor podem afetar significativamente a vida social e profissional do indivíduo.
- Paranoia:
A paranoia é um efeito colateral comum do uso prolongado de anfetamina. Os usuários podem desenvolver uma desconfiança extrema em relação aos outros, acreditando que estão sendo perseguidos ou vigiados.
Qual é a relação entre anfetamina e emagrecimento?
É preciso ter muito cuidado ao estabelecer qualquer relação entre o uso da anfetamina e os tratamentos para emagrecimento.
Faço esse alerta, pois é comum que haja algum tipo de confusão, afinal, um dos efeitos que essa substância causa ao organismo é a inibição do apetite.
O cenário piora ainda mais quando o entorpecente é misturado com outros fármacos, como antidepressivos e diuréticos.
No entanto, nenhum endocrinologista sério vai indicar qualquer remédio que tenha a droga como um dos seus componentes.
Isso porque os malefícios que ela causa ao organismo são muito mais severos que os supostos benefícios – falarei sobre isso mais à frente.
Boa parte da razão para o equívoco de que anfetamina emagrece é que essa substância nasce da mesma molécula de derivados feniletilamínicos, como o femproporex e a dietilpropiona.
Estes, sim, têm propriedades que ajudam no combate ao sobrepeso, pois funcionam como inibidores e moderadores de apetite.
Ao contrário da anfetamina, no entanto, essas outras duas substâncias não geram excitação e têm um grau de dependência muito menor, quase inexistente.
É válido esclarecer, porém, que a anfetamina e suas derivadas têm aplicações médicas, como no caso do tratamento do Transtorno do Déficit de Atenção (TDAH) e da narcolepsia.
A dica para não cair na tentação da promessa de que a anfetamina emagrece é evitar o seu uso.
Os relatos de que um conhecido perdeu cinco, dez quilos em um mês podem até ser verídicos, mas a que preço?
Isso que nem comentei sobre o efeito rebote que essa droga causa.
A redução do apetite é algo temporário e, para aumentar a duração, a pessoa passa a exagerar nas doses por conta própria.
Então, quando o seu uso é suspenso, a sua fome aumenta de forma despropositada, fazendo com que todo aquele peso perdido seja recuperado – e ainda uns quilinhos extras.
Como a anfetamina age no organismo?
A anfetamina atua sobretudo no sistema nervoso central.
Ela provoca reações químicas no cérebro, despertando sensações como insônia, excitação e a já citada falta de apetite.
As principais alterações podem ser sentidas nos neurotransmissores serotonina e dopamina, deixando a pessoa mais disposta e com aquele sentimento de bem-estar.
No entanto, tudo isso é passageiro e dura não mais que algumas horas.
A atuação da droga não se restringe apenas ao sistema nervoso, agindo de forma importante também em outros órgãos, em especial, no coração e intestino.
Isso porque o consumo de anfetamina aumenta a frequência cardíaca e a pressão arterial, provocando quadros de arritmia e até derrames e acidentes vasculares cerebrais.
Na parte digestiva, há alternância de episódios de intestino preso com crises de diarreia, além da incidência de gastrite.
Quanto tempo dura o efeito da anfetamina?
A duração do efeito da anfetamina depende muito da quantidade ingerida, da tolerância do organismo e, principalmente, de qual derivado da droga estamos falando.
Sua ação pode variar entre 6, 8 e até 12 horas.
O grande problema é quando esse efeito passa e o indivíduo começa a se sentir deprimido, angustiado e sem energia, como se fosse um eletrodoméstico desligado da tomada.
Para se sentir recarregado, ele vê a necessidade em voltar a consumir a droga, só que, dessa vez, em maiores quantidades.
Quais são os efeitos e riscos do uso contínuo de anfetamina?
Ainda há poucos estudos sobre o abuso e a dependência da anfetamina aqui no Brasil.
Mas uma certeza se tem: em longo prazo, ela causa problemas psicológicos graves e mudanças de humor bruscas, beirando a bipolaridade.
Durante a fase maníaca, o indivíduo tende a se sentir eufórico e animado, no entanto, de uma hora para outra, ele pode ter crises paranoicas, nas quais o principal sintoma é a desconfiança extrema.
São exemplos batidos, mas funcionam muito bem como casos didáticos.
Um caminhoneiro que consome rebite em excesso começa a ver situações que não existem, como acreditar que existem outros motoristas o perseguindo.
Outro caso semelhante é quando um indivíduo está cercado de pessoas e fantasia que todos o estão olhando de um jeito estranho ou falando dele.
Além dos efeitos emocionais já citados, como depressão, irritabilidade, distorções da realidade, alucinações e paranoia, o uso contínuo de anfetamina pode trazer outras complicações, como:
- Insônia e outros problemas ligados ao sono
- Desidratação severa
- Sufocamento
- Problemas cardíacos
- Convulsões
- Insuficiência respiratória.
Como cortar os efeitos da anfetamina?
Essa é uma pergunta que escuto com frequência, não apenas relacionada à anfetamina, mas a qualquer outra droga: como fazer para cortar os efeitos de determinada substância?
Para todos que me fazem esse questionamento, a resposta é uma só: não existe solução mágica ou definitiva para acabar instantaneamente com as sensações geradas pela ingestão de uma substância.
Tudo o que lhe disserem ao contrário é paliativo e sem nenhuma comprovação científica de eficácia.
Talvez, até ofereça um efeito placebo, mas se você busca ajudar, de fato, alguém que está tendo problemas com o uso abusivo de anfetamina, esse não é o melhor caminho.
É claro que existem medidas que podem deixar o cenário um pouco mais acolhedor, como tentar acalmar o indivíduo, levá-lo para um ambiente seguro e tranquilo, manter o nível de hidratação adequado e estabelecer uma postura preventiva em caso de convulsões.
No entanto, o principal auxílio que você, enquanto alguém que se preocupa e se importa com o adicto, pode oferecer é buscar um suporte especializado e encaminhar a um tratamento em uma clínica de reabilitação.
Eu sei o quanto essa decisão pode ser complicada, especialmente quando ela não é de comum acordo.
Mas, ainda assim, é a escolha mais certa a se fazer.
Quais são os sintomas de overdose de anfetamina?
O uso abusivo de anfetamina e a sua mistura com outros tipos de drogas pode desencadear um quadro de overdose.
Para quem não conhece, ele ocorre quando o organismo recebe uma carga de determinada substância muito acima do que consegue suportar, gerando as mais variadas complicações.
Em outras palavras, nosso corpo, em especial o sistema nervoso central, fica sobrecarregado, tentando dar conta de metabolizar tudo o que foi consumido, porém sem sucesso.
A ingestão de drogas, por si só, já gera danos, mas em doses mais moderadas, eles não são tão severos.
Agora, imagine consumir uma quantidade muito superior ao aceitável? Os efeitos podem ser devastadores.
Na overdose, cada substância apresenta um determinado leque de sintomas.
No caso da anfetamina, eles são:
- Agitação
- Aumento do estado de alerta
- Midríase (dilatação da pupila)
- Dores no peito
- Aumento da frequência cardíaca
- Convulsões
- Febre.
Aqui, é importante ter uma atenção especial às convulsões.
Essa manifestação é definida pela anormalidade das descargas elétricas ocorridas no cérebro.
Como é o órgão que controla o nosso organismo, ele acaba enviando sinais confusos para as demais partes, afetando, entre outras situações, o comportamento muscular.
Por isso que, durante uma crise convulsiva, o corpo se debate: os músculos estão agindo de forma desordenada, contraindo e relaxando alternadamente.
Além disso, conforme dito, o uso de anfetamina aumenta a frequência cardíaca e a pressão arterial, tornando mais suscetíveis problemas no coração e os temidos acidentes vasculares cerebrais.
Dependendo da gravidade do quadro, as complicações geradas a partir da overdose podem levar ao óbito.
Como é o caso, por exemplo, da morte por sufocamento, em que a pessoa, por não conseguir vomitar, devido à debilidade do organismo, acaba aspirando o conteúdo e inundando seus pulmões.
Qual é o tratamento mais adequado para dependentes de anfetamina?
A dependência química não tem cura.
Mas isso não significa dizer que ela não seja tratável e que a pessoa não possa viver uma vida normal repleta de novas responsabilidades e motivações.
Para tanto, não há atalhos.
É preciso ir em busca de ajuda especializada, e que o paciente seja tratado com todo o carinho e atenção que ele merece.
Aqui, no Grupo Recanto, todos os preconceitos e julgamentos que os dependentes químicos comumente enfrentam ficam do lado de fora da clínica.
Nosso tratamento humanizado tem como fio condutor um tripé que conta com: aconselhamento biopsicossocial, Terapia Racional Emotiva e Programa dos 12 Passos.
Cada etapa tem papel fundamental na reabilitação do indivíduo, o processo de recuperação é uma construção, que deve ser encarado dia após dia.
Apresento, com mais detalhes, o nosso tripé de tratamento:
Aconselhamento biopsicossocial
Como o próprio nome já sugere, é uma abordagem que busca oferecer um tratamento humanizado e individualizado, respeitando os aspectos biológicos, psicológicos e sociais de cada paciente.
Entendemos que cada interno tem sua história, uma trajetória que o levou até aquele presente momento, e todos esses fatores precisam ser considerados na hora de prestar a melhor assistência possível.
A ideia é que nessa fase, além de respeitar as particularidades dos nossos pacientes, possamos desenvolver habilidades importantes, como autopreservação e responsabilidade, que ajudem ele a reconhecer suas limitações perante a doença.
Terapia Racional Emotiva (TRE)
Já a TRE surge como um complemento à abordagem anterior, no sentido de aliar os aspectos emocionais ao respaldo da ciência.
Aqui, o objetivo é trabalhar as crenças irracionais que foram provocadas pelo vício e desenvolver a inteligência emocional para que o adicto possa ter uma visão mais realista dos seus sentimentos e ações.
É sobre reconhecer determinados comportamentos e perceber o quão maléficos eles podem ser não somente para o paciente em si, mas também para aqueles que estão ao seu redor.
Qualquer conduta pode ser modificada, desde que incentivada da maneira certa.
Programa dos 12 passos
Por fim, o Programa dos 12 passos, implementado com sucesso há quase um século nos grupos de mútua ajuda, como o Alcoólicos Anônimos (AA), funciona como um espaço de resgate e construção da sobriedade.
O programa consiste em, primeiro, reconhecer o vício e sua impotência perante ele, encontrar a espiritualidade e reprogramar o sistema de crenças e valores.
Sempre em um espaço livre de preconceitos, no qual experiências são compartilhadas com aqueles que já viveram ou vivem histórias semelhantes à do paciente.
Conclusão
Qualquer assunto que envolva a dependência química é delicado.
Afinal, estamos falando de um problema sério e que nem sempre é encarado como tal.
A anfetamina é mais uma droga que pode trazer complicações à saúde, especialmente quando administrada de forma abusiva e sem orientação médica (no caso do tratamento de doenças em que o seu uso é indicado).
No entanto, por mais difícil que seja encarar essa realidade, é importante entender que não há atalhos e muito menos soluções mágicas para tratar esse problema: a procura por ajuda especializada é a única saída.
Nesse sentido, se você conhece alguém que esteja passando por dificuldades com álcool e outras drogas, incentive a busca por suporte.Para conhecer mais sobre o Grupo Recanto, entre em contato com a nossa equipe, que nós ligamos para você.
Fabrício Selbman é Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento, e também é:
- Formado em marketing e pós-graduado em gestão empresarial;
- Especialista em Dependência Química pela UNIFESP. Especialização na Europa sobre o modelo de tratamento Terapia Racional Emotiva (TRE);
- Psicanalista pela Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Professor de Especialização na Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento.