De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), saúde mental significa sentir-se bem, lidar com o estresse do dia a dia, ser produtivo e contribuir para sua comunidade. É quando você se sente bem consigo mesmo e com a vida. Sendo a saúde mental então essencial para o bem-estar geral e sendo também um direito humano fundamental que desempenha um papel vital no desenvolvimento pessoal, comunitário e socioeconômico.
Sabemos que beber muito álcool pode fazer mal para a saúde mental de alguém, especialmente se a pessoa não consegue controlar o quanto bebe, bebe muito de uma vez ou bebe muito praticamente todos os dias ou semanas.
O consumo de álcool sempre se fez presente em nossa cultura e em nossa sociedade por muitos séculos, seja em datas comemorativas ou seja socialmente. Podendo acontecer de muitas vezes passar por um consumismo excessivo com efeitos negativos a longo prazo.
O QUE É O ALCOOLISMO?
O alcoolismo é caracterizado pela dependência do álcool, uma necessidade de ingerir bebidas alcoólicas, tornando a pessoa incapaz de ficar sem beber. Com o tempo, ela desenvolve uma tolerância, o que significa que precisa consumir quantidades mínimas cada vez maiores para sentir o mesmo efeito. Quando tenta parar, pode surgir sintomas de abstinência, incluindo ansiedade, tremores, irritabilidade e outros.
O alcoolismo é considerado como doença (CID-8) pela Organização Mundial da Saúde (OMS) desde 1967, essa classificação destaca a seriedade do alcoolismo como uma condição médica, enfatizando que vai além do mero comportamento de consumo de álcool.
O alcoolismo envolve o corpo e a mente da pessoa, com muitos sintomas, problemas de saúde e problemas na vida das pessoas. É por isso que é considerado uma doença. Isso também afeta como os médicos tratam as pessoas com alcoolismo, ajudando-as a se recuperar.
COMO DIFERENCIAR O ETILISMO E ALCOOLISMO
No universo do consumo de álcool, dois termos, etilismo e alcoolismo, emergem frequentemente para descrever situações em que as pessoas bebem álcool de maneira prejudicial. Embora pareçam semelhantes à primeira vista, esses termos carregam nuances distintas que são essenciais para entender a complexidade do uso problemático de álcool.
ETILISMO
Etilismo é quando alguém bebe muito álcool em algumas ocasiões, como em festas. Isso pode deixar a pessoa se sentindo alegre e extrovertida, mas não significa que ela seja viciada em álcool. Na vida cotidiana, essa pessoa não sente a necessidade de beber o tempo todo.
Em outras palavras, imagine alguém que, de vez em quando, participa de festas ou eventos sociais e, nessas situações, bebe demais, ficando bêbado. No dia a dia, essa pessoa não sente a necessidade de consumir álcool regularmente e não apresenta sinais de dependência. O etilismo é como uma experiência ocasional de bebedeira que não domina a vida cotidiana da pessoa. É importante notar que, embora o etilismo possa ter riscos à saúde e levar a comportamentos de risco durante a embriaguez, ele não é a mesma coisa que o alcoolismo, que é uma condição mais séria caracterizada pela dependência crônica do álcool.
ALCOOLISMO
Alcoolismo, por outro lado, é uma condição mais profunda e crônica. Envolve uma dependência física e psicológica do álcool, levando a pessoa a beber mesmo quando enfrenta consequências negativas para a saúde e vida. Essas pessoas não conseguem controlar o consumo e podem desenvolver uma tolerância ao álcool, precisando de mais para obter o mesmo efeito.
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COMO IDENTIFICAR A DEPENDÊNCIA DO ÁLCOOL?
A identificação da dependência de álcool envolve um processo que requer a observação atenta de diversos sinais e sintomas, pois a dependência não é determinada por um único indicador, mas sim pela análise de um conjunto de fatores que podem sugerir um problema com o álcool.
TOLERÂNCIA AO ÁLCOOL
A tolerância, segundo o Ministério da Saúde, é definida por uma necessidade de quantidade progressivamente maior de álcool para alcançar a intoxicação ou o efeito desejado. Efeito acentuadamente menor com o uso continuado da mesma quantidade de álcool. Acaba sendo um fenômeno que, ao longo do tempo, uma pessoa desenvolve tolerância ao álcool e não sente os mesmos efeitos com uma quantidade de álcool que antes a afetava. Ocorre um processo de habituação, onde o sistema nervoso central se ajusta ao álcool, tornando-se menos sensível a ele.
SINTOMAS DE ABSTINÊNCIA
De acordo com o Manual MSD, a abstinência é o nome dado a uma série de sintomas que aparecem quando alguém que costumava beber muito álcool para beber ou diminuir muito a quantidade que costumava beber. Esses sintomas acontecem porque o corpo se acostuma com o álcool e fica confuso quando ele não está mais presente. Esses sintomas surgem devido a mudanças no sistema nervoso central, que se adaptam ao álcool ao longo do tempo. É visto sintomas como tremores, fraqueza, dores de cabeça, sudorese, hiper-reflexia e sintomas gastrointestinais, aumento da frequência cardíaca, alucinações, convulsões e delirium tremens (DT).Esses sintomas podem ocorrer dentro de 8 horas após o consumo de álcool.
COMPULSÃO
Desejo incontrolável por beber bebidas alcoólicas, o distúrbio causa um forte desejo de beber depois de consumi-lo repetidamente por um longo tempo, e a pessoa prioriza o vício em álcool em detrimento de fazer outras atividades. Uma pessoa se torna incapaz de passar um dia sem uma bebida, desenvolvendo uma dependência progressiva em relação ao álcool em sua vida diária.
ALTERAÇÕES DO HUMOR
Uma das maneiras pelas quais o álcool impacta a saúde emocional é por meio de mudanças de humor. Muitas pessoas que lutam contra o alcoolismo experimentam oscilações de humor, que podem variar de euforia e impulsividade durante o uso do álcool a sentimentos de ansiedade, depressão e irritabilidade quando estão sóbrias.
Essas mudanças de humor podem ser causadas por fatores, incluindo alterações químicas no cérebro provocadas pelo consumo excessivo de álcool e o impacto do alcoolismo nas relações interpessoais e no bem-estar emocional.
ALCOOLISMO E ANSIEDADE
O alcoolismo e a ansiedade frequentemente estão interligados, com um impacto ou outro de várias maneiras. Pessoas que sofrem de ansiedade podem ser mais propensas a recorrer ao álcool como uma forma de autotratamento para aliviar os sintomas de ansiedade. No entanto, o álcool pode inicialmente parecer aliviar a ansiedade, mas, a longo prazo, pode agravar os sintomas e contribuir para a ansiedade.
A revista ‘’Alcohol: Clinical & Experimental Research’’ se propôs a mostrar essa relação, mostrou que o alcoolismo e a ansiedade muitas vezes estão interligados, o estudo concluiu que ambos são comórbidos, ou seja, ocorrem juntos com frequência.
O uso excessivo de álcool comumente pode contribuir para o desenvolvimento de transtornos de ansiedade, como o transtorno de ansiedade generalizada e o transtorno do pânico. O álcool influencia a química cerebral e a abstinência pode desencadear sintomas de ansiedade.
ALCOOLISMO E DEPRESSÃO
O álcool é uma substância que afeta o sistema nervoso central, causando efeitos depressores. Esses efeitos diminuem a atividade de certas partes do cérebro, afetando funções como julgamento, comportamento, respiração e frequência cardíaca. Isso pode piorar os sintomas de depressão.
De acordo com Ministério da Saúde, a depressão pode se caracterizar com sentimentos de tristeza, pessimismo e uma baixa autoestima, muitas vezes se manifestando juntos, sono ou apetite desregulados, sensação de cansaço e falta de concentração. Os sintomas podem ser prolongados ou recorrentes.
A relação entre alcoolismo e depressão é complexa e muitas vezes problemática. Pessoas que lutam contra o alcoolismo têm uma tendência maior a desenvolver depressão, e vice-versa. Essa ligação pode agravar ambos os distúrbios e criar um ciclo de dependência e sofrimento.
O alcoolismo é muitas vezes utilizado como uma forma de auto tratar os sintomas da depressão, já que o álcool pode aliviar temporariamente sentimentos de tristeza e ansiedade. No entanto, o uso prolongado do álcool pode piorar a depressão, levando a uma espiral descendente. O uso constante de álcool pode agravar a depressão e levar ao suicídio.
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COMO TRATAR O ALCOOLISMO E PROTEGER A SAÚDE MENTAL
Tratar o alcoolismo é uma etapa fundamental para proteger a saúde mental e melhorar o bem-estar geral. O alcoolismo é uma condição complexa e desafiadora que afeta não apenas o corpo, mas também a mente. O consumo excessivo de bebidas alcoólicas pode provocar comportamento anti social, abandono escolar, queda no desempenho escolar, prejuízo no aprendizado, prejuízo no ajuste social e no retardo do desenvolvimento de habilidades.
Para tratar o alcoolismo e proteger a saúde mental, é importante que sejam tomadas medidas preventivas e de tratamento.
Avaliação por um psiquiatra
Somente um profissional habilitado pode diagnosticar a existência ou ausência da doença e direcionar para o tratamento necessário.
Psicoterapia
É uma forma de tratamento que pode ajudar o indivíduo a lidar com os problemas emocionais que levaram ao alcoolismo e a desenvolver habilidades para lidar com situações estressantes sem recorrer ao álcool.
Uso de medicamentos
Existem medicamentos que podem ajudar a reduzir a vontade de beber e controlar os sintomas de abstinência.
Grupos de apoio
Grupos como os Alcoólicos Anônimos podem ser uma fonte de suporte emocional e motivação para o indivíduo em recuperação.
Atenção integral à saúde
É importante que o tratamento do alcoolismo seja integrado com a atenção à saúde mental e física do indivíduo, incluindo a prevenção e tratamento de transtornos mentais associados ao alcoolismo.
DIA DO ALCOÓLATRA RECUPERADO
O dia 9 de dezembro é reconhecido como o Dia do Alcoólico Recuperado, uma data instituída em São Paulo no ano de 1980 para homenagear aqueles que conseguiram superar o alcoolismo e se recuperarem. Essa celebração se estende por todo o país como uma maneira de sensibilizar a sociedade sobre os desafios associados ao alcoolismo e para valorizar as conquistas daqueles que estão em processo de recuperação. Seu objetivo é promover uma mobilização em favor do controle da doença alcoolismo.
O alcoolismo é uma doença crônica que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, e seus impactos podem ser severos tanto na saúde física quanto na mental. Portanto, é essencial adotar medidas preventivas e terapêuticas para combater o alcoolismo e preservar a saúde e o bem-estar daqueles afetados por essa condição.
O Dia do Alcoólico Recuperado representa uma oportunidade de celebrar a vida e a superação e, ao mesmo tempo, conscientizar a sociedade sobre a importância do tratamento e da recuperação para aqueles que enfrentam o alcoolismo.
CONCLUSÃO
O alcoolismo é uma doença complexa que afeta não apenas a saúde física, mas também a saúde mental das pessoas. O consumo excessivo de álcool pode levar a uma série de problemas, incluindo mudanças de humor, ansiedade e depressão. O álcool é muitas vezes usado como uma forma de auto tratar esses sintomas, criando um ciclo prejudicial. No entanto, existem medidas eficazes para tratar o alcoolismo e proteger a saúde mental.
A tolerância ao álcool é um dos primeiros sinais de dependência, e isso significa que uma pessoa precisa de quantidades crescentes de álcool para sentir os mesmos efeitos que sentiu anteriormente. Essa necessidade crescente de álcool está relacionada a alterações no sistema nervoso central e pode levar a sérios sintomas de abstinência, incluindo ansiedade, tremores, irritabilidade e outros.
O tratamento do alcoolismo envolve avaliação por profissionais de saúde, psicoterapia, uso de medicamentos e participação em grupos de apoio. Além disso, é importante garantir uma atenção integral à saúde, abordando tanto os aspectos físicos quanto os mentais do alcoolismo. O objetivo não é apenas abordar o vício em álcool, mas também os possíveis transtornos mentais associados.
O Dia do Alcoólico Recuperado, realizado em 9 de dezembro, homenageia aqueles que conseguem superar o alcoolismo e destaca a importância do tratamento e da conscientização. É uma oportunidade de celebrar a vida e a superação, bem como de educar a sociedade sobre os desafios do alcoolismo e a importância de buscar ajuda.
Em suma, o alcoolismo tem implicações significativas para a saúde mental, afetando tanto o bem-estar emocional quanto o desenvolvimento de transtornos como ansiedade e depressão. Identificar o problema, procurar tratamento e conscientizar a sociedade sobre a gravidade do alcoolismo são etapas essenciais para proteger a saúde mental e melhorar o bem-estar geral das pessoas afetadas por essa condição.
Caso você ou alguém próximo esteja lidando com o alcoolismo, é essencial entender que buscar ajuda e iniciar uma jornada de recuperação é um passo valioso, independente da idade ou da fase da vida em que se encontra. O suporte e o incentivo de amigos e familiares desempenham um papel fundamental no processo de recuperação, o amor e o apoio àqueles que nos cercam podem fornecer a motivação necessária para enfrentar os desafios da jornada rumo à sobriedade e ao bem-estar. Há sempre a possibilidade de esperança, força e oportunidade de construir um futuro mais saudável e pleno pela frente.
Fabrício Selbman é Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento, e também é:
- Formado em marketing e pós-graduado em gestão empresarial;
- Especialista em Dependência Química pela UNIFESP. Especialização na Europa sobre o modelo de tratamento Terapia Racional Emotiva (TRE);
- Psicanalista pela Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Professor de Especialização na Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento.